27 Junho 2018
O presidente da comissão designada pelo Papa Francisco para estudar a história das diaconisas na Igreja Católica diz que o grupo não vai aconselhar o pontífice sobre a possibilidade de reinstaurar a prática de ordenar mulheres como diáconas.
"O Santo Padre não pediu que estudássemos se as mulheres podiam ser diáconas", disse o cardeal designado, Luis Ladaria. "O Santo Padre nos pediu para pesquisar e relatar de forma clara as questões... que estavam presentes no início da Igreja a respeito do diaconato feminino."
Ladaria, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, falou à imprensa no dia 26 de junho, afirmando que o "objetivo" de sua comissão é ponderar sobre o papel das mulheres como diaconisas nos primeiros séculos do cristianismo.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 26-06-2018. A tradução é de Luisa Flores Somavilla.
Também mencionou que não se sabe se as diaconisas tiveram o mesmo papel dos diáconos da época e se seu papel dependia das necessidades locais.
"Sabemos que na igreja primitiva havia as chamadas diaconisas", observou o cardeal.
"O que isso significa?", perguntou. "Eram como os diáconos homens? Ou não eram? Foi muito difundido ou foi algo local?"*
Ladaria, que é um dos 14 prelados que se tornará cardeal em uma cerimônia no dia 28 de julho, falou em uma conferência de imprensa organizada pela assessoria de imprensa do Vaticano.
O Papa instituiu a Comissão de Estudo sobre o Diaconato das Mulheres em agosto de 2016, indicando Ladaria para o cargo de presidente, juntamente com outros 12 membros. Os comentários do dia 26 de junho do prefeito parecem ser suas primeiras declarações públicas sobre a questão desde a nomeação para o grupo.
Sobre o que a comissão vai falar a Francisco, o prefeito doutrinal disse que "não nos compete" dizer ao Papa se deve ordenar mulheres como diáconas ou não hoje. "Não foi isso que o Santo Padre pediu, e não é esse o nosso trabalho", disse.
Para o cardeal, o que é o trabalho da comissão é "uma boa questão".
Enquanto a Igreja Católica afirmou várias vezes nas últimas décadas que não tem autoridade para ordenar mulheres como sacerdotes, muitos historiadores da Igreja têm dito que não há evidência suficiente do diaconato feminino nos primeiros séculos da Igreja.
O apóstolo Paulo menciona uma mulher, Febe, na carta aos romanos.
A Igreja Católica reinstituiu o papel do diaconato permanente no marco das reformas do Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965. O diaconato é geralmente aberto para homens casados com no mínimo 35 anos.
Eles são ordenados, assim como os sacerdotes, mas só podem realizar certos ministérios na Igreja.
Embora não possam celebrar missas, eles frequentemente lideram orações, celebram o sacramento do batismo e até atuam como administradores pastorais da paróquia na ausência do sacerdote.
Ladaria também mencionou, na conferência de imprensa, uma carta que escreveu no início do mês aos bispos da Alemanha, pedindo que eles anulassem as diretrizes nacionais propostas sobre a permissão de protestantes casados com católicos de receber a comunhão.
Com base nas observações de Francisco no avião papal de Genebra no dia 21 de junho, o cardeal disse que não estava "pisando no freio", mas chamando "à reflexão".
"Foi apenas um momento de reflexão sobre o fato de que este não é um ponto que compete a apenas um país ou uma diocese, mas uma responsabilidade da Igreja universal", afirmou.
"Um problema desses deve ser estudado em uma situação ampla, em toda a Igreja, e não apenas em nível local", acrescentou Ladaria.
"Não somos contra o ecumenismo", afirmou. "De jeito nenhum. Temos de considerar todas as implicações: a relação da Igreja Católica não apenas com os protestantes, mas com os ortodoxos e com outras igrejas e comunidades eclesiais, e não apenas na Alemanha, mas em todo o mundo".
A Igreja Católica em geral reserva a comunhão aos seus membros, pois a partilha do sacramento é um sinal de unidade na fé. Alguns cônjuges não católicos dizem, porém, que não poder receber a comunhão ao lado do parceiro cria um sentimento de exclusão.
O problema afeta a Alemanha mais do que muitos outros países, já que a comunidade cristã tem uma divisão proporcional entre católicos e luteranos.
Questionado sobre como vê seu papel como líder doutrinário da Igreja, Ladaria disse que entende que tem um trabalho de "promoção, proteção e defesa da fé".
Promover a fé, para o cardeal, significa "buscar garantir que a fé sempre possa ser mais conhecida, mais compreendida".
Defender a fé, observou, pode envolver "ação, se em algum momento temos que dar uma palavra de esclarecimento porque há algum problema que não está se resolvendo ou algum teólogo dizendo algo que possa não funcionar muito bem".
"Então temos de intervir e oferecer uma palavra de esclarecimento", disse o prefeito. "Mas queremos fazer estas intervenções sempre com diálogo, de forma discreta... Isso é muito importante."
*Este artigo foi atualizado para esclarecer que o cardeal Ladaria fazia perguntas sobre o papel das diaconisas na igreja primitiva.
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Carta aos alemães sobre a Intercomunhão: um 'chamado à reflexão' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU