13 Março 2019
Na quinta-feira passada, após ser condenado a seis meses de prisão, com liberdade condicional, em Lyon por não ter denunciado atos de pedofilia, o cardeal Philippe Barbarin anunciou que apresentaria sua renúncia ao Papa. Uma renúncia que ainda deve ser aceita pelo Pontífice, mas que já levanta muitas questões.
Christian Terras, fundador da revista Golias, aceitou responder às perguntas de 20 Minutes.
A entrevista é de Elisa Frisullo, publicada por 20 Minutes, 11-03-2019. A tradução é de André Langer.
Desde que fez o anúncio, a renúncia que o cardeal Barbarin deve apresentar ao Papa nos próximos dias levanta muitas questões. Na diocese de Lyon, que nos últimos três anos vive um ambiente conturbado devido a este escândalo de pedofilia e as divisões que dele resultaram, muitos se perguntam como a Igreja de Lyon, e, de maneira mais geral, a Igreja da França, vai administrar esta crise. E superá-la. Para nos esclarecer a situação, 20 Minutes entrevistou Christian Terras, fundador da revista católica progressista lionesa Golias.
Após a condenação por não denunciar atos de pedofilia, o cardeal Barbarin anunciou que apresentaria sua renúncia enquanto entrava com recurso no tribunal. Como você analisa essa situação?
O cardeal Barbarin entrou com recurso porque ainda está negando o que aconteceu. Ele se recusa a admitir qualquer responsabilidade no caso Preynat. Durante todo o julgamento, em janeiro, ele repetiu isso ao presidente do tribunal, afirmando em várias ocasiões que não havia feito nada de errado nesse caso de pedofilia. Quando anunciou sua renúncia, ficou claro que estava fazendo isso mais por despeito do que em relação ao julgamento.
Ele se viu obrigado a renunciar?
Ele está preso. Ele não tinha mais escolha. Ele foi tragado por esta história, na qual ele se comprometeu de maneira irresponsável. A opinião pública subiu o tom sobre a maneira como ele lidou com esse problema. Na diocese, ninguém o escuta, o ouve, nem acolhe sua mensagem, mesmo quando ele toma posições interessantes, como fez recentemente em relação aos indocumentados, os imigrantes. E o mesmo acontece também entre os seus fiéis.
Fiquei surpreso ao ver pessoas próximas a Barbarin, católicos puro açúcar que o defenderam contra todos e tudo, considerar hoje que é hora de ele ceder e deixar a diocese. Pelo bem da Igreja, mas também pela sua saúde pessoal. Ele está obcecado com este caso. Mas isso não deve impedir que o arcebispo de Lyon alimente a esperança de que sua renúncia seja recusada e que ele encontre assim uma confirmação do Papa para a sua missão.
Essa lhe parece ser uma possibilidade?
Penso que não, dado o contexto da Igreja a nível mundial sobre a pedofilia. O Papa Francisco se desacreditaria quanto à visão que ele deu ao problema da pedofilia no mundo e à tolerância zero que ele defende. Depois, não está totalmente excluído que ele recuse a renúncia do cardeal, considerando que é necessário aguardar o julgamento do recurso. Mas o Papa se daria um tiro no pé. Este caso não é apenas um caso lionês. Esta história é reveladora, através do cardeal Barbarin, de um mal profundo dentro da Igreja francesa.
Você quer dizer que o caso ultrapassou os limites da diocese?
Sim, refiro-me ao impacto do cardeal Barbarin na Igreja da França. Ele não é bispo qualquer. É o arcebispo de Lyon, primaz da Gália, o que simbolicamente é muita coisa. E como este é um cardeal muito midiático e estes casos de pedofilia tornaram-se finalmente muito midiáticos, é toda a Igreja da França que é afetada.
Como você imagina a continuação para a diocese se a renúncia do arcebispo for aceita?
A nomeação do seu sucessor não acontecerá imediatamente. Levará algum tempo, porque os arquivos são estudados cuidadosamente para nomear um pastor em uma diocese tão sensível e importante como a de Lyon. Certamente será alguém menos midiático que o cardeal Barbarin, se exporá menos, encenará menos e que terá que reconstruir as relações.
Ele terá que reconciliar uma diocese que ainda está chocada com tudo o que aconteceu e dividida entre pró e contra Barbarin. Será necessário encontrar a serenidade e colocar a Igreja de Lyon no século XXI, e não estar apoiado, como foi Philippe Barbarin, em posições muito reacionárias em muitos assuntos. Especialmente nas questões de ética familiar ou de ética sexual.
Será necessariamente alguém de fora da diocese ou podemos imaginar que seu bispo auxiliar Emmanuel Gobilliard, muito visível e ativo nos últimos meses, possa sucedê-lo?
Este bispo auxiliar é ambicioso, poderia garantir a interinidade como administrador apostólico, mas eu não o vejo como sucessor de Barbarin. Ele é novo na diocese, mas tem acompanhado Barbarin nos últimos dois anos no caso Preynat. Ele está um pouco chamuscado com este caso.
O que será do arcebispo se sua renúncia for aceita pelo Papa?
Deve-se salientar que sua renúncia não o remove de seu sacerdócio e de sua eleição como cardeal. Em nenhum caso ele será privado de seu caráter presbiteral e sacerdotal. Ele pode voltar a ser um simples pároco, se esse for o seu desejo. Mas não vejo o cardeal Barbarin assumir um posto de pároco na diocese de Lyon. Penso que ele deve sair.
Esta é a mensagem enviada por vários membros da comunidade católica, incluindo os mais próximos a ele. Podemos imaginar que ele vá a Roma, como aconteceu com outros bispos, e que ele assuma uma tarefa particular.
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Caso Barbarin: “É hora de ele deixar a diocese, pelo bem da Igreja e de sua saúde pessoal” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU