Um Cristo mutilado, símbolo doloroso da guerra, é abençoado pelo Papa Francisco na Colômbia

papa Francisco em sua fala junto à imagem do Cristo de Bojayá | Foto: Efraín Herrera / SIG

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09 Setembro 2017

A sua figura, reduzida a um tronco de cor escura com a cabeça reclinada, torna ainda mais forte o sofrimento terreno e o sacrifício realizado em nome das pessoas. É o Cristo mutilado que será apresentado ao Papa Francisco em Villavicencio, onde o pontífice o abençoaria antes da missa pela reconciliação dessa sexta-feira à tarde, um dos momentos mais esperados da sua visita pastoral.

A reportagem é de Francesco Gagliano, publicada por Il Sismografo, 08-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Esse crucifixo – sem braços nem pernas – traz os sinais da guerra civil. Assim como o povo colombiano que se reuniu nessa sexta-feira para ouvir a homilia do pontífice, a sua história está embebida nos mesmos sofrimentos sofridos pelos colombianos em mais de 50 anos de guerrilha.

Foto: César Romero / CNMH

Era o dia 2 de maio de 2002, quando um comando de guerrilheiros das Farc irrompeu no vilarejo de Bojayá, atingindo os civis nas ruas e lançando uma bomba na igreja, onde muitos haviam se refugiado. Luz Marina Cañola, testemunha do ataque, conta que 79 pessoas perderam a vida, muitas das quais eram suas amigas. No chão, junto com as vítimas, ficou também o crucifixo.

A explosão e as metralhas espalhadas privaram-no dos braços e das pernas, desconectado da cruz sobre a qual morreu pelo gênero humano. A comunidade de Bojayá, posteriormente, restaurou a escultura, deixando evidentes os sinais do ataque, para que esse gesto vil nunca seja esquecido.

Agora, a guerra civil terminou. Em novembro passado, as ex-Farc assinaram os acordos de paz com o governo, mas, ainda dois meses antes, durante uma cerimônia privada, as Forças Armadas Revolucionárias pediram perdão aos habitantes de Bojayá por aquilo que havia sido cometido 15 anos antes.

“Devemos nos colocar uns no lugar dos outros”, declarou Marina Cañola, que, em setembro de 2016, havia cantado junto com o coro de Bojayá para saudar os primeiros acordos assinados, “porque, se não formos capazes de perdoar, não poderemos encontrar a reconciliação”.

Sem apagar a memória do que aconteceu, os moradores de Bojayá estão prontos para perdoar os seus agressores e a ver no Papa Francisco aquele que está apoiando e acompanhando o povo da Colômbia no longo caminho para a paz.

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