25 Setembro 2017
O papa expressou pesar por ter sido “muito benevolente” em relação a um clérigo italiano que cometeu abusos, em vez de removê-lo do ministério e do sacerdócio.
A reportagem é de Robert Mickens, publicado por America, 22-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Eu aprendi com essa experiência e nunca mais fiz isso”, disse o papa aos membros da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, na última quinta-feira, 21 de setembro.
Em declarações abertas, o Papa Francisco admitiu, com uma sensação de vergonha, que a Igreja tem sido muito lenta ao lidar com os horríveis crimes de padres que abusam sexualmente de jovens e vulneráveis.
“A Igreja respondeu muito tarde”, disse o papa aos membros da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores.
“É um fato: respondemos muito tarde. Talvez (porque) a antiga prática de transferir pessoas adormeceu um pouco as consciências”, disse ele na quinta-feira, em um discurso de improviso a 17 pessoas que atualmente fazem parte da comissão que o aconselha sobre a prevenção aos abusos.
É bom que ele tenha dito isso. Mas esse “fato” dificilmente é uma revelação. Todos no mundo – exceto aqueles clérigos e leigos católicos que ainda estão excessivamente na defensiva – sabem que a Igreja institucional arrastou os seus calcanhares ao enfrentar o problema.
Mas o Papa Francisco não parou por aí. Ele foi ainda mais longe e assumiu pessoalmente a culpa pela sua própria irresponsabilidade, pelo menos em relação a um caso de abuso sexual.
O papa, que tornou a prática de estender e aceitar a misericórdia de Deus a pedra angular do seu pontificado, expressou pesar por ter sido “muito benevolente” em relação a um clérigo italiano que cometera abusos, ao invés de removê-lo do ministério e do sacerdócio.
“Mas, depois de dois anos, ele recaiu”, disse Francisco, dizendo à comissão que o incidente lhe ensinou uma lição importante: que não é possível ser leniente com os abusadores sexuais.
“Eu aprendi com essa experiência e nunca mais fiz isso”, disse o papa.
Ele também disse uma série de outras coisas importantes nessa reunião. Por exemplo, ele basicamente transformou em letra morta um protocolo legal que permite que os padres condenados apelem às penalidades impostas pela Igreja, prometendo que ele nunca emitiria um perdão executivo nem reduziria as sentenças para esses padres.
“Eu espero que isso fique claro”, enfatizou.
“Isso simplesmente porque uma pessoa que comete esse crime (abusos), seja homem ou mulher, está doente. A pedofilia é uma doença. Hoje, ela se arrepende, segue em frente, nós o perdoamos, mas depois de dois anos recai”, disse o papa.
Tudo isso é muito bem-vindo. Mas algumas pessoas vão questionar por que Francisco demorou tanto tempo para admitir isso. E, mais importante, muitos querem saber por que ele esperou três anos inteiros antes de realizar um encontro e uma discussão formais com a comissão que ele criou para aconselhá-lo sobre os abusos sexuais.
Eu não tenho uma resposta para nenhuma dessas questões.
Mas parece que a história mais importante aqui é que Francisco tomou uma ação decisiva para corrigir essa situação.
Isso mostra mais uma vez que – mesmo aos 80 anos de idade, um momento em que a maioria das pessoas se torna mais ajustada nos seus caminhos e se sentem confortadas em opiniões de longa data – esse papa tem a incrível capacidade de ouvir vozes diferentes, discernir cuidadosamente o que ele ouve e, se necessário, ajustar o seu pensamento e mudar.
Os católicos reformistas deveriam pensar sobre isso e não perder a esperança.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Um papa de 80 anos que ainda está aprendendo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU