03 Outubro 2016
“Apesar dos nossos limites e para além de qualquer distinção histórica e cultural sucessiva, somos chamados a ser ‘um só em Cristo Jesus’ e a não colocar em primeiro lugar as discórdias e divisões entre os batizados”. Ao lado do Papa Francisco, na antiga catedral patriarcal de Svetyskhoveli, em Tbilisi, está Elias II, patriarca georgiano. É o último dia da visita à Geórgia, mas também o dia do cancelamento da anunciada participação de uma delegação ortodoxa na missa celebrada pelo Papa no estádio da cidade. Uma decisão que foi comunicada no dia anterior e provocada pelas polêmicas entre os grupos conservadores no seio da Igreja ortodoxa georgiana.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 01-10-2016. A tradução é de André Langer.
No centro espiritual da Igreja georgiana, um prédio cuja forma atual tem mil anos e que domina a cidade do alto da colina, o Papa foi acolhido pelo Elias II, que foi receber o seu hóspede na entrada. Os dois líderes religiosos entraram juntos, dando-se as mãos, enquanto um coro cantava um canto tradicional. Nota-se a enfermidade e o sofrimento do Patriarca. Francisco e Elias pararam para rezar em silêncio diante da edícula de Santa Sidônia, onde, segundo a tradição, foi sepultada a santa com a preciosa túnica do Crucificado. Duas velas votivas foram acesas.
O Patriarca saudou Bergoglio e deu-lhe as boas-vindas “à mais antiga e importante igreja georgiana”, que guarda “a relíquia da túnica de Jesus”. Recordou a decapitação de “100 mil cristãos” em Tbilisi porque se negaram, “no século XIII, a pisar os ícones”. “Nossa unidade – concluiu – encontra-se na verdadeira fé e somente a verdadeira fé educa a humanidade. Gostaria de manifestar novamente, Santidade, meu profundo apreço e o amor fraterno para com você”.
Francisco, ao tomar a palavra, agradeceu aos ortodoxos georgianos por seu “comovente testemunho de fé, que tanto bem me fez. Também quero agradecer-lhes pelo coração bom dos georgianos”. “A história da Geórgia é como um livro antigo que, em cada página, fala de testemunhas santas – continuou o Bispo de Roma – e de valores cristãos, que forjaram a alma e a cultura do país. De igual modo este precioso livro narra gestas de grande abertura, acolhimento e integração. São valores inestimáveis e sempre válidos para esta terra e toda a região, tesouros que exprimem bem a identidade cristã, que se mantém como tal quando permanece bem fundada na fé e, ao mesmo tempo, se mostra aberta e disponível; nunca rígida ou fechada”.
“A mensagem cristã – continuou o Papa – (este lugar sagrado no-lo recorda) foi, ao longo dos séculos, o pilar da identidade georgiana: deu estabilidade no meio de muitos tumultos, mesmo quando – não raro, infelizmente – o destino do país foi o de ficar amargamente abandonado a si mesmo. Mas o Senhor nunca abandonou a amada terra da Geórgia”. Francisco, em seguida, referiu-se à relíquia mais preciosa que a igreja guarda: “A proximidade terna e compassiva do Senhor está aqui representada, de modo particular, pelo sinal da túnica sagrada”, que representa um “mistério de unidade” e “exorta-nos a sentir uma grande amargura pelas divisões que se foram consumando entre os cristãos ao longo da história: são verdadeiras e concretas lacerações infligidas na carne do Senhor”.
“Portanto – continuou Francisco –, apesar dos nossos limites e para além de qualquer distinção histórica e cultural sucessiva, somos chamados a ser ‘um só em Cristo Jesus’ e não a colocar em primeiro lugar as discórdias e divisões entre os batizados, porque verdadeiramente é muito mais o que nos une do que aquilo que nos divide”.
“Que as esplêndidas riquezas deste povo – concluiu o Pontífice – sejam conhecidas e apreciadas; que possamos, para enriquecimento comum, partilhar cada vez mais os tesouros que Deus dá a cada um e ajudar-nos mutuamente a crescer no bem. Possam a fraternidade e a colaboração crescer em todos os níveis; possam a oração e o amor fazer com que acolhamos cada vez mais o intenso desejo do Senhor a propósito de todos os que n’Ele creem por meio da palavra dos Apóstolos: que sejam ‘um só’”.
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Francisco a Elias II: não coloquemos em primeiro plano as divisões - Instituto Humanitas Unisinos - IHU