31 Janeiro 2018
Em ação fora do comum, a sala de imprensa da Santa Sé emitiu uma declaração, na terça-feira, de que o Papa estava sendo "fielmente informado sobre as etapas do processo de diálogo" com a China. A declaração surgiu após acusações feitas pelo principal clérigo da China, na semana passada, de que o Vaticano estava "vendendo" católicos chineses depois de uma série de ações envolvendo bispos que visavam agradar a Pequim.
A informação é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 30-01-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
O cardeal Joseph Zen, crítico de qualquer reaproximação da Santa Sé com a China há muito tempo, viajou para Roma no mês passado para discutir o caso do bispo Peter Zhuang Jianjian, de 88 anos, que estaria cotado para ser substituído pelo bispo Huang Bingzhang, que foi excomungado em 2011 e tem laços estreitos com o partido comunista. Ele também levantou a questão do caso do bispo Joseph Guo Xijin, em comunhão com Roma, supostamente para se tornar coadjutor ao bispo ordenado ilicitamente Vincent Zhan.
Depois de levantar os dois assuntos numa audiência com Francisco, em 12 de janeiro, segundo Zen, o Papa disse que tinha avisado assessores sobre a "criação de outro caso Mindszenty". O cardeal húngaro Jozef Mindszenty foi o Arcebispo de Esztergom que buscou asilo na embaixada dos EUA em Budapeste, após franca oposição ao governo comunista. Porém, por pressão do governo, a Santa Sé pediu que ele saísse do país em 1971, e ele perdeu seu título.
No entanto, o relato de Zen do que o Papa lhe disse em particular, dando a entender que o Papa poderia estar mal servido ou mal aconselhado, pode ter provocado a resposta do Vaticano.
"O Papa está em contato constante com os seus colaboradores a respeito de questões chinesas, principalmente na Secretaria de Estado [liderada pelo cardeal Pietro Parolin], e é fielmente informado por eles... sobre as etapas do diálogo, que segue com atenção especial", dizia a declaração, antes do que pareceu uma repreensão a Zen: "Por isso, é surpreendente e lamentável que o contrário seja afirmado por membros da igreja, promovendo a confusão e a controvérsia".
Nada na declaração nega que se tenha chegado a um acordo entre representantes do Vaticano na China e o governo de Pequim sobre o chamado "intercâmbio" dos bispos.
"Eu estava lá, na presença do Santo Padre, representando meus irmãos em sofrimento na China. Suas palavras devem ser entendidas corretamente, como palavras de consolo e incentivo mais para eles do que para mim", declarou o cardeal em uma postagem no Facebook e em seu site pessoal.
"Acho que foi mais significativo e apropriado para o Santo Padre fazer esta referência histórica ao Cardeal Josef Mindszenty, um dos heróis da nossa fé".
Durante o papado de Paulo VI, o Vaticano adotou uma política de Ostpolitik, que foi uma tentativa de fazer acordos com poderes soviéticos a fim de melhorar as condições para os católicos.
A Santa Sé tem seguido uma abordagem semelhante para fechar acordos com Pequim em suas tentativas de restabelecer relações diplomáticas com a China, ainda que sob duras críticas do cardeal Zen e outros no processo.
O principal obstáculo para qualquer acordo entre a Santa Sé e a China é a nomeação de bispos, já que qualquer acordo pode envolver o reconhecimento por parte do Vaticano de bispos ordenados ilicitamente para a organização da Igreja controlada pelo Estado, conhecida como Associação Patriótica Católica Chinesa.
O cardeal Zen e os seus apoiadores têm se pronunciado em nome dos católicos clandestinos – leais a Roma – que sofreram perseguição religiosa.
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O Papa responde à acusação de Zen de trair bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU