27 Mai 2017
"Ao que tudo indica, tais esquerdas na América Latina debandaram para o centrismo liberal o que acaba por prejudicar a própria identidade de uma esquerda que em si, só pode querer, ainda que como pano de fundo, a transformação radical da sociedade", escreve Elaine Santos, socióloga e doutoranda em Sociologia no Centro de Estudos Sociais (Coimbra) sob a orientação do Prof. Dr. Boaventura de Sousa Santos.
Em um momento conturbado vivido no Brasil, uma mistura da decomposição do politicismo institucional e uma possibilidade de ânimo para que as lutas possam abrir um novo caminho no cenário à direita. No Equador toma posse Lenín Moreno, o presidente oriundo do Alianza País mesmo partido de Rafael Correa que se manteve dez anos no poder e saiu aclamado pela população. Nos parece obvio que o Equador não é o mesmo país de dez anos atrás, todavia, não temos como garantir que situação se mantenha, em seu último governo a economia já dava sinais de um certo esgotamento devido a baixa dos preços de petróleo no mercado internacional e sua dependência, que ainda é alta, deste combustível. Contudo, Rafael Correa saiu com 62% de aprovação de positiva segundo os dados de Opinião Pública.
Nas redes sociais o ânimo com o fim do correísmo não é o mesmo, depois que o ex-presidente mudou o tom do seu discurso e tomou medidas contrárias àquelas que estavam na Constituição de 2008 muitos movimentos começaram a se organizar para que ao menos a Constituição fosse cumprida.
Na última semana tiveram diversas campanhas ainda denunciando as debilidades do correismo, incluindo a criminalização dos movimentos sociais, algo que também ocorreu no Brasil. Na internet criaram a campanha “Amnistia Primeiro” que está vinculada a página <https://amnistiaprimeroec.org> demonstrando as condenações extremamente abusivas realizadas durante a última gestão, o número de condenados ultrapassa o total de 750 pessoas dentre estes 200 são indígenas. Pessoas comuns que exerciam suas lutas por direitos em várias frentes e principalmente pelo direito de resistir. Uma vez que estamos tratando de países em que a democracia parece nunca se consolidar, RESISTIR é o mínimo que podemos exigir. Correa se tornou uma personalidade, mas como bem nos lembra Mariátegui a obra do artista se apaga se não for realizada para a posteridade.
Ao que tudo indica, tais esquerdas na América Latina debandaram para o centrismo liberal o que acaba por prejudicar a própria identidade de uma esquerda que em si, só pode querer, ainda que como pano de fundo, a transformação radical da sociedade. A urgência de dar respostas ao neoliberalismo agonizante do período 1980 - 1990 nos levou a este ciclo, que agora parece se encerrar, ao menos no Brasil.
Nesta mesma toada e demonstrando como os nossos adversários se orquestram em recursos combinados para que a democracia seja mesmo liberal, burguesa e meritocrática, lembrei-me do livro “Confissões de um Assassino Econômico”, de Jonh Perkins consultor da NSA (Agencia Nacional de Segurança Estadunidense) o “assassino econômico” revela os mecanismos sórdidos de controle do Império de controle entre empresas e governos. Coincidentemente no dia da posse de Lenin Moreno em 1981 no dia 24 de maio, morria Jaime Roldós Aguilera em um estranho acidente de avião que nunca foi totalmente explicado. A tragédia é mencionada no livro de Perkins, Roldós iniciou seu governo quando o Equador saia do processo ditatorial em 1979, tal presidente teve um protagonismo curto na tentativa de consolidar uma democracia, era um democrata algo que até nos parece bem, perto das figuras desprezíveis com as quais nos deparamos em nossa política. Todavia, não chegou a consolidar seu projeto morreu “assassinado” em um acidente.
O novo presidente enfrentará muitos desafios, a partir da queda dos preços de petróleo em âmbito internacional ele enfrentará as vias abertas e conflitivas deixadas por Correa desde seu câmbio na forma de governar, evento que levou grande parte do setor indígena a votar em Paco Moncayo (candidato frente socialdemocrata da esquerda descontente com o governo Correa) na primeira volta das eleições, levando o candidato Lenín a segunda volta com o banqueiro Guillermo Lasso. Agora presidente Lenín já declarou que está aberto ao diálogo com a CONAIE – Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador, no primeiro momento e a partir de seus discursos o novo presidente quer trazer para sua beira os indígenas e os ecologistas novamente. Um bom estreio, contudo, realizando ou não tal intento, as lutas dos povos originários não cessarão apenas com discursos.
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Lenín Moreno assume o governo no Equador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU