06 Julho 2018
Na sexta-feira, a segunda maior igreja de Roma sediará uma liturgia papal, embora não de forma habitual. Teodoro II (Tawadros II), Papa de Alexandria, no Egito, e Patriarca da Sé de São Marcos, celebrará a missa para a crescente comunidade de cristãos coptas-ortodoxos na cidade eterna.
Nesta foto de arquivo de 28 de abril de 2017, o Papa Francisco encontra o Papa Teodoro II, líder espiritual dos cristãos ortodoxos do Egito, na Catedral de São Marcos, no Cairo. (Foto: L'Osservatore Romano)
A reportagem é de Claire Giangravè, publicada por Crux, 05-07-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
"O papa Teodoro irá liderar a missa na Igreja de São Paulo Apóstolo, em Roma", confirmou o bispo Theophilus de Turenyo, em comunicado de imprensa do dia 1º de julho.
Esta não é a primeira vez que o Papa do outro lado do Mediterrâneo visitou Roma. Em março de 2013, Teodoro felicitou os cardeais católicos pela sua “escolha abençoada” em eleger o Papa Francisco. Desde então, os dois trocaram correspondência, incluindo um pequeno vídeo em que Teodoro desejou ao seu colega uma Feliz páscoa.
Francisco retornou o favor em abril de 2017, quando visitou o Egito, oferecendo ao mundo uma enorme quantidade de fotos dos dois pontífices abraçados, conversando, sussurrando e, às vezes, até mesmo rindo. Durante essa viagem, os Papas se manifestaram contra a perseguição dos cristãos no país e ao atual conflito no Oriente Médio.
Neste fim de semana, a Itália sediará um importante encontro na cidade de Bari, localizada na região sul do país, onde 19 líderes religiosos, a maioria patriarcas orientais ou chefes de Igrejas, irão se reunir para uma oração ecumênica a fim acabar com a guerra no Oriente Médio.
"Acreditamos e confiamos que a oração representa o maior poder para nos tirar de qualquer problema, resolver conflitos e iluminar nosso futuro em paz e reconciliação", disse Teodoro à agência de notícias italiana Sir, em 4 de julho. “Todos os chefes de igrejas deveriam se unir, orando por aqueles que estão lutando, como um incentivo para quem já perdeu as esperanças. É uma forma de preencher nossos corações com amor e compaixão”, completou.
O líder da Igreja Copta-Ortodoxa Egípcia também participará de uma oração para honrar os santos, Pedro e Paulo, no dia 8 de julho na Basílica de São Paulo, Extramuros.
Assim como Francisco, Teodoro tem um grande interesse no diálogo ecumênico e inter-religioso como chave para promover a paz. Sua política de “coração aberto” é baseada na formação e manutenção de relacionamento com todos.
Em agosto do ano passado, o Papa inaugurou a primeira Igreja copta no Japão. No mês passado, ele parabenizou todos os muçulmanos antes do Eid al-Fitr [Festa muçulmana que marca o fim do jejum do ramadã, nde].
Apesar de aberto ao diálogo com todos, o tipo de ecumenismo de Teodoro tem uma forte tendência nacionalista. Recentemente, ele classificou a ascensão do presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi como um "ato divino", apoiando suas reformas e iniciativas.
El-Sisi assumiu o Egito através de um golpe militar em 2013, desalojando um presidente eleito com o apoio da Irmandade Muçulmana.
Teodoro elogiou o plano de Bayt al Aelaa al-Masryaa (Casa da Família Egípcia, em português), que inclui atividades em diferentes centros religiosos para promover um espírito de unidade nacional e diálogo inter-religioso. Ele também é hostil à intervenção estrangeira no Oriente Médio, um ponto que ele já deixou claro antecedendo a oração ecumênica em Bari.
"Gostaríamos que o mundo compreendesse o fato do cristianismo estar profundamente enraizado na região do Oriente Médio. Por isso é importante pedir que entendam nossas tradições e os princípios em que vivemos", disse Teodoro a jornalistas italianos.
“Por favor, não interfiram em nossos assuntos internos, pois podemos resolvê-los em espírito de amor, com diálogo e compreensão ”, acrescentou.
Além das preocupações ecumênicas, a visita do Papa de Alexandria à Itália também promove interesses nacionais egípcios. Pela primeira vez, uma delegação italiana visitou o Egito em 17 a 21 de julho último, para refazer o caminho da Família Sagrada. Na ocasião, Francisco também se encontrou com o Papa Teodoro II.
“As terras do Egito foram abençoadas pelo caminho da Sagrada Família e a presença da Igreja Copta Ortodoxa no Egito desde o primeiro século”, disse o Papa à delegação, ressaltando a conexão histórica entre a Igreja Ortodoxa Egípcia e a civilização faraônica.
O embaixador egípcio na Itália, Hesham Badr, disse em comunicado de imprensa recente que a visita da delegação, e especialmente o encontro com Teodoro, dará um impulso significativo ao turismo egípcio e colocará o Egito no mapa como um destino seguro para peregrinações cristãs.
Segundo a comunidade copta-ortodoxa de Roma, existem 5 mil coptas ortodoxos que vivem na cidade, e 45 mil em toda Itália. O bispo Theophilus disse a repórteres que tais iniciativas são importantes para fortalecer o relacionamento entre os dois países.
Além disso, para aumentar o turismo e o interesse pelo Egito, se espera incrementar esse vínculo e realizar uma exposição de antiguidades egípcias e ícones coptas em Viterbo, na Itália.
Quando Francisco abençoou um ícone representando a Jornada da Família Sagrada no Egito, em um encontro com delegados egípcios em outubro do ano passado, a esperança era promover o turismo no país, que sofreu economicamente desde a revolução de 2011.
Os esforços feitos para “reanimar” a economia egípcia parecem estar funcionando. Porta-vozes do Fundo Monetário Internacional declararam que as reformas econômicas associadas ao aumento do turismo e à produção de gás natural, levaram a um crescimento “favorável” para mais populoso país árabe.
Uma questão importante para Francisco e Teodoro é o diálogo com os jovens. Francisco convocou um sínodo de bispos sobre a juventude, que acontecerá no Vaticano em outubro, com o objetivo de abordar as principais preocupações e interesses dos jovens em relação à fé e à vocação na atualidade.
Teodoro também lançou uma série de iniciativas voltadas para a juventude. Em sua ampla reforma do Santo Sínodo, a mais alta autoridade na Igreja Ortodoxa Copta, o Papa fez da fala aos jovens uma questão central.
"Para alcançar a paz, todo indivíduo deve a ter consigo mesmo", disse Teodoro. “Todos os ensinamentos errados de ódio e não-aceitação do outro devem ser banidos. Devemos ensinar as novas gerações a se amarem, aceitarem as diferenças e viverem numa comunidade repleta de diversidades”, acrescentou.
Seu grande interesse pelo diálogo com os jovens estará presente mais uma vez quando visitar a Basílica de São Paulo neste fim de semana. Depois de celebrar a missa, Teodoro se encontrará com alguns jovens, um marco do pontífice itinerante de 65 anos.
“Minha mensagem para eles é lembrá-los de orarem uns pelos outros e manterem um bom relacionamento espiritual com a Igreja, especialmente as crianças”, ressaltou.
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Teodoro II de Alexandria celebrará missa em basílica romana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU