07 Abril 2017
As eleições realizadas no último domingo no Equador apresentam uma situação que merece ser considerada para repensar o rumo dos projetos progressistas e revolucionários latino-americanos.
A reportagem é de Nuria Giniger e Rocco Carbone, respectivamente, pesquisadora CEIL-Conicet e pesquisador UNGS-Conicet, publicada por Página/12, 06-04-2017. A tradução é de André Langer.
Olhando da Argentina, pode parecer que a direita é capaz de ganhar eleições nas urnas. No entanto, os dados mostram que das 25 eleições presidenciais dos últimos 15 anos nos países com governos progressistas e revolucionários da América Latina, apenas uma vez o CEOliberalismo se impôs: a vitória de Macri. Nem em Honduras em 2009, nem no Paraguai em 2012, nem no Brasil em 2016, a direita se levantou de outra forma que não fosse através de golpes institucionais.
Neste sentido, nos perguntamos se efetivamente a ideia de “fim de ciclo dos progressismos” terminou. A vitória de Lenín Moreno coloca isto em tensão e realimenta a expectativa transformadora de nossos povos.
Com a vitória de Trump nos Estados Unidos, os golpes institucionais regionais e a ascensão do CEOliberalismo que desponta na Argentina, parece que, como propõe Álvaro García Linera, a direita recuperou a iniciativa. Mas os povos latino-americanos não partem da derrota para resistir nem reorganizar-se. De fato, há novas gerações que se somam às lutas políticas sem terem sofrido na própria carne o terrorismo de Estado e vêm com a experiência de terem se organizado em torno de políticas públicas implementadas pelos governos progressistas.
Em relação à direita latino-americana, queremos assinalar que, assim como com o Plano Condor se subordinavam de forma coordenada aos planos do imperialismo norte-americano, no contexto atual de crise capitalista, estas mostram novamente uma clara subordinação e coordenação que impacta sobre as condições materiais de existência das grandes maiorias latino-americanas. A prova se manifesta na coordenação de ações desestabilizadoras que tendem a reorganizar a hegemonia. Vimos isto nas últimas semanas na Venezuela e no Paraguai. Em ambos os casos, a instituição posta em estado de crise foi o poder legislativo. Desta emergência podem derivar-se uma serie de hipóteses acerca dos alcances e limites da democracia representativa na nossa região.
Em relação à vitória de Lenín Moreno no Equador, esta outorga às forças progressistas e de esquerda latino-americanas um novo estímulo para recuperar a iniciativa frente à disputa com os CEOliberalismos golpistas ou “democráticos”. O que devemos fazer para os nossos povos recuperarem a iniciativa? Na Argentina, concretamente, temos a expressão de uma frente nacional de entidades em processo de construção. Durante todo o mês de março, mais de um milhão de trabalhadores se mobilizaram em torno da abertura da Paritária Nacional Docente e outras reivindicações como o “Ni una menos”.
No entanto, depois da greve geral por todas as centrais sindicais para esta quinta-feira, 06 de abril, essa disputa deveria ser capitalizada politicamente. Como? A favor da construção de uma alternativa que possa dar sentido à luta antimacrista em direção a uma proposta emancipadora. Neste sentido, é necessário recuperar a capacidade de articulação política com as forças regionais que lutam contra a ofensiva da direita organizada em nível continental. A experiência limitada da ALBA propõe uma tentativa nesta direção, que vale a pena atualizar neste contexto, com maior ênfase e protagonismo popular. Em 2017, a grande disputa situa-se no terreno da Internacional. Um território nosso.
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Equador. Uma vitória que provoca expectativa regional - Instituto Humanitas Unisinos - IHU