21 Julho 2017
A Colômbia, que o Papa Francisco irá visitar de 6 a 11 de setembro, é um país que entrou em uma nova fase histórica, ainda que haja muitas incógnitas e incertezas: o desarmamento das forças armadas do mais importante e antigo grupo armado da América Latina e, em seguida, como esperam milhões de colombianos, o fim da guerra civil que começou há mais de meio século.
A reportagem é de Luis Badilla e Francesco Gagliano, publicada por Vatican Insider, 20-07-2017. A tradução é do Cepat.
Parece incrível que este terrível conflito, que custou a vida de ao menos 220.000 pessoas, tenha sido resolvido (ao menos do ponto de vista político e jurídico) não mediante a “via militar”, como há décadas pregava uma parte da política colombiana, mas, sim, com o uso paciente do diálogo, no qual o presidente Juan Manuel Santos nunca deixou de acreditar (e, às vezes, contra toda a esperança), razão pela qual recebeu o Nobel da Paz, em 2016. É preciso ressaltar que este desafio do presidente Santos sempre teve, em público e em particular, o apoio do Papa Francisco e do episcopado local, que teve no complexo processo de negociação (que começou entre 2011 e 2012 e culminou no encontro de 2016, em Havana, Cuba, entre Santos e o líder das FARC, Timochenko) um papel relevante e fundamental.
Os dois próximos novos beatos, dom Jesús Emilio Jaramillo Monsalve e o padre Pietro María Ramírez Ramos, que o Papa proclamará na Colômbia, são símbolo dos anseios da nação colombiana: verdade, justiça e reconciliação, após 70 anos de guerra civil cruel e ininterrupta, que provocou mais de 550.000 mortos. A celebração eucarística com duas beatificações, que Francisco presidirá no dia 8 de setembro na cidade de Villavicencio, será a alma da vigésima viagem internacional do Pontífice. O Papa deseja acompanhar, o mais perto e visivelmente possível, não só o frágil e complexo caminho para uma paz duradoura e autêntica que o povo colombiano empreendeu, como também pretende que todas as vítimas, quase sempre civis inocentes, sejam o centro deste processo.
A Colômbia, com os Acordos de paz assinados com a ex-guerrilha das FARC, em outubro do ano passado, não apenas pretende encerrar os anos da violência política e ideológica dos enfrentamentos com os grupos armados marxista-leninistas, que começaram durante os primeiros anos da década de 1960, como também as múltiplas “heranças” do período anterior (de 1948 a 1958), década conhecida com o nome “A Violência”, durante a qual o Partido Conservador e o Partido Liberal se enfrentaram com as armas. Esta primeira década de sangue não se encerrou nem sequer após a assinatura de um acordo entre os dois partidos e o retorno à democracia. De 1948, ano do assassinato do líder liberal católico Jorge Eliecer Gaitán, causa que desencadeou a guerra civil, até há pouquíssimos meses, passaram-se quase 70 anos; os mortos foram mais de 500.000, dos quais 220.000 perderam a vida entre 1960 e 2016.
A Colômbia será a sexta nação da América Latina a receber a visita do Papa Francisco, desde que começou seu Pontificado (1). Com esta viagem, o Papa completará nestas terras latino-americanas um arco temporal singular: 27 dias de ministério petrino em sua terra, tão amada e profundamente conhecida por Francisco. Bergoglio visitou frequentemente a Colômbia, durante suas atividades no Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), cuja sede, desde sua fundação, no longínquo 1956, fica na capital colombiana Santa Fé de Bogotá.
Há cerca de seis meses, a Colômbia é um país “a caminho da paz”. Parece que agora, apesar das poderosas resistências, tanto interiores como exteriores, o processo consolidou sua posição irreversível, uma condição que o Papa Francisco, ao voltar de sua viagem de Azerbaijão (no dia 2 de outubro de 2016), disse que era essencial antes de se comprometer a realizar sua visita apostólica. “Eu gostaria de ir quando tudo estiver “blindado”, disse.
E agora chegou o momento. A pacificação está ocorrendo e todas as suas condições principais e estratégicas foram respeitadas, tanto por parte do governo, como por parte da ex-guerrilha. O apoio da ONU e várias nações amigas também funcionou bem. Mas, para que este processo seja ainda mais incisivo e definitivo faltam algumas condições: a primeira é um Acordo de Paz com o segundo grupo armado, o Exército de Libertação Nacional (ELN), e isto depende dos progressos entre as partes que estão em negociação no Equador.
A segunda condição talvez seja a mais difícil, como demonstram algumas das recentes pesquisas: que a maior parte do povo colombiano adquira uma consciência séria e duradoura de que a paz é necessária e urgente e, sobretudo, que abandone dois sentimentos muito difundidos: por um lado, o fatalismo dos que nasceram e cresceram na violência e, portanto, a consideram normal; por outro, a desconfiança na política e nos políticos que, durante muito tempo, juntaram suas fortunas eleitorais utilizando a guerra e a paz como artifício demagógico.
A presença e o magistério do Papa em quatro cidades importantes e estratégicas do país (Bogotá, Villavicencio, Medellín e Cartagena) também será, certamente, determinante para superar estes atrasos, algo considerado essencial pelos bispos colombianos para alcançar uma paz verdadeira, autêntica e sólida.
(1) Viagens à América Latina:
- Brasil (22-29 de julho de 2013)
- Equador, Bolívia e Paraguai (6-12 de julho de 2015)
- Cuba (19-22 de setembro de 2015)
- México (12-18 de fevereiro de 2016)
- Colômbia (6-11 de setembro de 2017)
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Chile - Peru (15-21 de janeiro de 2018)
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Francisco na Colômbia, país suspenso entre a guerra e a paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU