Por: MpvM | 07 Dezembro 2018
"Diante dos apelos de João Batista somos também chamados a nos perguntar: 1) Qual “vereda” é preciso endireitar na minha vida? 2) Quais “vales”, “montanhas”, “colinas” estão dificultando o meu encontro com o/a outro/a? 3) Quais “caminhos” acidentados precisam ser aplainados em minha família, comunidade e na sociedade para acolher o Senhor que vem?"
A reflexão é de Regina Candida Führ, sc religiosa da Congregação das Irmãs de Santa Catarina. Ela é possui graduação em teologia pela Escola de Espiritualidade Franciscana - ESTEF, Porto Alegre (1991, licenciatura em pedagogia pela Universidade Feevale, Novo Hamburgo (1997), mestrado em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, São Leopoldo (2002), doutorado em Teologia pela Escola Superior de Teologia, EST, São Leopoldo (2011), pós- Doutorado em Educação pela - Florida Christian University - FCU, Flórida (2018).
Referências bíblicas
1ª Leitura: Bar 5,1-9
Salmo 125 (126)
2ª Leitura: Filip 1,4-6.8-11
Evangelho: Lc 3,1-6
A liturgia deste 2º domingo do advento apresenta o anúncio da salvação. A profecia de Baruc (5,1-9) anuncia a salvação por meio da vinda de Deus que vem refazer sua aliança com o povo através da misericórdia e da justiça (v.9). A segunda leitura da carta de São Paulo aos Filipenses (1,4-6,8-11) afirma que a salvação é um dom anunciado a todos, mas requer uma mudança de mentalidade marcada pelo amor fraterno (vv.9-10). O Evangelho segundo São Lucas (3,1-6) nos convida a trilhar o caminho da conversão para acolhermos a salvação que virá por meio de Jesus Cristo.
O texto de Baruc (Br 5,1-9), na primeira leitura, descreve um oráculo de salvação e de consolo para Jerusalém após a realidade do exílio em que muitas vezes o povo apresentava atitudes de revolta contra Deus, considerando-o responsável pela desgraça e pela destruição da cidade e de seu povo. Em outros momentos, este mesmo povo reconhecia a sua culpa.
As imagens apresentadas no texto pelo autor retratam a opressão do império babilônico, a deportação dos habitantes de Judá e o retorno do exílio. Essas imagens retratam uma relação de casamento, de aliança de Deus, que, nesse contexto, assume o papel de Pai criador e que ensina aos seus filhos. O comportamento infiel dos filhos (povo) provoca a ira de Deus, por isso os castigou com o exílio.
Jerusalém representa a mãe inocente, a esposa abandonada pelo Senhor, a viúva que sofre com a infidelidade de seus filhos. Como não foi ouvida pelos seus filhos, Jerusalém vive a sofrida realidade do abandono e da desolação.
Diante da realidade sofrida do exílio, Deus anuncia, por meio do profeta, a libertação a Jerusalém convidando-a a se levantar do pó, encerrar o luto, revestir-se do esplendor e da glória do Senhor e envolver-se com sua justiça (v. 5). Assim inicia uma nova relação entre Deus e o povo. A cidade recebe um novo nome – “Paz na justiça, Glória na piedade” (v.4) - cuja identidade será selada pelas relações humanas marcadas pela justiça, que terá como fruto a paz.
O profeta anuncia a eliminação de todos os obstáculos (v.7) e o retorno seguro do povo, contando com a proteção, com a justiça e com a misericórdia de Deus (vv.7-9). Este Deus guiará o povo como um pai amoroso e misericordioso que não abandona seus filhos, apesar de suas infidelidades.
Paulo, na Carta aos Filipenses (Fl 1,4-6.8-11), manifesta seu afeto, seus sentimentos e deixa transparecer o tema da alegria. O apóstolo exprime seu louvor pela participação da comunidade no anúncio do evangelho, agradece a perseverança do povo e afirma que a obra na qual a comunidade está empenhada pertence a Deus que a conduz até a parusia (v.6).
Paulo também intercede em favor da comunidade, tendo como preocupação a vivência do amor, não como mero sentimentalismo, mas um dom discernido e refletido que impulsiona a comunidade a sair de si e ir ao encontro do outro. Este amor nasce da experiência profunda do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo.
A mensagem do Evangelho (Lc 3,1-6) consiste em apresentar a pessoa de João Batista e sua missão, explicitando a missão de Jesus Cristo e o início da nova história inaugurada por Ele. Os vv. 1-2 apresentam o panorama da situação política da Palestina, dominada pelo império romano e suas lideranças religiosas. No v.2 o evangelista introduz o personagem João, que recebe a missão de pregar um batismo de conversão para o perdão dos pecados (v.3). As informações históricas e da missão de João nos mostram que não é o poder político e religioso que estão no centro da história e dos acontecimentos, mas a Palavra de Deus revelada por João anuncia um novo tempo que será inaugurado por Jesus.
O deserto (v.2) nos remete à experiência do êxodo como a nova realidade que será inaugurada por Jesus Cristo, uma experiência de libertação de toda a opressão (vv. 1-2), em direção à terra prometida.
Lucas apresenta João como um profeta que tem a missão de preparar o povo para acolher o Messias Jesus. João anuncia um batismo de penitência, de mudança de estilo de vida, de perdão, que consiste em retomar um relacionamento justo com Deus e com o próximo. Esta mudança interior tem em vista eliminar todos os obstáculos à comunhão com Deus e com o próximo (vv. 4-6) que se expressam através da opressão social (os vales); as potências políticas e religiosas que oprimem e exploram (as montanhas, as colinas e as passagens tortuosas); ou a ruptura do relacionamento com o outro por meio da injustiça.
O v.6 indica que a salvação de Deus que será vista por toda a humanidade é Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ela é concedida a todas as pessoas como um dom, mas deve ser acolhida por meio da mudança de mentalidade.
Pistas para a reflexão
Lucas situa no decurso da história humana o despontar do Reino de Deus, na atividade do precursor, João Batista. Ainda não se enxerga o “Sol da Justiça”, mas seus raios já abrasam o horizonte. A perspectiva é ainda distante, mas segura: “Toda a humanidade enxergará a salvação que vem de Deus” (Lc 3,6). Para isso, João Batista prega um batismo de conversão, uma mudança radical de mentalidade e de estilo de vida. A citação de Isaías, mencionada no evangelho de São Lucas, nos convida a preparar as veredas do nosso coração, aplainar os caminhos acidentados de nossa sociedade marcada pela violência, pelo ódio, pela intolerância e proclamar a salvação que vem de Deus e se revela em Jesus Cristo.
Diante dos apelos de João Batista somos também chamados a nos perguntar: 1- Qual “vereda” é preciso endireitar na minha vida? 2- Quais “vales”, “montanhas”, “colinas” estão dificultando o meu encontro com o/a outro/a? 3- Quais “caminhos” acidentados precisam ser aplainados em minha família, comunidade e na sociedade para acolher o Senhor que vem?
Neste final de semana somos, também, convidados/as para que, a exemplo de São Paulo, possamos agradecer por todo bem realizado por nossas comunidades, pela perseverança de cada cristão, e contemplar a alegria da salvação dada a todos, sem distinção.
Que no tempo do advento possamos ouvir a voz de Deus que nos chama a fazer momentos de “deserto” que podem acontecer em diferentes cenários: na oração, no perdão, na convivência fraterna, na novena do Natal em família, nos gestos de solidariedade.
Enfim, Deus convida a cada um/a de nós, a exemplo de João Batista, para preparar os homens e as mulheres de hoje, para a vinda do Cristo no Natal. Somos chamados/as a sermos a voz profética da esperança, que aponta um caminho novo para a humanidade sofrida que vive no “deserto” da vida como escrava de tantas opressões.
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2º domingo do Advento - Ano C - Preparai o caminho do Senhor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU