17 Fevereiro 2022
"A Eucaristia dominical, como ápice de todo o culto cristão, é chamada a manifestar a forma da Igreja e o seu estilo de agir", escreve Silvano Sirboni, em artigo publicado por Vita Pastorale, fevereiro de 2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A assembleia dominical é histórica e teologicamente o primeiro "sínodo" da Igreja Cristã. A este propósito, não é supérfluo recordar o texto conciliar sobre a liturgia: "Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os sete dias, no dia que bem se denomina dia do Senhor ou domingo. Neste dia devem os fiéis reunir-se para participarem na Eucaristia e ouvirem a palavra de Deus, e assim recordarem a Paixão, Ressurreição e glória do Senhor Jesus” (SC 106).
Não existem, talvez, nesses gestos e atitudes do culto dominical (reunir-se, escutar e participar) as características fundamentais do Sínodo anunciado pelo Papa Francisco? Em um passado ainda bastante recente, a expressão "ir à missa" era entendida principalmente como frequentar um rito realizado por outra pessoa. O antigo Código de Direito Canônico indicava o compromisso da Eucaristia dominical com a expressão "messa audienda est" (can 1248). Os mais idosos certamente se lembram que costumava-se dizer: "Ouvir a Missa".
Para as comunidades cristãs dos primeiros séculos, tal expressão seria incompreensível. Eis como um documento datado por volta do ano 250 exorta os fiéis a "ir à missa": “Já que sois membros de Cristo, não vos dispersais da assembleia (= ecclesia) não vos reunindo. [...] Não privais o Salvador de seus membros, não dilacerais e dispersais seu corpo, nem queirais antepor as necessidades da vida temporal à palavra de Deus, mas no dia de domingo, deixando tudo mais de lado, apresseis-vos à 'assembleia'". (Didascália dos Apóstolos 2,59). Como podemos constatar, existe a consciência de não ir assistir a um rito, mas de ser parte ativa do próprio rito. Oportunamente o Catecismo da Igreja Católica afirma que toda a assembleia dos fiéis é o sujeito celebrante do culto litúrgico. Sempre, mas sobretudo na Eucaristia dominical, ela é chamada a ser imagem da natureza sinodal da Igreja, um só corpo e uma só alma (cf. At 4, 32).
Diante desse apelo, surge imediatamente a pergunta: “As nossas assembleias dominicais são uma imagem correta da sinodalidade da Igreja, onde todos se sentem participantes, membros de um único corpo, celebrante e cada um empenhado em dar uma imagem correta do corpo de Cristo?". A Eucaristia dominical, como ápice de todo o culto cristão, é chamada a manifestar a forma da Igreja e o seu estilo de agir.
Para que se manifeste a natureza sinodal da assembleia dominical não é suficiente uma bela e douta catequese sobre o sacerdócio batismal. A liturgia comunica as verdades teológicas sobretudo através da experiência, isto é, através de gestos e atitudes, a começar pelo modo de estar na Igreja. É realmente um reunir-se para se encontrar ou continua sendo um assunto completamente privado? Quem entra na igreja para a Eucaristia dominical, inclusive um fiel apenas de passagem, tem a impressão de estar num ambiente acolhedor, alegre e fraterno? Essas perguntas também fazem parte do caminho sinodal e teremos que dar uma resposta a elas. Não se trata mais de garantir de qualquer forma uma missa dominical, mas de qualificá-la.
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É o primeiro “sínodo” da igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU