A reflexão é de Maria José Lopes, religiosa da Congregação das Irmãs da Divina Providência - IDP. Ela é bacharel em teologia pela Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF, possui formação em Saúde e Espiritualidade pelo Instituto de Cardiologia de Porto Alegre e pela ESTEF e Formação em Psicologia Pastoral pelo Centro Evangélico de Missão - CEM, Viçosa/MG. Atualmente atua em pastoral e formação bíblica em Jacundá, Pará.
Neste segundo domingo da quaresma a liturgia quer nos mostrar que nossa vida deve ser um contínuo caminhar com Jesus, tendo como exemplo Abraão que tudo deixa para seguir sua vida com Deus e deverá estar preparado para enfrentar, com ânimo, as dificuldades que encontrará na caminhada.
No evangelho deste segundo domingo, a Igreja nos propõe o texto da transfiguração de Jesus na montanha. A narração do que aconteceu naquele monte é construída a partir de elementos simbólicos tirados do Antigo Testamento.
O monte situa-nos num contexto de revelação: é sempre num monte que Deus se revela; e, em especial, é num monte (o Sinai) que Ele faz uma aliança com o seu Povo e dá a Moisés as tábuas da Lei
Lucas relata que Jesus subiu a montanha para rezar com três de seus discípulos: Pedro, Tiago e João ( 9, 28). Em seu evangelho, Lucas dá um grande destaque à oração de Jesus. Antes e depois de algo importante, Jesus reza: enquanto cura (5,16), antes de escolher os doze apóstolos (6,12) e antes de ensinar seus discípulos a rezar (11,1-2). Não é de estranhar que Lucas seja o único evangelista a dizer que Jesus se transfigura durante sua oração. A oração de Jesus é símbolo de comunhão: o poder de Jesus para operar milagres procede do Pai. Enquanto rezava seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias (9,30). A mudança do aspecto do rosto e as vestes “de uma brancura e brilhante”, recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex 34,29), depois de se encontrar com Deus e de receber as tábuas da Lei.
Moisés e Elias, as duas figuras do Antigo Testamento, que também aparecem no cenário da transfiguração de Jesus, representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); Lucas é o único dos evangelistas a dizer-nos que Moisés e Elias “falavam da morte de Jesus, que iria sofrem em Jerusalém” (9, 31).
Mas o elemento mais significativo é, sem dúvida, “a voz” que vem da “nuvem” (o espaço onde Deus se oculta). Essa “voz” dirige-se aos discípulos e declara solenemente: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que Ele diz” O próprio Deus “apresenta” Jesus e garante que Ele é “o Filho” que veio ao encontro do ser humano com um mandato do Pai.
Este segundo domingo da Quaresma nos convida: façamos, também nós, a experiência de subir com Jesus ao monte… Enquanto subimos, podemos conversar com Ele e, com toda a sinceridade, dizer-Lhe as nossas dúvidas e inquietações. E, depois de lhe dizermos tudo, deixemos que Jesus nos fale, nos explique o seu projeto, nos renove o seu desafio… E vamos, também, prestar atenção à voz de Deus que nos garante: que somos filhos e filhas amadas do pai. "Este é o meu Filho, o Escolhido: escutai o que Ele diz”. É verdade: precisamos de escutar Jesus mais e melhor. Quando o “escutamos” – quer dizer, quando ouvimos o que Ele nos diz, quando acolhemos no coração as suas indicações e quando procuramos concretizá-las na vida – começamos a ver tudo com uma luz mais clara. Começamos a perceber qual é a maneira mais humana de enfrentar os problemas da vida e os males do nosso mundo; damos conta dos grandes erros que os seres humanos podem cometer e descobrimos as soluções que Deus nos aponta… Escutar Jesus pode curar-nos das nossas cegueiras seculares, dos preconceitos que nos impedem de acolher a novidade de Deus, dos medos que nos paralisam; escutar Jesus pode libertar-nos de desalentos e covardias e abrir o nosso coração à esperança.
O chamado feito a Abraão - sua vocação - pode ser visto como o início do Povo de Deus. Nosso Patriarca vive bem em sua terra, possui mulher, família e muitos bens. Deus, ao convidá-lo para estar com Ele, solicita que deixe tudo e vá para onde Ele lhe indicar. Abraão obedece e parte com sua mulher e com seu sobrinho, empregados e bens.
Deus não apareceu a Abraão de um modo físico, palpável, e pronunciou palavras dirigidas a ele, mas Abraão possuía uma visão espiritual da realidade em que vivia. Ele sabia ler nos acontecimentos da vida a ação de Deus e entendia, refletindo na oração, o que Deus lhe pedia.
Abraão teve coragem de deixar o modelo de vida que lhe dava segurança e desacomodando-se seguiu em frente naquilo que o Senhor lhe pedia através de sinais entendidos na oração.
Todo pessoa que presta atenção nos acontecimentos da vida – que sabemos por jornal, rádio, televisão, internet, e principalmente naqueles que se referem diretamente à nossa vida particular – e apresenta tudo isso ao Senhor, para que, à luz do Espírito Santo, possa refletir, saberá quais os apelos de Deus para sua vida.
O salmista coloca no Senhor toda a sua confiança e proclama que o Senhor é minha luz e minha salvação
Paulo de Tarso pede aos cristãos da cidade de Filipos que não se limitem a uma vivência religiosa feita de práticas externas e de gestos vazios. Os crentes verdadeiros são aqueles que vivem de olhos postos no Senhor Jesus, aquele que “transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso”. Os filipenses e os cristãos de todas as épocas e lugares, devem caminhar para Ele sem hesitação, firmes na fé e guiados pela Boa Nova da salvação.
Paulo, passando pela cidade de Filipos, anunciou o Evangelho de Jesus aos Filipenses. Foi para eles como que um “treinador”, que os preparou para o desafio da vida cristã. Da sua parte, Paulo tem consciência de que ainda não alcançou o seu objetivo; sabe que a sua corrida continua, em direção à meta que é o encontro com o Senhor Jesus ( 3,12-14). E os filipenses? Paulo convida-os a terem os mesmos sentimentos que ele próprio tem e a continuarem a correr em direção a Cristo ( 3,15-16).