11º Domingo do Tempo Comum – Ano A – A compaixão como causa do chamado

Foto: Cathopic

Por: MpvM | 16 Junho 2023

"Jesus vê a multidão e fica comovido, porque estão como ovelhas sem pastor. Este tema do pastoreio perpassa toda a história de Israel. A comunidade de Israel nutria grande desejo por um pastor bom e justo. Essa era uma promessa e eles esperavam um pastor com o coração de Deus: “Eu lhes darei pastores segundo o meu coração” (Jr 3,15). Desde sempre, portanto, o povo esperava um verdadeiro pastor que pudesse cuidar dos filhos e filhas da casa de Israel. Desejavam e esperavam um pastor que não roubasse, não se aproveitasse da lã, do leite, da carne das ovelhas, mas um pastor que conduzisse as ovelhas por bom caminho ( Ez 34). Aqui podemos recordar todas as passagens do Primeiro Testamento que evocam a imagem do verdadeiro pastor: “Ele é o verdadeiro pastor (Gn 49,24),conduz José como rebanho (Sl 80,2), carrega as suas ovelhas (Sl 28,9), guia-as (Sl 77,21), reúne o resto (Jr 23,3), guarda a Israel (Jr 31,10), restaura Israel nas suas pastagens (Jr 23,3; 50,19); Iahweh, como pastor israelita, é descrito no clássico Sl 23,1-4. Ele é o pastor da restauração messiânica, que reúne os perdidos, conduze-os à sua própria pastagem, pensa as suas feridas, guarda-os na ordem e na paz (Ez 34,11-22)."

A reflexão é de Maria Letícia de Resende, fmvd. Ela é missionária consagrada da Fraternidade Missionária Verbum Dei. Ela possui graduação em Teologia (2000) pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica RS (PUCRS) e Mestrado em Direito Canônico (2011 ) pela Pontificia Universidade Gregoriana/ Roma - Italia. Atualmente ela é a Coordenadora da Fraternidade Missionária Verbum Dei de três países (Argentina, Brasil e Chile) e atua na pastoral na comunidade eclesial de Vila Alpes/BH.

Leituras do dia

1ª leitura - Ex 19,2-6a
Salmo - Sl 99(100),2.3.5 (R. 3c)
2ª leitura - Rm 5,6-11
Evangelho - Mt 9,36-10,8

Primeiramente, a minha saudação a todos e todas que acompanham a partilha da palavra de Deus por esse meio.

Estamos na 11ª semana do Tempo Comum, na qual nos encontramos com o Evangelho de Mateus (Mt 9,36-10,8). Olhando o primeiro versículo do evangelho proposto para o dia de hoje, “Jesus percorria todas as cidades e aldeias ensinando em suas sinagogas proclamando a boa notícia do reino e curando todo tipo de enfermidades e doenças” (Mt 9, 35), podemos pensar no coração universal de Jesus: todas as pessoas fazem parte do seu projeto de salvação. Na sua missão, ele deixa explícito que ninguém fica do lado de fora, pois todos e todas são chamados a receber a mensagem do Reino. Jesus é o incansável missionário: todo e qualquer lugar é lugar de missão, de anúncio da Boa Nova.

A continuidade da leitura de Mateus nos deixa ver a compaixão de Jesus pelo povo: “Vendo a multidão, comoveu-se por eles, porque andavam maltratados e prostrados, como ovelhas sem pastor” (Mt 9, 36) Ele sente a dor do povo, como Moisés no deserto que, ao encontrar-se com Deus, percebe que o Senhor escuta, ouve, vê e sente a opressão do povo; por isso, desce para libertá-lo (Ex 3, 7-8). Não existe missão sem encontro com a realidade: Quando percebe que o povo, na sua vulnerabilidade e fragilidade, ainda está sendo maltratado por um sistema opressor que trata a maioria das pessoas somente como moeda para enriquecimento próprio, Jesus, em contraposição, usa expressões carinhosas, mostrando que sente junto com o povo a sua dor.

Não é possível sentir a dor do irmão ou irmã sem aproximar-se da sua realidade, sem tocá-la e, minimamente, perceber que existe. Muitas vezes colocamos uma parede diante dos nossos olhos para não enxergar a realidade, seja porque não a queremos ver, seja por incapacidade de lidar com ela própria. “Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios; já não choramos à vista do drama dos outros nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incube” (Evangelii Gaudium, 54).

Jesus vê a multidão e fica comovido, porque estão como ovelhas sem pastor. Este tema do pastoreio perpassa toda a história de Israel. A comunidade de Israel nutria grande desejo por um pastor bom e justo. Essa era uma promessa e eles esperavam um pastor com o coração de Deus: “Eu lhes darei pastores segundo o meu coração” (Jr 3,15). Desde sempre, portanto, o povo esperava um verdadeiro pastor que pudesse cuidar dos filhos e filhas da casa de Israel. Desejavam e esperavam um pastor que não roubasse, não se aproveitasse da lã, do leite, da carne das ovelhas, mas um pastor que conduzisse as ovelhas por bom caminho ( Ez 34). Aqui podemos recordar todas as passagens do Primeiro Testamento que evocam a imagem do verdadeiro pastor: “Ele é o verdadeiro pastor (Gn 49,24),conduz José como rebanho (Sl 80,2), carrega as suas ovelhas (Sl 28,9), guia-as (Sl 77,21), reúne o resto (Jr 23,3), guarda a Israel (Jr 31,10), restaura Israel nas suas pastagens (Jr 23,3; 50,19); Iahweh, como pastor israelita, é descrito no clássico Sl 23,1-4. Ele é o pastor da restauração messiânica, que reúne os perdidos, conduze-os à sua própria pastagem, pensa as suas feridas, guarda-os na ordem e na paz (Ez 34,11-22).

Jesus se posiciona como o bom pastor e deseja que todas as pessoas possam viver plenamente: “eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente” (Jo 10,10). O bom pastor não teme sair da sua zona de conforto, está disponível para ir ao encontro do seu rebanho. é necessário, como diz o Papa Francisco, sermos um “Igreja em saída”.

O convite do Papa Francisco para uma “Igreja em saída” é a marca predominante do seu pontificado, que deseja ver renascer na Igreja nova experiência de fé cristã missionária, fundamentada no evangelho, de modo que a mensagem da salvação chegue realmente a todos, sem exclusão. Para Francisco, a transmissão da fé não se resume numa desarticulada difusão de uma imensidade de doutrinas, mas no testemunho da fé em Jesus Cristo, principalmente entre os mais pobres e fragilizados da sociedade. Com a “Igreja em saída”, Francisco deseja redescobrir na experiência de fé a dimensão Povo de Deus, povo que caminha de acordo com o projeto de amor do Pai. Por isso, a Igreja precisa entender que a sua missão não é fechar-se em si mesma ou em grupos de elite, mas ir ao encontro dos que andam perdidos, das imensas multidões sedentas de Cristo”. [2]

Para que isso aconteça, Jesus sugere: pedi ao dono da messe que envie pastores, operários, colaboradores, trabalhadores (dependendo das traduções) para a sua colheita. O importante é que sejam capazes de expulsar demônios, isto é, de promover a vida na sua totalidade. Jesus nomeia doze, lembrando as doze tribos de Israel. Aparecem só os homens, mas com certeza também mulheres. Que a vida de cada apóstolo e apóstola possa oxigenar o ambiente onde se encontra. Dar a Vida como o Mestre e seguir seus passos.

Não basta ter nosso o nome na lista (ali aparece também Judas que o traiu); é necessário que esse chamado permaneça na fidelidade de um sim a cada dia, muitas vezes vulnerável, que nem sempre responde na totalidade. Importante manter-se no sim e, para isso, escutar e obedecer a “palavra que é lâmpada para os pés, luz para o nosso caminho” (Sl 118, 105). Todos foram chamados a serem pastores que expulsem demônios, curem as enfermidades. Ele nos chama, envia e pede que não estejamos estagnados, que estejamos em contato com o mundo e possamos sentir profundamente os seus anseios mais profundos. O que nos pede Jesus: levar a boa notícia desprovidos de bens, não acumulando nada. Tudo o que temos é graça de Deus e devemos entregá-lo gratuitamente.

Notas

[1] (MICKENZE, J. L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1984. p. 698).

[2] DANTAS, Erivaldo, “Por uma Igreja em saída” Revista Vida Pastoral, jan.–fev. 2020, ano 61, n. 331, p. 30.

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