15 Agosto 2017
Em Santa Marta, no Vaticano, onde o Papa Francisco está alojado desde sempre e onde há a homônima capela triangular desenhada por um arquiteto de Pittsburgh, há uma salinha muito austera, uma sacristia, para os encontros privados. Naquela pequena sala, no retorno da viagem à Colômbia, já no dia 12 de setembro, o Papa Francisco receberá o Conselho dos Cardeais, o chamado C9, que trabalha na reforma da Cúria. À mesa com os purpurados provenientes da Índia e do Congo, da Alemanha e de Honduras, dos Estados Unidos e do Chile, não estará o australiano Georg Pell, que voou de volta para a sua pátria para se defender das acusações de pedofilia e de estupro.
A reportagem é de Carlo Tecce, publicada por Il Fatto Quotidiano, 13-08-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O prefeito da Secretaria para a Economia – o ministro da Economia com o cargo congelado depois do indiciamento – enfrentou, no fim de julho, a primeira audiência do processo e aguarda a segunda para outubro. Ele não retornou ao Vaticano. E, talvez, nunca retornará.
O Vaticano lhe concedeu uma confiança midiática, e nada mais, sem isenções especiais. O cardeal Pell, que foi arcebispo de Sydney e de Melbourne, será impedido de dialogar com os colegas em videoconferência: isso não está previsto e não é tolerável. Jorge Mario Bergoglio não o removeu para não emitir uma sentença preventiva de condenação, mas está ciente de que o assento duplo – Secretaria para a Economia e C9 – não poderá permanecer vago por muito tempo.
Quando foi nomeado para pôr em ordem o dinheiro no Vaticano, com o mantra “mais transparência, mais controle”, Pell já era suspeito de não ter ajudado as vítimas dos sacerdotes. Antigamente, o Vaticano acolhia e protegia os prelados investigados por pedofilia. Agora, manda-os ao tribunal.
É o único resultado tangível do pontificado de Francisco. Porque a Comissão Internacional para a Proteção dos Menores, instituída há três anos por Bergoglio para tornar eficaz a ação de combate ao fenômeno dos abusos, sofreu deserções e polêmicas com a renúncia de Peter Saunders e de Marie Collins, ambos vítimas de sacerdotes quando jovens.
Dentre outras coisas, Collins deixou o cargo por obstrucionismo da Congregação para a Doutrina da Fé, o ex-Santo Ofício, do qual a comissão depende. E o Papa Francisco, apenas alguns meses atrás, demitiu justamente Gerhard Ludwig Müller, o prefeito da Congregação, ligado não apenas pela nacionalidade alemã comum com Dom Georg Gänswein, secretário particular de Bento XVI.
Ao contrário Pell, estará presente no C9 de setembro o cardeal Sean Patrick O’Malley, arcebispo de Boston, presidente da Comissão para a Proteção dos Menores e, desde janeiro, componente do ex-Santo Ofício. O’Malley deverá assumir novamente as atividades da comissão e propor – junto com Francisco – os novos membros.
O pontificado de Bergoglio, que goza de imensa popularidade no exterior e sofre muitas resistências na Cúria, deve superar o colapso da credibilidade sobre a delicada questão da pedofilia depois dos casos judiciários de Pell, a confusão em torno da comissão de O’Malley e o relatório alemão sobre os 547 casos de crianças maltratadas do Coro de Regensburg, dirigido por 30 anos por Georg Ratzinger, irmão do Papa Bento XVI. Havia também 67 abusados. Para o advogado que conduziu a investigação, “o padre Georg sabia” e, portanto, se calou. O Vaticano não o defendeu, ao contrário, definiu a notícia como “enorme” e “devastadora”.
Em setembro, o Papa Francisco deverá refundar a comissão contra a pedofilia e deverá resolver o dilema sobre Pell: quanto tempo será possível aguardar antes de indicar o substituto?
Além do cargo do australiano, deve ser reativada a função crucial da Auditoria Geral das contas, interrompida pela saída de Libero Milone, que rasgou um contrato longe do prazo final e provocou as costumeiras lendas vaticanas. Esta também, porém, foi uma escolha equivocada.
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Pedofilia: com Pell no exílio, papa refunda a comissão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU