02 Mai 2022
O Vaticano continua “pessimista” sobre as negociações entre Rússia e Ucrânia. O cardeal Pietro Parolin, no entanto, repete que é necessário “insistir nesse campo, caso contrário a guerra continuará devorando os filhos da Ucrânia”.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada em Il Messaggero, 29-04-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quanto à debatida questão do envio de armas, o secretário de Estado vaticano repetiu que as nações têm “o direito de se defenderem da invasão sofrida”, destacando, porém, que só o âmbito bélico, sem perseverar no front diplomático, é como um beco sem saída. “Digo apenas que limitar-se às armas representa uma resposta fraca.”
Falando na apresentação do livro “Contro la guerra” [Contra a guerra], do Papa Francisco, apresentado nessa sexta-feira, 29, na universidade Lumsa, em Roma, o secretário de Estado vaticano obviamente desejou que se chegue em breve a uma solução negociada.
“Abandonar o esquema de guerra e assumir o esquema de paz significa fortalecer a participação nos órgãos internacionais e também redescobrir uma maior capacidade de iniciativa europeia. A guerra em curso na Ucrânia é terrível no coração da Europa e da Europa cristã”, disse.
Nos últimos dias, o cardeal havia afirmado, em entrevista à Catholic News Agency, que Kiev tem o direito “legítimo” de defesa, mas que o envio de armas poderia desencadear uma “terrível” escalada.
“A comunidade internacional quer evitar uma escalada”, segundo o prelado, “e até agora ninguém interveio diretamente. Mas eu vejo que muitos estão enviando armas, e isso é uma coisa terrível de se pensar”, mesmo que “o princípio da legítima defesa continue válido”.
Parolin indicou ainda uma solução que já se mostrou eficaz no passado. “Voltar ao espírito de Helsinque. A deriva à época – lembrou o cardeal, falando de Helsinque – se deteve reunindo os vários protagonistas. Tenho a impressão de que esta guerra foi consequência de um processo criado nas últimas décadas.” E, “quando se falava da erosão do multilateralismo, e cada um tentava resolver os problemas por interesses de grupo, era lógico que iríamos rumo a uma terceira guerra mundial em pedaços”.
Recordando o espírito de Helsinque como “remédio”, Parolin reiterou: “Precisamos do espírito que o então primeiro-ministro [italiano] Aldo Moro interpretou em Helsinque em 1975, indo além da lógica dos bloqueios e envolvendo todas as nações. Durante aquela Conferência para a Segurança e a Cooperação na Europa oriental e ocidental, elas se uniram no caminho da distensão, e, permitam-me recordar, a esse propósito, o papel então desempenhado pela Santa Sé e pela delegação liderada pelo futuro cardeal Agostino Casaroli. A paz é do interesse dos povos, a segurança internacional é do interesse de todos. Hoje, precisamos redescobrir aquele espírito, precisamos de uma nova Conferência de Helsinque”.
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Cardeal Parolin se mostra pessimista sobre as negociações Rússia-Ucrânia: “Precisamos novamente do espírito de Helsinque” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU