Por: MpvM | 26 Fevereiro 2021
"A Palavra de Deus ouvida e acolhida no discernimento, nos impulsiona a vivermos e convivermos na fraternidade e no cuidando com toda a vida que existe na terra. A “transfiguração de Jesus” nos coloca na trilha do mistério pascal de Cristo. Eis o mistério da vida! ”
A reflexão é de Maria Josete Rech, iens, religiosa da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora - IENS. Ela possui graduação em Teologia (1995), mestrado em Teologia Bíblica (2016) pela Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul - PUCRS e especialização em assessoria bíblica (2011) pela Escola Superior de Teologia - EST, São Leopoldo. Atualmente atua como agente de pastoral em Santo Antônio da Patrulha, na Diocese de Osório/RS.
Leituras do Dia
1ª Leitura - Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18
Salmo - Sl 115,10 15.16-17.18-19 (R. Sl 114,9)
2ª Leitura - Rm 8,31b-34
Evangelho - Mc 9,2-10
A liturgia da palavra, sobretudo no tempo quaresmal, nos convida a descobrirmos a beleza transcendente, na realidade em que vivemos.
Iniciamos nossa reflexão, pelo próprio Evangelho (Mc 9,2-10) que nos é dado neste 2º domingo do tempo quaresmal: o relato da Transfiguração de Jesus, conforme Mc 9,2-10, contextualizando no conjunto literário do evangelista Marcos , trazendo alguns aspectos significativos para refletirmos.
O olhando para os textos que antecedem a cena da transfiguração, encontramos Jesus dando continuidade a missão fora da Galiléia, em regiões estrangeiras. Marcos nos ajuda a compreendermos que o Reino de Deus, inaugurado por Jesus, é para todas as pessoas independente da etnia, raça, religião gênero, cultura e classe social.
É importante observar que a narrativa da transfiguração de Jesus se encontra entre os dois primeiros anúncios de sua paixão (8,27-30; 9,30-31). E Jesus, ao anuncia que vai ser rejeitado, sofrer muito e ser morto, completa seu anúncio afirmado claramente que ele, “depois de três dias, ressuscitará”(8,31; 9,31 e 10,34). Portanto, é dento deste contexto de paixão, morte e ressurreição que o relato da transfiguração de Jesus (Mc 9,2-10), precisa buscar o seu sentido. A própria perícope da transfiguração menciona a temática da “ressurreição dos mortos” (9,9). Então, aprofundarmos a cena da transfiguração de Jesus, destacaremos quatro aspectos, que considero relevante, relacionado com o relato da ressurreição de Jesus, no último capítulo de Marcos 16, 1-8.
O primeiro aspecto são os personagens nomeados, na transfiguração, “Pedro, Tiago e João”( 9, 2), e na ressurreição “Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé”. São pessoas de referência das primeiras comunidades cristãs. São testemunhas oculares, mulheres e homens, discípulas e discípulos de Jesus.
O segundo aspecto são os dois elementos que aparecem no relato da transfiguração: a “alta montanha” onde Jesus vai e é transfigurado (v.2) e a “nuvem (v. 7)que os envolvia. A “montanha” era o lugar de encontro com Deus e a “nuvem” o sinal de presença de Deus. Remetem ao Êxodo [19; 40,38 e 34,29-30], e a passagem da antiga aliança para a nova aliança. Jesus é o novo
Moisés, que nos traz libertação em plenitude.
Um terceiro aspecto está relacionado ao que acontece com Jesus. O texto nos diz que Jesus “foi transfigurado diante deles”(v.2). Jesus, á serviço da vontade do Pai, deixa-se transformar, permite que Deus age nele. Sua aparência se transforma, visivelmente: “suas vestes tornaram-se resplandecente, extremamente brancas”(v.3). Fato semelhante acontece na ressurreição de Jesus, quando um “jovem vestido com uma túnica branca” (Mc 16, 5) aparece às mulheres no túmulo vazio. As “vestes brancas” remetem a vida gloriosa de Cristo. O importante aqui não são as vestes branca em si, mas o seu significado: a Glória de Deus e a participação desta sua glória todos aqueles e aquelas que “perdem sua vida por causa do Evangelho” , como afirma Mc 9,34-35.
Quarto e último aspecto se relaciona voz que saiu do meio da nuvem e os envolvia: “Este é meu Filho amando: ouvi-o”(v 7b). Deus apresenta Jesus, o seu Filho amado, a quem doravante se deve ouvir , acolher e seguir, porque Ele é a Palavra viva de Deus, é a comunicação da verdadeira vontade do Deus [Pai].
O verbo “ouvir”, na bíblica, implica confiança e obediência a vontade de Deus, como nos aponta a leitura do Genesis ( 22,1-2.9-13.15-18), deste domingo. Abraão, ouve a voz de Deus e responde positivamente: “Aqui estou!”. Deus pede para Abraão o seu próprio filho. Abraão, porém, com pensamentos contraditórios, prepara o sacrifício de seu filho. Mas Deus “gritou” para Abraão, através do anjo: “Não estenda a mão contra teu filho e não lhe faças nenhum mal.” Abraão, portanto, ouviu e acolheu a voz de Deus. Compreendeu que Deus, no qual confia, é um Deus da Vida, e não um deus que quer sacrifícios humanos.
Em unidade ao Deus da Vida, somos inspiradas(os) a rezarmos o Salmo 115 (116Ba). A permanecermos junto de Deus , “junto da terra dos vivos” e não junto aos que destroem e matam a vida.
A Palavra de Deus ouvida e acolhida no discernimento, nos impulsiona a vivermos e convivermos na fraternidade e no cuidando com toda a vida que existe na terra. A “transfiguração de Jesus” nos coloca na trilha do mistério pascal de Cristo. Eis o mistério da vida! São Paulo, ao escrever aos Romanos 8,31-34, nos ajuda a esperançar, a alimentar a chama da fé em Cristo, Deus da Vida. E assim, com suas palavras encerro: “Se Deus está conosco, quem estará contra nós?”. “Deus que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos haverá de agraciar em tudo junto com ele?”
Vivamos confiantes e perseverantes, agraciadas e agraciado pelo no infinito amor de Deus!
Referências:
BIBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2003.
BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Paulus, 1990.
BIBLIA TRADUÇÃO ECUMENICA. TEB. São Paulo: Loyola,1994.
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2º domingo da quaresma - Ano B - Ouvir, acolher, seguir o filho amado de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU