23º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Abrir-nos para fazer o bem

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07 Setembro 2018

Na narrativa de hoje Marcos apresenta uma pessoa marginalizada. Marginalizada pelos Judeus Israelitas, por ser ele um estrangeiro, filho da região de Tiro e Sidônia, terras consideradas impuras, pagãs, sem conceito algum.

Diz a narrativa que colocaram diante de Jesus um homem que não conseguia ouvir e por isso não podia se expressar, não podia dar suas opiniões, não contava na sociedade. Jesus olha para ele cheio de compaixão. Retira o homem do ambiente que o despreza e o humilha. Leva-o para um lugar onde só ele pode mostrar-lhe e dar-lhe a dignidade de que necessita para ser uma pessoa realizada.

A reflexão é da teóloga biblista Rosana Pulga, fsp, religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas. Bacharel em Filosifia e Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUCMG, é pós-graduada em Teorias e Práticas da Comunicação pelo Serviço à Pastoral da Comunicação - SEPAC e em Cultura Bíblica pela Universidade Salesiana de Campo Grande/MS. É radialista profissional, bem como fundadora do Serviço de Animação Bíblica - SAB. Foi assessora e co-fundadora do Centro de Estudos e Pastoral Bíblica da Conferência dos Bispos da America Latina e Caribe - CEBIPAL- CELAM. É autora de vários textos pastorais sobre Bíblia e espiritualidade, área em que atua até hoje.

Referências bíblicas
1ª Leitura: Is 35,4-7ª
Salmo: 145 (146)
2ª Leitura: Tg 2,1-5
Evangelho: Mc 7,31-37

 

A liturgia deste 23º Domingo do tempo comum nos oferece a Palavra de Deus que é viva e eficaz.

A carta de Tiago é de uma clareza sem limite. Apresenta-nos uma realidade muito atual.

Tiago alerta para a nossa tendência de preferir as pessoas por sua aparência. E sabemos que a aparência muitas vezes nos engana. Ele diz claramente: Imaginem que na vossa reunião, na celebração da comunidade, entra uma pessoa de anel de ouro, bem vestida, de boa aparência, ou com algum título especial, vocês correm logo a oferecer-lhe um lugar bem na frente, um lugar de destaque: senta-te aqui, senta-te aqui!

Ao mesmo tempo, ou daqui a pouco, entra outra pessoa vestida pobremente, com sua roupa surrada e sem ostentação nenhuma e para ela vocês dizem: Ah! Você sente-se aqui no chão, ou então, fique aqui de pé.

Queridos irmãos e irmãs, quando agimos dessa maneira, o que fazemos? Certamente, não estamos sendo irmãos uns dos outros; estamos sendo juízes, julgando pelas aparências. E nós sabemos que as aparências, em geral, são enganosas.

Agimos exatamente ao contrário de Deus, que escolhe os pobres para confundir os ricos e sábios segundo o mundo.

Na 1ª leitura (Is 35,4-7ª)o profeta Isaías já advertia: Dizei às pessoas deprimidas, tristes, sozinhas: criai ânimo! Não tenhais medo! Vede, o vosso Deus vem para vos salvar. Ele abrirá os olhos cegos, não só os olhos dos cegos, mas os olhos cegos daqueles que não querem ver a maravilhosa ação de Deus; ele soltará a língua dos que querem louvá-lo, agradecê-lo e bendizê-lo; daqueles que querem ser justos. O nosso Deus fará maravilhas, porque ele não faz distinção nenhuma de pessoas. Ele não nos julgará por nossa aparência, e sim pelo tanto de amor que tivermos em nossas boas obras (cf Tg 2, 1-5: Is 35,4-7). Ele não é como nós humanos; Ele é o Deus justo e fiel.

Deus se fará presente por meio de seu Filho muito amado, é o que nos afirma o Evangelho de Marcos (Mc 7,31-37)!

Marcos apresenta Jesus fazendo o bem, sendo muito misericordioso, não só em Israel, que pode estar representando as pessoas de anel de ouro e bem vestidas, com título nobre como um “povo escolhido e amado”.

Jesus tem as mesmas atitudes do Pai-Deus, que também é Mãe, Jesus cura um surdo-mudo (algumas traduções dizem um surdo-gago que não consegue pronunciar bem as palavras). Jesus vem enaltecer, dignificar a pessoa que é desprezada pela sociedade; que é excluída e empobrecida por muitas injustiças sociais e até religiosas.

Jesus defende aquele que não tem ninguém para defendê-lo diante dessas situações constrangedoras.

Na narrativa de hoje Marcos apresenta uma pessoa marginalizada. Marginalizada pelos Judeus Israelitas, por ser ele um estrangeiro, filho da região de Tiro e Sidônia, terras consideradas impuras, pagãs, sem conceito algum.

Diz a narrativa que colocaram diante de Jesus um homem que não conseguia ouvir e por isso não podia se expressar, não podia dar suas opiniões, não contava na sociedade. Jesus olha para ele cheio de compaixão. Retira o homem do ambiente que o despreza e o humilha. Leva-o para um lugar onde só ele pode mostrar-lhe e dar-lhe a dignidade de que necessita para ser uma pessoa realizada.

Então, Jesus usa uma pedagogia incrível. Molha com sua saliva um pouco de terra; faz lama, coloca-a sobre a boca e os ouvidos do homem e pronuncia a palavra da salvação, da inclusão social e religiosa: ABRE-TE! EFFTHA! ABRE-TE! Imediatamente o homem ouve e fala com perfeição.

Jesus coloca a pessoa humana numa situação de abertura total para Deus, para os outros e para si mesmo. Jesus inclui esse homem na história da salvação. Jesus continua nos incluindo a todos na história do amor do Pai.

Jesus usa o barro, a lama, para curar nossa humanidade, nosso barro, do qual todos somos originários – Adão ou em hebraico Hadamá significa: – você é humano, você é húmus, você é barro!

A saliva, a sua saliva, que Jesus tira de sua boca, é a seiva divina, prefigurada no seu sangue e água que jorram de seu peito ferido na cruz; é a seiva divina que irá curar nosso espírito, nossa alma e devolver a todos a gloriosa liberdade dos filhos de Deus, como afirma o apóstolo Paulo (Rm 8,21).

A narrativa, no final, diz que Jesus é reconhecido pelas suas obras não só pelo homem que foi curado, mas por todas as pessoas que viram o que Jesus fez. Então, todos o elogiam! E quanto mais Jesus pede para que não contem isso a ninguém (pois poderia ser morto mais depressa), mais as pessoas o reconhecem e o aclamam. E, muito impressionados, dizem a todo mundo: “Ele fez bem todas as coisas: fez os surdos ouvirem e os mudos falarem”.

Jesus é reconhecido como o Filho de Deus. Pois, assim como Deus Criador, fez bem todas as coisas; e depois de criar o ser humano, homem e mulher: “viu que tudo o que havia feito era muito bom" (Gn 2,26).

Queridos irmãos e irmãs de caminhada, que tal imitar a atitude de Jesus?

Que tal não julgar ninguém apenas por sua aparência?

Que bom se pudermos fazer isso! Que bom se na hora da nossa morte os que nos conheceram por aquilo que somos puderem dizer isto de nós: “Ele fez bem, ela fez bem todas as coisas!!!!"

Pensemos nisso!

Peçamos a Jesus que abra nossos olhos, nossos ouvidos, nossa boca e mãos para fazermos só e sempre o bem. Então poderemos cantar com o salmista: Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Em todo o tempo, bendiga sempre o Senhor teu Deus.

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