Gelo entre Kirill e o Papa. E do Kremlin sinal negativo para um encontro com Putin

Papa Francisco (Foto: Vatican Media); Patriarca Kirill (Foto: Wikimedia Commons); e Vladimir Putin (Foto: Wimimedia Commons). Edição: IHU

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

06 Mai 2022

 

O ramo de oliveira oferecido a Putin por Francisco está sempre lá, esperando que o líder do Kremlin mude de ideia e queira aceitá-lo para virar a história.

 

A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 05-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Ontem, em Santa Marta, foi evocada uma das frases mais famosas de São Paulo, "spes contra spem", a esperança contra toda esperança que nestes tempos reflete a grande necessidade de ser esperança para alimentar a esperança. Uma frase simbólica que no passado foi escolhida por Giorgio La Pira para sua louca jornada que o levou a conversar com Krushev, no Politburo, durante a crise dos mísseis cubanos, armado de fé e uma mala cheia de santinhos de Nossa Senhora de Fátima de quem era devoto.

 

A forte mensagem de Francisco de ir a Moscou com a nobre intenção de abrir uma brecha até agora obteve o efeito de uma ducha fria. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, resumiu os ânimos negativos: “Nenhum acordo foi alcançado. Iniciativas deste tipo deveriam passar pelos canais diplomáticos”. Do outro lado do Tibre, no entanto, estão acostumados a trabalhar na onda longa dos eventos e evangelicamente oferecem a outra face. O Cardeal Pietro Parolin se apoiou na metáfora: “Gelo? Estamos indo para a primavera, para o verão, esperemos que não se volte atrás, mesmo que, certamente, é um momento difícil”.

 

Coroinha

 

A reação do Patriarcado de Moscou foi mais pesada. “É lamentável que um mês e meio após a conversa com o Patriarca, o Papa Francisco tenha escolhido o tom inadequado para transmitir o conteúdo dessa conversa reservada”. A frase papal - confiada ao Corriere della Sera – que criou os maiores problemas diz respeito a um trecho da longa entrevista que teve via zoom com Kirill:

 

“Irmão, não somos clérigos de Estado, não podemos usar a linguagem da política, mas aquela de Jesus ... Somos pastores do mesmo povo santo de Deus, para isso devemos buscar caminhos de paz, para acabar com o fogo das armas. O Patriarca não pode se transformar no coroinha de Putin”.

 

Sentindo-se sob uma luz negativa, Kirill não hesitou em lançar flechas: “É improvável que tais declarações contribuam para o estabelecimento de um diálogo construtivo. Um diálogo que é particularmente necessário neste momento”.

 

Durante a conversa de 16 de março, Francisco e Kirill concordaram de comum acordo em transferir o encontro agendado para Jerusalém para 14 de junho. Eles deveriam ter se abraçado à sombra do Santo Sepulcro. O pontífice havia manifestado ao seu interlocutor que a posição dos ortodoxos russos sobre a guerra na Ucrânia não podia ser aceita. Para Kirill o conflito é considerado justo, pois é funcional para extirpar o Mal que aflige o Ocidente, espalhando em todo lugar lobbies homossexuais, relativismo ético e minando na base a família composta por um homem e uma mulher. O fio ecumênico certamente está sujeito a forte estresse e, com certeza, não haverá encontros em breve. Entretanto, a Comissão Europeia também interveio contra Kirill e propôs medidas restritivas contra ele. As sanções poderiam, portanto, atingir seu vasto patrimônio pessoal, mesmo que ele diga que é "um absurdo".

 

Cuba

 

Parecem decididamente distantes anos luz os momentos de harmonia que levaram Francisco e Kirill a assinarem em Cuba, sob o olhar de Castro, um memorando histórico em que, em três pontos, a Igreja Greco-Católica Ucraniana era até obscurecida. O arcebispo Sviatoslav Shevchuk em um livro, publicado pela Cantagalli em 2018, criticou a orientação daquele acordo assinado com o Patriarca e já na época alertava contra a influência do Kremlin: "A Ucrânia é vítima de uma agressão externa: nós certamente não queremos e não apoiamos a guerra, mas não podemos afirmar que um povo não tenha o direito de se defender. Somos contra a guerra e apelamos ao Papa e à comunidade internacional para que seja parado o agressor. Nenhuma Igreja ucraniana apoiou essa agressão externa. A redação do texto corre o risco de ser uma cobertura para o agressor, ou uma admissão de que a Igreja russa tem um papel em todo esse conflito”.

 

Leia mais