17 Setembro 2013
Depois de 500 anos de divisão, talvez dentro de 50 anos poderia chegar a unidade. É o renomado desejo que expressou o cardeal Agostino Bea, em 1963, em Trento, por ocasião do Congresso Internacional para celebrar os 400 anos desde a conclusão do Concílio de Trento.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 07-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A revelação é de um dos maiores historiadores daquele período, entrevistado pela revista pastoral dos dehonianos, Settimana, no número atual. Mons. Iginio Rogger – 94 anos, trentino, professor de história da igreja e liturgia por mais de 40 anos – revela um episódio ocorrido durante uma sessão, o dia dedicado ao encontro com teólogos e historiadores protestantes.
"Um encontro que muitos Padres conciliares também queriam há quatro séculos, mas que, por causas alheias à sua vontade, não ocorreu", explica Mons. Rogger, "porque, nesse meio tempo, ocorreu que as tropas protestantes romperam as linhas militares, invadiram Innsbruck e o vale do Inn, e o próprio imperador Ferdinando teve que fugir daqui para Brenner. Todos escaparam de Trento, e o encontro nunca aconteceu".
Mas no grande Congresso do outono de 1963 sobre o tema "O Concílio de Trento e a Reforma Tridentina", tinha sido deliberadamente inserida uma jornada ecumênica com a participação de um grande grupo de relatores protestantes. "Lembro a sessão presidida pelo cardeal Agostino Bea (ex-reitor do Pontifício Instituto Bíblico e pioneiro do ecumenismo), a quem foi perguntado: 'O senhor acha que finalmente se chegará a uma reunificação?'. 'Eu acredito que daqui a 100 anos poderia até acontecer', foi a resposta. Bea estava convencido da possibilidade de celebrar o quinto centenário da união, um período de tempo nada irrealista. 'Sem dúvida, é preciso um desenvolvimento no tempo', foi a resposta. Depois, em um certo ponto, quando alguém o interrogou sobre quanto tempo era preciso prever, o cardeal Bea se absteve de hipotetizar tempos breves, mas ele teve a coragem de dizer que, em 100 anos, isso poderia parecer viável. Um aplauso irrefreável foi a reação imediata".
Enquanto a história espera o próximo 500º aniversário da Reforma em 2017, Rogger lembra como é possível encontrar tudo isso – que parece ser hoje um bom presságio de sabor profético – nas Atas do Congresso.
É do ano passado (e essa foi a inspiração que levou à entrevista) o documento conjunto católico-luterano "Do conflito à comunhão", que afunda suas raízes em um longo processo de reaproximação, fruto de uma renovada metodologia histórica que realmente abre novas perspectivas de esperança. Um título que, para Rogger, "não podia ser melhor: o cardeal Koch sabe que o conceito de Igreja também é decisivo hoje".
E com relação à expressão já mencionada em várias partes: "Não contar uma história diferente, mas contar a história de forma diferente", ele responde como historiador: "Há modos e modos de ver a história. Lembro os tempos em que, para falar do Concílio de Trento, se partia rigorosamente de 1517. Para mim, tratou-se de uma surpresa e de um alargamento de perspectiva aprender com o maior historiador daquele concílio, Hubert Jedin, que o discurso não começa ali, mas há toda uma 'problemática da reforma' que preenche todo o século XV, para o qual a ruptura de Lutero não é tão perturbador quanto poderia parecer".
Prevaleceu um discurso sobre as indulgências que, banalmente, se resolvia em um problema de dinheiro, "uma tentação recorrente ainda hoje". Mas dele vem um caloroso convite a "pensar como historiadores, não como ideólogos, nem se trata de fórmulas de química".
Ao longo do século XX, nasceu aquela grande edição que se chama Concilium Tridentinum: nessa base, também foi amadurecendo ao longo dos anos a possibilidade de uma verdadeira História do Concílio de Trento, como a que foi elaborada pelo professor Hubert Jedin, padre e historiador de Breslau, uma coleção de documentos do Concílio de Trento editados segundo as regras rigorosas que, enquanto isso, tinham sido desenvolvidas pela metodologia histórica na cultura europeia. "Por seu mérito, aconteceu aquilo que nunca tinha acontecido antes: de uma situação realmente comprometida, nasceu a possibilidade de contar a história de forma diferente".
Mas como Lutero é considerado pelos católicos hoje?
"Essa nova metodologia histórica envolve uma consideração muito menos sectária da sua figura. No segundo período do Concílio de Trento, uma das questões debatidas era: convidamos os protestantes ou não? Sob que condições? Nas congregações, também se discutia sobre os aspectos litúrgicos: damos a Comunhão a eles ou não? Permitimos que eles celebrem conosco?"
No encerramento do Concílio, "prevaleceu o discurso apologético que ficou cristalizado até meados do século XX". "Hoje não é possível partir somente de Lutero", destaca Rogger, que lembra: "Se falamos de 'irmãos separados' é mérito da ideia de Igreja do Concílio Vaticano II. Heresia e cisma são definições abstratas: cisma sem heresia significa que não é determinante a questão da fé. Não é tarefa nossa enfatizar a incidência da rebelião de Lutero em um contexto individualizado. A história criou, depois, outras fraturas: o Vaticano I decretou a infalibilidade e a suprema autoridade do Romano Pontífice, e isso tornou mais árdua a retomada do diálogo. Depois, faltou uma séria atenção à Escritura".
Se, de um lado, os muitos gestos ecumênicos do papa, para Rogger, podem contribuir com o diálogo, de outro, "o que aconteceu nos últimos 50 anos é chocante até mesmo no campo eclesial, mas também os protestantes estão decisivamente mais cautelosos em definir e colocar limites".
E, em perspectiva, "toda a história da Igreja ainda está fortemente aferrada a esclarecimentos doutrinais. Os jesuítas, como o Papa Francisco, no entanto, tem toda uma tradição de abertura, disponibilidade, atenção, que não significa absolutamente indiferença ao ceticismo, mas sim uma maior disponibilidade ao tema da comunhão".
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Reconciliação com os luteranos: apenas uma questão de tempo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU