16 Mai 2016
Nos sábados o Papa Francisco, durante o Ano Jubilar, nas audiências públicas realizadas na Praça de São Pedro no Vaticano, aborda vários aspectos da misericórdia. No dia 14-05-2016, abordou o tema da piedade “que - segundo ele - não deve ser confundida com o pietismo, hoje muito difundido, que é somente emoção superficial e ofende a dignidade do outro” nem “com a compaixão pelos animais que vivem conosco. Muitas vezes acontece que temos este sentimento para com os animais e permanecemos indiferentes ante o sofrimento dos irmãos”.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 15-05-2016. A tradução é de IHU On-Line.
Nesta altura do discurso, Francisco deixa de lado o texto escrito e olha para o público e improvisa: “Quantas vezes vemos pessoas que estão tão ligadas aos gatos, aos cães, e deixam sem ajuda o vizinho, a vizinha que necessita ... Não é assim? Concordam?”
Não é a primeira vez que Francisco assinala este paradoxo. Há dois anos deplorou que os casais “que não querem ter filhos” e dizem: “Assim é melhor. É mais cômodo ter um cãozinho, dois gatos e o amor vai para os dois gatos e o cãozinho!”
O problema é a atitude para com o próximo humano e não com os animais domésticos. A piedade para Jesus é “partilhar a tristeza de quem encontramos e agir para transformá-la em alegria”. Segundo Bergoglio, “somos chamados a superar a indiferença que impede que se reconheça as exigências dos irmãos com quem vivemos e libertar-nos da escravidão do bem-estar material”.
Francisco é o Papa que escolheu o nome do santo de Assis e o cuidado da criação, inclusive os animais, dedicando a encíclica Laudato Si’, pedindo uma “conversão ecológica” e escrevendo: “Nós não somos Deus. A terra nos precede e nos foi dada... O objetivo final das criaturas não somos nós”.
A relação entre a fé cristã e o mundo animal é complexo e, muitas vezes, uma questão não resolvida na Igreja.
Numa outra catequese, no dia 26-11-2014, Francisco falou do Paraíso: “É bonito pensar no Céu. Todos nós nos encontraremos lá. Todos. A Sagrada Escritura nos ensina que o cumprimento deste desígnio maravilhoso diz respeito a tudo que nos cerca e que saiu do pensamento e do coração de Deus”.
De que modo se dá isso, é matéria de discussão dos teólogos.
Diz-se – mas isto nunca foi plenamente confirmado – que Paulo VI teria consolado um menino que chorava pela morte do seu cachorro lhe dizendo: “Um dia vamos rever os nossos animais na eternidade de Cristo”.
Também João Paulo II disse numa audiência, em 1990: “Alguns textos sagrados admitem que também os animais têm um hálito ou um sopro vital recebido de Deus”.
Uma perspectiva que Bento XVI – que tem um grande amor, particularmente, pelos gatos – parece esbarrar durante a homilia, há 6 anos: “Nas outras criaturas que não são chamadas à eternidade, a morte significa somente o fim da existência sobre a Terra...”
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‘Há pessoas que amam mais os animais que o seu próximo’, constata Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU