01 Novembro 2021
A Companhia de Jesus no Haiti se pronuncia diante da crise no país, acentuada nos últimos meses pelo assassinato do presidente Jovenel Moïse, o terremoto de agosto, a crescente insegurança com a proliferação de bandos criminosos e sequestros, o desgoverno existente e uma economia mafiosa.
O comunicado é assinado pelo padre jesuíta Jean Denis Saint-Félix, superior dos jesuítas no Haiti, publicado pela Conferência de Provinciais Jesuítas da América Latina e o Caribe – CPAL, 28-10-2021. A tradução é do Cepat.
Companhia de Jesus
Província do Canadá
Território do Haiti
1. Há mais de três anos, os jesuítas do Haiti não param de soar o alarme e a chamar a atenção da comunidade internacional sobre a vertiginosa deterioração da situação do país, denunciando os excessos totalitários do falecido Presidente, Sr. Jovenel Moïse, a captura do país pelo setor mafioso, a falta de respeito à vida e aos direitos fundamentais da pessoa humana, e a miséria crônica na qual definha a grande maioria da população haitiana.
2. Inclusive hoje, menos de quatro meses após o atroz assassinato do presidente, um clima de terror se apoderou do país. Ao redor de Porto Príncipe, a corda aperta. Os habitantes de Porto Príncipe estão desesperados e mais do que nunca temem por sua vida. Há três dias, os sindicalistas lançaram um movimento de greve para dizer não à ignomínia. Todos os setores parecem aderir a essa iniciativa para forçar as “autoridades” a fazer algo.
3. Os sequestros estão muito disseminados. Padres, pastores, empresários, professores, cidadãos de todos os setores e estratos sociais, mas especialmente da classe média, são sequestrados e mantidos cativos a qualquer momento. Um grupo de 17 estadunidenses e um canadense seguem nas mãos dos sequestradores, que exigem 17 milhões de dólares de resgate. Os sequestrados costumam ser agredidos física e sexualmente. Muitos são executados, mesmo após pagar o resgate. A classe média se empobrece e está totalmente endividada.
4. Junto à crise política e de segurança se soma uma nova crise: a escassez de combustível. Os terminais estão controlados pelos bandidos há mais de dois meses. Os bandidos, que dominam a capital sem piedade e exercem o direito de vida e morte sobre a população, impedem os caminhoneiros de abastecer os postos. Devido a este problema, o Centro Nacional de Ambulâncias (CAN) e muitos centros hospitalares já anunciam que interromperão suas atividades, o que prognostica uma crise humanitária sem precedentes no país em meio à pandemia. Alguns produtos de primeira necessidade já estão se esgotando.
5. Os jovens e os profissionais que conseguem abandonam o país às centenas. Algumas escolas e universidades, especialmente na capital, estão literalmente ficando vazias. Muitos jovens retornam às cidades da província. Devido à insegurança e a crise de combustível, os que estão em Porto Príncipe preferem ficar em casa, esperando com cansaço que amanheça um novo dia.
6. Diane dessa situação, convidamos todas as forças vivas (as Igrejas, a Universidade, a Juventude, a Imprensa, etc.) da nação a um despertar patriótico para dizer não ao descaso. Pedimos aos políticos haitianos que deem um passo para trás, para dar uma oportunidade ao país. Lançamos um chamado urgente aos haitianos da diáspora, à comunidade internacional, aos países chamados amigos, especialmente aos Estados Unidos da América, França e Canadá, para que deixem de lado seus interesses mesquinhos e assumam a verdadeira dimensão do drama haitiano do qual são atores. Não é possível que vejamos de forma passiva e cínica como todo um povo se abate. O que esperamos para socorrer esse povo martirizado e ajudar a deter os bandidos e oligarcas e exigir do governo de facto que assuma suas responsabilidades, cessando toda a conivência com os bandos armados [?]!
7. O momento é grave, mas confiamos que Deus logo coroará nossa resistência e luta, transformando nossa desgraça em uma festa, convertendo nossas penas e lágrimas em uma dança.
P. Jean Denis SAINT-FÉLIX, S.J
Superior dos jesuítas no Haiti
27 de outubro de 2021
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Haiti. “Grito de alarme” dos Jesuítas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU