21 Fevereiro 2022
A morte ocorreu ontem, aos noventa e três anos, em Cesena, sua cidade natal, na Casa de Repouso “Don Baronio”. Com a despedida de Carlo Molari - "um homem livre de fé viva e sempre em busca" (assim o definiu ontem o arcebispo de Chieti-Vasto Bruno Forte) – despede-se uma das figuras mais fascinantes do panorama teológico italiano. Testemunho de um "fazer teologia" não como "profissão", mas - em suas palavras - como "componente da identidade pessoal", "razão de toda uma vida".
A reportagem é de Marco Roncalli, publicada por Avvenire, 20-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
E testemunha um pensamento que está longe de tranquilizar certezas, mais levado se centrar no presente, olhando para Jesus de Nazaré, na convicção de que a ação de Deus se expressa na história humana quando nela se encarna, tornando-se relação. Padre e estudioso do questionamento inextinguível sobre o mistério da existência (e grande conhecedor de Teilhard de Chardin), Molari foi ordenado padre em 1952. Graduou-se em teologia dogmática e em utroque iure na Lateranense, onde lecionou de 1955 a 1968, continuando depois como docente na Urbaniana (1962-1978) e na Gregoriana (1966-1976).
O cargo de assistente de estudos na Congregação para a Doutrina da Fé remonta ao período 1961-1968. E pela alta direção do antigo Santo Ofício, foi pedido a ele - que em 1972 também se tornou secretário da ATI, a Associação Teológica Italiana - para deixar o ensino em 1977: seu livro La fede e il suo linguaggio (A Fé e sua linguagem, em tradução livre, Cittadella editrice), não foi considerado em conformidade com a doutrina: sob acusação suas teses sobre a compreensão de Deus, nunca cristalizada, mas ligada à evolução das capacidades cognitivas humanas. Além disso, pilhas de reclamações por afirmações feitas em público. As defesas se revelaram inúteis, então tomou a decisão, aos cinquenta anos, de resgatar os anos de graduação e se aposentar.
Na realidade, Molari continuou trabalhando incansavelmente e até hoje. Escrever (os livros mais recentes são do ano passado para a editora Gabrielli, Il cammino spirituale del cristiano e Espiazione), realizar conferências, aulas, exercícios espirituais pela Itália, realizando uma intensa atividade pastoral no Instituto San Leone Magno dos Maristas, em Roma, onde serviu como padre espiritual a várias gerações até dez anos atrás.
Em suma, uma biografia pontilhada por etapas em diferentes contextos, ou em muitas famílias: a dele, o San Leone, a Fuci, a Ati, o Sae, Ore Undici, a Cittadella, Camaldoli... Mas se poderia rebobinar a fita de sua vida pausando na cesura do Concílio Vaticano II e no que ele mesmo – em uma contribuição para Essere teologi oggi (Marietti) - definiu suas três conversões: aquela filosófica, devedora para a cultura contemporânea em suas leituras da natureza; aquela teológica, considerada demasiado dependente daquela filosófica, na origem das advertências que mudaram seu futuro; aquela espiritual, que o levou à atenção pelos pluralismos religiosos.
Um percurso de vida que não é único em alguns aspectos. Por exemplo, vem à mente Ambrogio Valsecchi e o livro de Federico Ferrari Una teologia discordante (Morcelliana): um perfil semelhante, mesmo para além de determinadas análises sobre o valor salvífico da Cruz. Homens de pensamento que no centro de suas pesquisas deram espaço como poucos ao "impacto da consciência histórica na teologia".
Leia mais
- O Concílio Vaticano II no caminho da Igreja. Artigo de Carlo Molari
- A espiritualidade é uma sinfonia. Entrevista com Carlo Molari
- O Lutero católico. Artigo de Carlo Molari
- Deus providente: o significado de uma fórmula de fé. Artigo de Carlo Molari
- A Igreja Católica, o poder e o êxodo das mulheres. Artigo de Carlo Molari
- Educar para uma fé adulta. Entrevista com Carlo Molari
- Como conciliar cristianismo e darwinismo. Entrevista com Carlo Molari
- Doutrina trinitária: o desafio do jesuíta Roger Lenaers. Artigo de Carlo Molari
- Francisco e os seus 62 corretores. Artigo de Carlo Molari
- Não se conserva a verdade em naftalina. Artigo de Carlo Molari
- Ainda sobre o mal e o pecado original. Artigo de Carlo Molari
- Doutrina e pastoral, tradição e novidade. Artigo de Carlo Molari
- A experiência cristã nasce plural. Artigo de Carlo Molari
- Os novos caminhos do ecumenismo. Artigo de Carlo Molari
- Cristologia, autodefesa de Dupuis. Artigo de Carlo Molari
- Dizer o pecado original hoje. Artigo de Carlo Molari
- Discussões e polêmicas entre ciência e religião. Artigo de Carlo Molari
- As brasas vivas da teologia da libertação. Artigo de Carlo Molari
- Carlo Maria Martini, homem de Palavra. Artigo de Carlo Molari
- Discussões sobre o gênero de Deus
- Jesus como amigo
- A nomeação dos novos cardeais e o caso Dupuis
- Jacques Dupuis nos apertos da obediência
- Diálogo entre culturas e religiões
- O caminho da fé e suas dúvidas
- Ressurreição, o desafio do padre Lenaers
- Jubileu e indulgência
- Evento e significado. "O que significa e como expressar hoje a Eucaristia como sacramento da presença de Cristo e de seu sacrifício?"
- Deus é pessoa? Um diálogo com Vito Mancuso
- Caráter pessoal de Deus
- A metáfora da semente. Gérmens de ressurreição na Igreja
- A fraternidade universal
- A ética familiar do papa Francisco
- As opções morais de Papa Francisco
- Teologia e Igreja: quando as mulheres escrevem ao papa
- Rumo à comunidade eclesial, o caso de Theilard de Chardin
- Como falar de Deus hoje?
- Tornar-se humano: o projeto ético de Vito Mancuso
- A vida teologal de Jesus
- A imagem de Deus emerge do Pontificado de Francisco
- Teilhard, uma nova linguagem
- A beleza como caminho de salvação
- Jesus e as mulheres, o novo ensinamento
- O mal, o papa Francisco e Scalfari
- Jubileu e novos modelos interpretativos
- O amor que move o sol e as outras estrelas. Uma análise do novo livro de Vito Mancuso
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O falecimento do teólogo Carlo Molari - Instituto Humanitas Unisinos - IHU