Mês da Bíblia: 50 anos (1971-2021) memórias, desafios e perspectivas

Foto: Pixabay

11 Setembro 2021

 

"O Mês da Bíblia teve uma longa trajetória, de movimentação e entusiasmo, dificuldades e crises, mas sempre reanimado e incentivado, e agora caminha como uma atividade consolidada, que tem sua função na formação bíblica permanente dos cristãos e cristãs da Igreja Católica, no Brasil. Ao contemplar essa história, somos também convidados e convidadas a continuar anunciando a Palavra de Deus Encarnada, Jesus Cristo, e a testemunhar o seu Reino", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao comentar a obra 50 anos: 1971-2021 Mês da Bíblia: memórias, desafios e perspectivas (São Paulo: Paulinas, 2021, 504 p. ISBN9786558080831), organizado por Edinaldo Medina BatistaZuleica Silvano.

 

Eis o artigo. 

 

50 anos de caminhada... É a celebração do Jubileu de Ouro do Mês da Bíblia. Como sabemos o Mês da Bíblia surgiu em 1971, por ocasião do cinquentenário da Arquidiocese de Belo Horizonte (MG). Em 1976, estendeu-se para o Regional Leste II da CNBB, que abrangia Minas Gerais e Espírito Santo. Em 1985, a celebração do Mês da Bíblia foi assumida pela CNBB em âmbito nacional como um importante instrumento da Pastoral Bíblica, e, em 2021, completa 50 anos. A finalidade deste mês é motivar os católicos a ter a bíblia em casa, conhecer o seu conteúdo e usá-la como “livro de cabeceira”, como lâmpada para iluminar os fatos da vida com a luz de Deus.

 

A obra: 50 anos: 1971-2021 Mês da Bíblia: memórias, desafios e perspectivas (Paulinas, 2021, 504 p.), organizada por Dra. Zuleica Silvano e pelo mestrando Edinaldo Medina Batista – objetiva celebrar o jubileu de ouro do Mês da Bíblia, contemplando o passado (1971-2021), mas também apresentando novos desafios e perspectivas para a área bíblica nos nossos dias. Para a escrita deste livro foram cotejadas informações provenientes do arquivo e da biblioteca do Serviço de Animação Bíblica – SAB /Paulinas, Belo Horizonte (MG), bem como da seção de Pastoral Bíblica do Arquivo Histórico da Província do Brasil, da Pia Sociedade Filhas de São Paulo, localizada no Centro de Documentação Paulinas, em São Paulo, que guarda os originais dos relatórios das atividades, revistas e jornais, boletins e fotos, cartas, além dos relatos escritos e orais (entrevistas). Contaram-se também com a contribuição e o testemunho de diversas pessoas, citadas no decorrer da obra.

 

Reprodução da capa do livro (Foto: Divulgação | Paulinas)

 

A obra que conta com a participação de vários autores e autoras está estruturada em três partes.

 

A primeira: Aspectos históricos (p. 19-290), apresenta um panorama do campo bíblico, sobretudo das atividades relacionadas ao Mês da Bíblia, e da história das várias instituições que se dedicaram à formação bíblica. Ao percorrer essa história, se busca fazer a memória das Semanas Bíblicas iniciadas no ano de 1947 no Brasil, que se desenvolveu posteriormente e 1971, com o Mês da Bíblia, e continua até hoje:

 

1) A intensificação dos movimentos bíblicos na primeira metade do século XX (p. 21-30), é o assunto abordado no primeiro capítulo escrito por Edinaldo Medina Batista e Zuleica Aparecido Silvano, destaca-se que o século XX foi marcado por um progressivo renascimento no que se refere ao conhecimento bíblico, especialmente por uma nova tomada de consciência da importância e da função da Sagrada Escritura na vida e na missão da Igreja (p. 21). No entanto, salientam os autores que o intenso movimento bíblico, iniciado na passagem do século XIX ao XX, não foi uma intuição teológica instantânea, mas foi o resultado de um longo processo histórico, marcado por intensas transformações pastorais, eclesiais, sociais e políticas; sobretudo, de uma tríplice renovação no ambiente católico: 1) da catequese, 2) dos estudos patrísticas e 3) da liturgia.

Esse movimento bíblico, que primeiramente se ocupou da difusão da Bíblia (sobretudo dos Evangelhos), e do conhecimento dela entre os católicos (p. 22), foi acentuado a partir de três encíclicas papais: 1) Providentissimus Deus publicada em 1893 (p. 23); 2) Spiritus Paraclitus publicada em 1920 (p. 23-24) e, 3) Divino Afflante Spiritu publicada em 1943 (p. 25-27).

Neste século está datado o Ano Bíblico da Família Paulina, e os autores resolveram apresentá-lo, para compreender as semanas bíblicas realizadas no Brasil (p. 27-30). No âmbito do continente latino-americano, temos dois eventos significativos para a pesquisa bíblica: a Conferência Geral do Episcopado no Rio de Janeiro em 1955 e a terceira reunião ordinária do Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM, em 1958 (p. 30). Esses dados são relevantes para entender a intensificação do movimento bíblico na América Latina e, de modo especial, no Brasil.

 

2) No segundo capítulo (p. 31-56), olha-se especificamente para os Movimentos bíblicos no Brasil (1940-1960). Edinaldo Medina Batista e Zuleica Aparecida Silvano observam que o contexto brasileiro das décadas de 1940-1960 foi considerado de grande renovação bíblica, de forma particular pelo incentivo vindo da encíclica Divino Afflante Spiritu de Pio XII (p. 31). Antes da publicação desta encíclica esboça-se um incipiente Movimento Bíblico Católico no Brasil, que, no entanto, terá grande impulso na realização da Primeira Semana Bíblica Nacional realizada no ano de 1947 (p. 32-38).

Além das Semanas Bíblicas de cunho mais científico (realizadas a cada biênio ou triênio), e em decorrência da comemoração do Domingo da Bíblia, se realizaram, paralelamente na Igreja do Brasil, as Semanas Bíblicas Populares (p. 38-43). Os autores ressaltam que poucas pessoas sabem é que a realização das Semanas Bíblicas de caráter mais popular também foi celebrada por iniciativa das Irmãs Paulinas, especialmente pelo pioneirismo de Ir. Maria Pia di Dio (1926-2003), de 10 a 17 de maio de 1947 (p. 43). Frente a isso merecem atenção as primeiras Semanas do Evangelho no Brasil, realizadas pelas Irmãs Paulinas nos anos de 1947 e 1948 (p. 43-50). Nos anos de 1950 a 1960 acontece a passagem das Semanas do Evangelho para as Semanas Bíblicas (p. 50-56).

 

3) No terceiro capítulo (p. 57-68), intitulado: De movimento à Pastoral Bíblica após o Concílio Vaticano II (1965-1970), Edinaldo Medina Batista e Zuleica Silvano afirmam que de 1943, com a encíclica Divino Afflante Spiritu, de Pio XII, até o ano de 1965, com a promulgação da Dei Verbum (DV) houve uma predominância dos Movimentos Bíblicos, que contribuíram para a difusão, aproximação e compreensão dos textos bíblicos pelos fiéis católicos, provavelmente como uma forma de contrapor o avanço dos fiéis protestantes e evangélicos, que proviam o estudo da Bíblia. No entanto, somente depois da Dei Verbum é que se dá origem à Pastoral Bíblica ou ao Apostolado Bíblico, no sentido de que toda a pregação da igreja, como toda a religião cristã seja alimentada e regida pela sagrada Escritura. Essa pastoral, como dentre as diversas pastoras que se criavam para evangelizar, tinha por objeto e atividade a própria bíblia (p. 57).

Os autores destacam os frutos da Pontifícia Comissão Bíblica pós-Vaticano II (p. 59-63). Sublinham que a Igreja da América latina ocorreram vários eventos e iniciativas entre 1960 a 1970, que proporcionaram o florescer bíblico merecendo destaque o Plano Emergencial e o Plano da Pastoral em Conjunto (p. 63-65).

Em seguida, os autores destacam as três fases da animação bíblica na América Latina após a Dei Verbum:

1) Movimento Bíblico (1965 a 1985);

2) Pastoral Bíblica (1985 a 1983); e

3) Animação Bíblica da Pastoral (1993 até hoje).

A Pastoral Bíblica passou a ser uma prática de toda a Igreja até 2007, quando é publicado o Documento de Aparecida, com a Animação Bíblica da Pastoral (p. 65-66). É importante ressaltar dois marcos históricos significativos nesse processo teológico-pastoral na Igreja do Brasil: os Círculos Bíblicos e o Mês da Bíblia (p. 66-68).

 

4) No quarto capítulo (p. 69-85), Edinaldo Medina Batista, Ir. Neli Manfio e Ir. Rosana Pulga discorrem sobre as origens do Mês da Bíblia (1971-1975). Os autores fazem notar que o Mês da Bíblia nasceu dentro do contexto eclesial brasileiro da década de 1970. Essa atividade sempre foi unida a caminhada da Igreja no Brasil, e não poderia ser diferente (p. 69). Por isso, partindo das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil 1971-1978 que valorizavam o ministério da Palavra na Igreja e ressaltavam a importância dos Círculos Bíblicos e o papel das Sagradas Escrituras nas manifestações populares (p. 69-70), apresentam-se alguns eventos significativos proporcionados durante a celebração do Mês da Bíblia dos anos de 1971 (p. 70-81), de 1972 (p. 81-82), de 1973 (p. 82), de 1974 (p. 83-84), de 1975 (p. 84-85). Os mencionados autores destacam que durante esses cinco anos consecutivos, o interesse pelo Mês da Bíblia, foi despertado em muitas dioceses, tanto do Regional Leste II da CNBB, que englobava, na época, 28 dioceses de Minas Gerais e Espírito Santo, quanto em outras dioceses no Brasil (p. 85).

 

5) No quinto capítulo (p. 87-110), Edinaldo Medina Batista e Zuleica Aparecida Silvano, destacam as atividades realizadas no Mês da Bíblia no Regional Leste II nos anos de 1976 a 1984. Observam que no mês de novembro de 1975, Ir. Maria Pia di Dio, propôs aos bispos do Regional Leste II, da CNBB, reunidos em Assembleia Regional, que o Mês da Bíblia, até então de âmbito arquidiocesano, passasse a ser de âmbito regional. A Igreja do Regional Leste II, também em resposta ao Papa Paulo VI que havia lançado a Evangelii Nuntiandi oficializou o Mês de Bíblia em suas dioceses.

Em fevereiro de 1976, o Mês da Bíblia começou a ser coordenado pela equipe do Regional Leste II (p. 87). A realização do Mês da Bíblia caminhou em continuidade e em sintonia com o tema da Campanha da Fraternidade. Dentre as muitas atividades realizadas durante o mês de setembro de 1976 (p. 88-90), de 1977 (p. 90-92), de 1978 (p. 92-97), de 1979 (p. 97-99), 1980 (p. 99-102), 1981 (p. 102-103), 1982 (p. 103-106), 1983 (p. 106-108), 1984 (p. 109-110), merecem destaque: o Centro de Estudos Bíblicos CEBI criado em 20 de julho de 1979 (p. 97).

Os autores notam que com relação ao Mês da Bíblia, o CEBI não participou desde o início como instituição, mas quem sempre esteve presente foi o Frei Carlos Mesters. O CEBI foi convidado pela CNBB, abraçou a proposta e produziu vários subsídios para essa atividade (p. 97). Assim, nesses anos iniciais, o Mês da Bíblia extrapolou as fronteiras da Arquidiocese de Belo Horizonte e ganhou maioridade em âmbito nacional e internacional (p. 109). Diante disso, era necessário repensar suas estruturas e objetivos, para atender, inclusive às diversas demandas das cinco regiões do Brasil (p. 110). Nas palavras de Ir. Rosana Pulga, o rio do Mês da Bíblia enfrentou vales escuros e curvas fechadas, aprofundando assim, cada vez mais, seu percurso, até desaguar no Serviço de Animação Bíblica (p. 110).

 

6) No sexto capítulo (p. 111-124), Edinaldo Medina Batista e Rosana Pulga apresentam os desafios e a rica experiência do Serviço de Animação Bíblica – SAB e destacam atividades do Mês da Bíblia nos anos de 1985 à 2001. Recordam que o dia 11 de abril de 1984 foi “critico”, pois foi quando se cogitou o fim do Mês da Bíblia. Neste dia em uma reunião na sede do Regional Leste II – Dom José Costa Campos explicou as dificuldades do Regional em dar maior apoio ao Mês da Bíblia e a impossibilidade de assumir essa tarefa (p. 112-114).

Definida a posição do Regional Leste II e do Nacional da CNBB Linha III Catequese de não assumirem a atividade, a não ser o apoio da parte do Nacional, Pe. Alberto Antoniazzi com a equipe de redação do suplemento Bíblia-Gente, começou a pensar o esboço de um convênio entre amigos/entidades para poder continuar com as atividades do Mês da Bíblia (p. 114).

No dia 14 de abril de 1985, foi criado oficialmente o SAB, a partir do fruto de um convênio estabelecido entre quatro entidades: com uma representante da Pia Sociedade Filhas de São Paulo, um da Sociedade da Pia Sociedade de São Paulo, um do Centro Bíblico de Belo Horizonte e um do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (p. 114-116). Apesar de uma longa trajetória e caminhada o SAB foi oficialmente inaugurado na data de 1 de setembro de 1990, dia da bênção da “Casa da Bíblia” (p. 116-119). Com o término do convênio firmado entre as quatro entidades o SAB passou por reformulações: as Irmãs Paulinas assumiram a continuidade das atividades da Pastoral Bíblica com o mesmo nome SAB, com o apoio do grupo de reflexão Xemá (p. 119-121). O Xemá ou Shema´ é um grupo de voluntários/as com a finalidade de elaborar os subsídios do Mês da Bíblia com os roteiros para os encontros e também, quando possível, com algum comentário sobre o livro escolhido para essa atividade (p. 122-124).

 

7) No sétimo capítulo (p. 125-148), Zuleica Aparecida Silvano apresenta elementos das atividades do Mês da Bíblia no âmbito nacional a partir de 1985: a) no dia 20 de novembro de 1984, o Ir. Israel José Nery, assessor nacional da catequese, Linha III da CNBB, apresentou um relatório, tendo como conteúdo sua participação em um Grupo de Trabalho, convocado pelo CELAM, em Medellín, nos dias 5 a 9 de novembro de 1984, para refletir sobre a Pastoral Bíblica na América Latina e na elaboração de um Documento sobre o assunto. No plano geral do CELAM (1983-1986), o Departamento de Catequese estabeleceu alguns projetos com relação à Pastoral Bíblica (p. 125-126). A partir destes programas, foram oferecidas algumas propostas referentes à Bíblia para as Conferências Episcopais da América Latina (p. 126-128). Neste período, houve vários problemas que foram colocados em discussão como: a continuidade ou não das atividades pertinentes ao Mês da Bíblia; a ampliação do Mês da Bíblia em nível nacional, com o apoio da CNBB; a manutenção dos encontros e a produção dos textos pelo SAB/Paulinas.

 

 

Ao atingir o âmbito nacional com o apoio da CNBB linha III, dimensão catequética, o tema e lema do Mês da Bíblia passam a ser escolhidos com o assessor da catequese da CNBB. O SAB também contava com a participação de outras instituições para organizar as atividades em âmbito nacional, como: o CEBI, o Centro Bíblico de Belo Horizonte, a Congregação das Irmãs e dos Padres Paulinos (p. 129-130). No encontro anual em preparação ao Mês da Bíblia de 1986 – além da escolha do livro bíblico para este ano, Ir. Nery deu a sugestão de convidar os coordenadores regionais da Catequese, dado que esse setor nos regionais da CNBB, em todo o país, estava bem articulado (p. 131-132). Nos dias 28 de maio a 1 de junho de 1987 realizou-se o Primeiro Encontro da Pastoral Bíblica, apoiado pela dimensão bíblica catequética da CNBB e patrocinado pelo SAB. O encontro teve vários aspectos positivos, mas não era clara a relação entre a linha III da CNBB e o SAB na preparação do Mês da Bíblia; portanto, os coordenadores dos regionais pediram esclarecimentos, até mesmo para saber qual seria o papel dos coordenadores nesse encontro. Esses coordenadores regionais sugeriram que o encontro fosse realizado todos os anos pela CNBB Nacional e que tivesse como objetivos: aprofundar o conteúdo do livro escolhido para o Mês da Bíblia; a partilha de experiências entre os coordenadores de Catequese; e uma maior comunicação entre o SAB e os regionais (p. 132-134).

 

No ano de 1988, tivemos alguns acontecimentos importantes para a Pastoral Bíblica, entre eles destacam-se o projeto “Palavra Vida”, promovido pela Conferência Latino-Americana de Religiosos e Religiosas – CLAR e a publicação do Oficio Divino das Comunidades, como uma forma alternativa de rezar com a Bíblia, sobretudo os Salmos e os Cânticos Bíblicos (p. 135-138). Dentre as atividades realizadas nos anos de 1988 (p. 138-142), 1989 (p. 142-144) e 1990 (p. 144-148), merecem destaque:

 

a) o Instituto Nova Jerusalém: instituto de vida religiosa consagrada, constituído por irmãos, irmãs e leigos/as, fundado em 1981 por um ex-monge belga, Padre Gaëtan Miette de Tillesse. Sendo um exegeta de renome internacional, tinha o sonho de que todas as pessoas tivessem um conhecimento mais aprofundado da Bíblia. Por causa de seu carisma, os três ramos da família religiosa da Nova Jerusalém sempre intensificaram suas atividades durante o mês de setembro, mas somente em 1988 passaram a assumir o tema proposto pela CNBB para o livro do Mês da Bíblia (p. 140-142);

 

b) Projeto “Construir a Esperança” da Arquidiocese de Belo Horizonte. Esse projeto foi elaborado após a realização de uma série de pesquisas sobre a realidade da Arquidiocese (1990-1991), e seu resultado acentuava o papel fundamental dos Círculos Bíblicos em Belo Horizonte (p. 145-148).

 

No oitavo capítulo (p. 149-174), Zuleica Silvano, destaca que de 1991 a 1996, a preparação do material passa a ser da responsabilidade exclusiva do SAB, com o apoio da CNBB. Durante esses seis anos, foram realizados vários eventos e publicados documentos que enfatizaram a missão da Pastoral Bíblica. Entre eles, destacam-se as Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil de 1991-1994 (p. 150-152); as Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil de 1995-1998 (p. 154-157); a IV Conferência Episcopal da América Latina e Caribe em Santo Domingo em 1992 (p. 152-154) e o documento “A Interpretação da Bíblia na Igreja”, da Pontifícia Comissão Bíblica publicado em 1993. A autora seleciona nesses documentos, os aspectos relacionados à Bíblia, para a compreensão das temáticas e dos eventos realizados no Mês da Bíblia nos anos de 1991 e 1996, dado que em 1997 temos a preparação para o Jubileu do Nascimento de Jesus Cristo e a elaboração do projeto “Rumo ao Novo Milênio”, pela CNBB, estabelecendo uma nova fase da seleção dos temas e dos subsídios do Mês da Bíblia no Brasil. A autora aborda também as atividades realizadas de 1991 a 1996, neste evento nacional do Mês da Bíblia (p. 157-174).

 

No nono capítulo (p. 175-191), Zuleica Aparecida Silvano destaca como se realizou o Mês da Bíblia em sintonia como o Projeto de Evangelização “Rumo ao Novo Milênio” 1997-2000. Sublinha que nessa caminhada de construção e aprovação do projeto “Rumo ao Novo Milênio”, os assessores da Dimensão III entraram em contato com as entidades que sustentavam o Mês da Bíblia – SAB e CEBI, comunicando quais livros tinham sido selecionados para ser estudados em 1997-2000, sendo justificados pelos objetivos desse Projeto de Evangelização. Havia também a necessidade de criar uma nova modalidade de subsídios, desvencilhando-se das publicações específicas para o mês de setembro, a fim de que as comunidades pudessem escolher o momento mais oportuno para inseri-los em suas atividades pastorais. Isso visava fazer com que os elementos fundamentais enfatizados nesses meses temáticos perpassassem todo o Ano Litúrgico, fazendo parte do projeto pastoral das dioceses, paróquias e comunidades, a ser executados no decorrer do ano (p. 177). Assim, o Mês da Bíblia do ano de 1997 teve como tema o Evangelho segundo Marcos (p. 177-181), em 1998 o Evangelho segundo Lucas (p. 182-185), em 1999 o Evangelho segundo Mateus (p. 185-189), no ano 2000 o Evangelho segundo João (p. 189-191). A autora apresenta as atividades realizadas nestes anos destacando: dicas bíblicas do Portal Paulinas (p. 183-184), o Encontro de Pastoral Bíblica em 1999 (p. 184-185), o término da parceria entre o SAB e a Linha III- Dimensão Bíblico- Catequética da CNBB (p. 186-189).

 

No décimo capítulo (p. 193-204), Zuleica Aparecida Silvano destaca que entre os anos 2001 e 2003, tivemos dois novos projetos de evangelização na Igreja do Brasil : o “Ser Igreja no Novo Milênio” (p. 196-198) e o “Ser Cristão no Novo Milênio” (p. 198). Há também o Documento 61, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, aprovado em 1999, com vigência até 2002 (p. 193-195). A autora analisa cada um destes documentos e num segundo momento apresenta as atividades realizadas no Mês da Bíblia entre os anos de 2000 a 2003, destacando a fundação do Centro Bíblico de Pastoral para a América Latina - CEBIPAL, em maio de 2003 (p. 203-204).

 

No décimo primeiro capítulo (p. 205-221), Zuleica Aparecida Silvano situa o Mês da Bíblia dentro do projeto “Queremos ver Jesus: Caminho, Verdade e Vida” 2003-2006. A autora salienta que em 2003, foram aprovadas as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, Documento 94, com vigência até 2006 (p. 205-207), e com elas nasceu um novo Projeto de Evangelização da Igreja no Brasil supramencionado (p. 207-210). Neste período, são celebrados os 40 anos da Constituição Dogmática Dei Verbum, sendo promovido um Congresso em Roma pela FEBIC (p. 210-211). Também é fundada oficialmente a Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica – ABIB (p. 214-217). A dimensão III da CNBB também promoveu o IV Seminário, tendo como tema: “Educação bíblica na tradição judaica e cristã” (p. 213-214). A autora aborda esses acontecimentos e mostra suas influências/desdobramentos nas atividades do Mês da Bíblia nos anos de 2004 (p. 217-218), 2005 (p. 218-220), 2006 (p. 220-221).

 

No décimo segundo capítulo (p. 223-242), Zuleica Aparecida Silvano fala de uma transição: da Pastoral Bíblica para a Animação Bíblica da Pastoral. Observa que a partir da V Conferência Episcopal dos Bispos da América Latina e do Caribe (p. 224-229), do Sínodo da Palavra (p. 235), e, posteriormente da exortação apostólica Verbum Domini promulgada pelo Papa Bento XVI, em 2010, começa-se a utilizar a nomenclatura “Animação Bíblica da Pastoral”. Essa pode ser resumida na busca da Palavra de Deus como a “seiva” ou o “coração” de toda a ação pastoral da Igreja. É o que o Papa insiste no documento Verbum Domini, ao afirmar sobre a necessidade de revalorizar a Palavra divina na vida da Igreja, de maneira que seja fonte de constante renovação e cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial, e não somente uma Pastoral Bíblica entre as outras pastorais. Diante disso, a autora analisa os vários eventos bíblicos nesse tempo, as mudanças que ocorreram na Comissão Episcopal de Pastoral para a Animação Bíblico- catequética, com a nova configuração do grupo ligado à Dimensão III, o Grupo de Reflexão Bíblico-Catequética – GREBICAT, e os temas, lemas e materiais que foram elaborados para a celebração do Mês da Bíblia do ano de 2007 (p. 238-239), de 2008 (p. 239-240), de 2009 (p. 241-242).

 

No décimo terceiro capítulo (p. 243-265), Zuleica Aparecida Silvano destaca os desdobramentos da Verbum Domini na celebração do Mês da Bíblia nos anos de 2010 à 2015. A autora ressalta que entre esses anos, aconteceram várias iniciativas enriquecedoras para a Animação Bíblica da vida e da pastoral. Um ponto significativo foi a publicação da Exortação Apostólica Pós-Sinodal: Verbum Domini, em 2010 (p. 243-245). Nesse intervalo de tempo, houve a aprovação das novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015 (p. 245-248); o I Congresso de Animação Bíblica da Pastoral, promovido pela CNBB (p. 248-249); e a aprovação do Documento 97, intitulado “Discípulos e servidores da Palavra de Deus na missão da Igreja”, durante a 50 Assembleia Geral da CNBB (p. 249253)-. Zuleica Aparecida Silvano analisa estes documentos e mostra que as atividades do Mês da Bíblia até 2015, terão como tema, novamente, o estudo dos Evangelhos na perspectiva do discipulado missionário (p. 254-265).

 

No décimo quarto capítulo (p. 267-290), Zuleica Aparecida Silvano no contexto das celebração dos 50 anos do Mês da Bíblia, contempla os anos de 2016 à 2021 elucidando alguns acontecimentos: o Ano Jubilar Extraordinário da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco no ano de 2016 (p. 267-268); o ano da Família: Amoris Laetitia, os 150 anos da declaração de São José como Padroeiro Universal da Igreja em 2021; a instituição do Domingo da “Palavra de Deus” (p. 268-270); as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2018 (p. 273-275) e 2019-2023 (p. 275-278); o lançamento do livro Orientaciones de Animación Biblica de la Pastoral, publicado pelo CELAM e traduzido pela CNBB (p. 271-273); os 50 anos do FEBIC (p. 270-271); o I Seminário de Animação Bíblica, promovido pela CNBB (p. 278); o Primeiro Curso Mês da Bíblia EAD e a Primeira Semana Bíblica on-line, promovidos pelo SAB/Paulinas (p. 278-279). A autora busca abordar o aspecto bíblico presente nestes eventos e as atividades ao redor do Mês da Bíblia, até a comemoração do seu Jubileu de Ouro (p. 279-289).

 

Na segunda parte Aspectos teológicos (p. 291-459), pretende-se destacar a importância do Mês da Bíblia no desenvolvimento da caminhada bíblica no Brasil, elencando os aspectos teológicos e bíblicos, os desafios e as novas perspectivas.

 

No décimo quinto capítulo (p. 293-311), Carlos Mesters e Francisco Orofino trazem uma reflexão sobre a leitura popular da Bíblia como o resultado mais importante destes 50 anos do Mês da Bíblia. Em primeiro lugar apresentam algumas características da leitura popular da Bíblia: o método ver-julgar-agir (p. 296-297), a ligação Bíblia-vida, vida-Bíblia: Deus-conosco (p. 297); a Bíblia vista como nosso livro, escrito para nós (p. 297-298); ambiente fraterno e celebrativo (p. 298); a comunidade como sujeito da interpretação (p. 298). Em seguida apresentam-se os desafios que dificultam a leitura popular da Bíblia: a) a nova visão do mundo e a visão do mundo da Bíblia; b) a variedade das interpretações da Bíblia; c) a imagem de Jesus que temos dentro de nós; d) o fundamentalismo (p. 299-301). Num terceiro momento os autores chamam a atenção para uma comparação entre a leitura popular e as outras leituras da Bíblia, com o objetivo de transparecer melhor os valores da leitura popular e os meios para incentivá-la e melhorá-la (p. 301-305). Os autores concluem este capítulo apresentando qual a mística que deve animar a Leitura Orante da Bíblia dentre os quais: criar um ambiente de recolhimento e de escuta, pedir o dom do Espírito Santo, fazer-se ouvinte da Palavra, receber a Bíblia como o livro da Igreja e da tradição, ter uma correta atitude diante da Bíblia – leitura, meditação, oração e contemplação, colocar-se sob o julgamento da Palavra de Deus, procurar por todos os meios que a interpretação seja fiel, seguir os três passos do método usado por Jesus na estrada de Emaús: discutir a realidade, buscar luzes na Bíblia, partilhar, descobrir na Bíblia o espelho do que vivemos hoje (p. 305-311).

 

No décimo sexto capítulo: O Mês da Bíblia e o nosso dia a dia pastoral (p. 313-324), Manoel Godoy salienta que o Mês da Bíblia foi uma pedagogia catequética, decidida pelos bispos do Brasil para contribuir mais eficazmente com a recepção da Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II Dei Verbum (p. 313). Desta forma, a Bíblia sempre esteve presente em todas as iniciativas pastorais, pois a consagração do método indutivo ver-julgar-agir garantia a iluminação de toda a ação eclesial pela Bíblia. Depois de forte tempo de profecia houve certo fechamento, e os temas de ortodoxia e interno ganharam terreno amplo na vida eclesial. Atualmente, com o Papa Francisco, somos desafiado a ser Igreja em saída (p. 314). Frente a isso, a CNBB, por meio das suas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023 assumiu como uma das suas urgências pastorais a animação bíblica da vida e da pastoral, dando um passo imenso no sentido de dar à Palavra de Deus o seu verdadeiro lugar na vida da Igreja. Não se trata apenas de uma ou outra iniciativa no campo bíblico, mas de um esforço de encharcar todas as pastorais com a água viva da Palavra de Deus (p. 315). O autor apresenta e aprofunda iniciativas que unem Bíblia e pastoral no Mês da Bíblia: os Círculos Bíblicos (p. 315-317), a Celebração da Palavra (p. 317-319), os Grupos de evangelização- pequenos grupos de fiéis que passam nas casas do bairro, sobretudo nas casas dos enfermos ou famílias com dificuldades de toda a ordem, leem o Evangelho do dia e suscitam a interpretação da Palavra, concluindo com orações (p. 319-320), a Palavra de Deus nas equipes de liturgia (p. 320-321), Leitura Orante da Bíblia/ Lectio divina (p. 321-323), Mês da Bíblia e as redes sociais (p. 323), o método do bibliodrama, que consiste em dramatizar um texto bíblico e com ele iluminar a própria vida dos jovens, e de outros segmentos sociais, e seus caminhos de formação cristã (p. 323-324). Godoy conclui dizendo que essas iniciativas serão frutuosas na medida em que a comunidade se envolva na sua totalidade com o clima do Mês da Bíblia (p. 324).

 

No décimo sétimo capítulo – Bíblia e Catequese (p. 325-333), Ir. Zuleica Silvano entrevista o Pe. Wolfgang Gruen, salesiano, professor, membro da Sociedade de Catequetas Latino-Americanos, e um dos primeiros membros da equipe do Mês da Bíblia. A partir de sua trajetória de vida e experiência pastoral, o entrevistado responde à perguntas sobre Diretório Nacional da catequese da CNBB (2006) , do novo Diretório de Catequese do Vaticano (2020), ligação entre o Catecismo da Igreja e Bíblia, critérios para interpretação dos textos bíblicos, literalismo e fundamentalismo bíblicos etc.

 

No décimo oitavo capítulo (p. 335-355), Danilo César dos Santos Lima e Márcio Pimentel defendem que a Escritura cresce com quem celebra (p. 335). Chamam a atenção para o fato do Documento “A interpretação da Bíblia na Igreja” reduzir a exposição sobre a relação entre a Palavra de Deus e celebração a quase um apêndice, abordando o âmbito litúrgico como uma questão de uso (p. 336). Os autores fazem notar ainda que a Constituição Sacrosanctum Concilium seja citada para afirmar a presença de Cristo em sua Palavra, quando se leem na Igreja as Sagradas Escrituras, recorre-se ainda ao conceito intelectualista de atualização dos textos bíblicos, como se a celebração fosse meramente ocasião para se conhecer melhor os conteúdos das Escrituras. Diz o texto: “a liturgia, especialmente a liturgia sacramental, onde a celebração Eucarística constitui o grau máximo, realiza a atualização mais perfeita dos textos bíblicos”. Observa-se certa desconsideração do Ordo Lectionarum Missae, onde se encontra uma teologia da celebração da Palavra, fundamento e referência para leitura da Bíblia em sua forma ritual, ou seja, o Lecionário, o Evangeliário e o Gradual.

Enfim, destacam Lima e Pimentel para um documento que se propôs tratar da hermenêutica bíblica na Igreja, a pouca importância que se deu à liturgia como um modo particular da revelação e como um momento fundamental do ser Igreja resulta também em pouca efetividade para ajudar a superar as dificuldades da tradição eclesial do Ocidente, que apartou Sagrada Escritura e Sagrada liturgia como duas entidades autônomas. Por isso, os autores propõem-se a discutir a relação intrínseca entre ambas, evidenciando com a Bíblia sem a celebração litúrgica não pode ser experimentada e assumida como o livro da vida do fiel. Assumem, por isso, a experiência ritual como ponto de partida, conforme proposta no livro litúrgico, mediante uma análise da Instrução Geral ao Missal Romano no intuito de verificar como no momento litúrgico, em especial a Eucaristia, a Escritura e o Rito participam da mesma dignidade e somente juntos podem garantir uma genuína traditio fidei cristã (p. 337-350). Em seguida, tomando o proêmio da Introdução ao Elenco de Leituras da Missa, os autores almejam evidenciar os elementos fundamentais de uma teologia da Palavra de Deus adequada à perspectiva cristã-católica que tenha como fonte a celebração litúrgica (p. 350-354). Por fim, dedicam-se a elencar algumas problemáticas que aguardam soluções fiéis no que se refere à relação entre Sagrada Escritura e rito. (p. 354-355).

 

No décimo nono capítulo (p. 357-369), Gilbraz Aragão aborda a religiosidade popular, a Bíblia e a evangelização do encontro de irmãos no Recife. O autor chamando atenção para os traços da religiosidade popular (p. 357-358), para a devoção aos santos e a religiosidade popular no Brasil (p. 358-364), esclarece que o Movimento de Evangelização Encontro de Irmãos começou em 1969, com a chegada de D. Helder ao Recife. Não foi o primeiro, foi o maior movimento fundado pelo Dom, que inspirou experiências similares em todo o Nordeste. Por meio do jeito de se reunir e de tratar o social que era ensaiado pela Ação Católica, popularizado pela formação de grupos para estudar a Bíblia com a ajuda de um programa de rádio e treinamentos em dramatização do Evangelho e estudos de casos de vida, conseguiu-se, então, a passagem de um catolicismo privatizado e mágico para um catolicismo popular mais comunitário e compromissado. O Encontro de Irmãos nasceu e se desenvolveu com a caminhada libertadora da Igreja latino-americana, constituindo-se a forma mais representativa na Arquidiocese de Olinda e Recife – onde se deu relevo ao protagonismo dos leigos e a uma espiritualidade integral, ao equilíbrio entre oração e ação (p. 364-368). Conclui dizendo que no Encontro de Irmãos o testemunho da fé avivada pela Palavra de Deus, são geradoras e construtoras de vida (p. 368-369).

 

No vigésimo capítulo (p. 371-396), Joachim Andrade apresenta uma análise antropológica dos caminhos interculturais de Abraão, Jesus e Paulo. O intuito do autor é descobrir a interculturalidade na produção de textos bíblicos ao longo do processo de formação de Israel, como nação no Antigo Testamento, e eventual inclusão e abertura para outras culturas no Novo Testamento (p. 371-376). Andrade apresenta, por isso, estes três exemplos paradigmáticos que demonstram sensibilidade intercultural autêntica e, ao mesmo tempo, uma atitude conciliadora nos confrontos com fronteiras culturais. A primeira figura analisada é de Abraão e seu processo de trilhar o caminho intercultural durante o processo de responder ao chamado (p. 376-381). A segunda, é a pessoa de Jesus e sua abordagem intercultural em sua vida pública e em seu ministério (p. 387-393). A terceira, é Paulo e sua visão intercultural brilhante, passando do contexto judaico para o ambiente intercultural das grandes cidades de sua época, sendo missionário de contextos urbanos (p. 393-396). Conclui dizendo que a interculturalidade faz parte da experiência humana desde os tempos antigos e ao apresentar três figuras interculturais bíblicas, é possível perceber o rico conteúdo elaborado na forma gradativa por meio do qual tanto o judaísmo como o cristianismo construíram suas identidades ao longo dos séculos (p. 396).

 

No vigésimo primeiro capítulo (p. 397-432), Jaldemir Vitório apresenta os fundamentos bíblico-teológicos do compromisso cristão no mundo. Para isso, o autor busca explicitar a importância da leitura e da interiorização da Bíblia, no campo das pastorais sociais, como incentivo para o engajamento nas lutas em vista de criar o mundo querido por Deus (p. 397-399) . O primeiro passo, explicita a imagem bíblica de Deus que subjaz à dimensão social da ação pastoral, cujo rosto libertador evoca a salvação outrora levada a cabo pela ação misericordiosa do Deus de Israel em favor de seu povo oprimido pelo prepotente faraó (p. 400-407). O segundo passo foca a imagem do ser humano presente nos relatos da criação, que o apresentam como “imagem e semelhança de Deus”, ponto de distinção em relação às demais criaturas e fundamento intocável de sua grandeza criatural (p. 407-412). O terceiro passo volta-se para o ministério de Jesus de Nazaré, narrado nos evangelhos, cujo projeto de vida centrou-se inteiramente no resgate da humanidade ferida pela maldade de quem se coloca na contramão de Deus (p. 413-420). O quarto passo sintetiza, em cinco grandes linhas, os eixos da ação pastoral fundada na tradição bíblica, tendo como referencial a práxis de Jesus de Nazaré: a) desidolatrar a sociedade (p. 420-421), b) compadecer-se dos empobrecidos e marginalizados (p. 422-425), c) enunciar o antirreino (p. 425-426), d) criar solidariedade entre os seres humanos (p. 426-429), e) discernir os sinais dos tempos (p. 429-431). Essas grandes linhas correspondem, segundo o autor aos princípios vertebradores do agir cristão, no qual estão ligados a escuta amorosa da Palavra de Deus e o serviço desinteressado aos irmãos, praticando a caridade e a justiça para com todos, sobretudo para com os pobres (p. 431-432).

 

No vigésimo segundo capítulo (p. 433-459), Dom Vicente Ferreira – Bispo Auxiliar de Belo Horizonte apresenta os desafios e as perspectivas para a ação evangelizadora da Igreja no Brasil na proclamação da Palavra de Deus. O autor objetiva arriscar algumas projeções, pensando o futuro da evangelização e assim contribuindo na travessia cultural pela qual passamos. No contexto que estamos inseridos, as pistas apresentadas pelo autor levam em consideração as feridas socioambientais, ou seja, a vulnerabilidade é o lugar teológico fundamental de acolhimento da Palavra de Deus, que continua falando em nossa história (p. 434). O autor lembra que os elementos culturais e eclesiais interpelam a evangelização. Assim a primeira demanda para uma evangelização da Igreja do Brasil é a de proclamar a Palavra como instância crítico-salvífica, Palavra de alteridade que confronta nossos confortos, exigindo conversão, para a construção de um caminho de vida diante dos cenários de mortes (p. 435-438). À luz do pontificado do Papa Francisco somos convidados à conversão eclesiológica, ecológica e cultural. O elemento transversal das três conversões encontra-se na necessidade de transformar a Igreja e a sociedade a partir do encontro sincero com as feridas de nosso tempo, lutando pela fraternidade universal no cuidado com a Casa Comum (p. 439-442). Partindo desses desafios atuais, o autor propõe elementos para uma nova cultura, da Palavra de Deus, à luz do mistério de Jesus e da sua Igreja (p. 442-446), configurando as comunidades eclesiais missionárias como casas construídas sobre os pilares da Palavra, Pão, Caridade e Missão (p. 447-451), tendo a liturgia como espaço fecundo da Palavra de Deus no sacramento e na vida (p. 451-453). Por isso, a evangelização no Brasil deve dar às pessoas o máximo de oportunidade de um encontro aprofundado com a Palavra de Deus a exemplo de Maria – ela é o melhor resultado da Palavra ouvida, dialogada e cumprida (p. 456-457).

 

Na terceira parte – Testemunhos (p. 461-477), oferecem-se alguns testemunhos das experiências de pessoas que vivenciaram as atividades do Mês da Bíblia e cartas significativas dos pioneiros e das pioneiras: a) Carta de Ir. Maria Pia di Dio (1926-2003) datada à 22 de novembro de 1978 (p. 463-464), b) Mensagem de Ir. Rosana Pulga (p. 465), c) Mensagem de Ir. Carmem Maria Pulga (p. 467), d) fotos das publicações e eventos por ocasião da celebração do Mês da Bíblia (p. 471-477).

 

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Carregar as bagagens desta atividade e desta frutuosa história... A leitura desta oportuna e substanciosa obra confirmam as palavras de Ir. Rosana Pulga: “o rio do Mês da bíblia enfrentou vales escuros e curvas fechadas, aprofundando assim, cada vez mais, o seu percurso” chegando à celebração de seu Jubileu de Ouro (1971-2021). De fato, o Mês da Bíblia teve uma longa trajetória, de movimentação e entusiasmo, dificuldades e crises, mas sempre reanimado e incentivado, e agora caminha como uma atividade consolidada, que tem sua função na formação bíblica permanente dos cristãos e cristãs da Igreja Católica, no Brasil. Ao contemplar essa história, somos também convidados e convidas a continuar anunciando a Palavra de Deus Encarnada, Jesus Cristo, e a testemunhar o seu Reino.

 

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