30 Agosto 2021
Somente zerar emissões até 2050 será “tarde demais”, diz relatório divulgado nesta quarta-feira. Retirada de gases da atmosfera precisa entrar na conta.
A reportagem é de Cristiane Prizibisczki, publicada por ((o))eco, 26-08-2021.
O Conselho Consultivo de Crise Climática, corpo científico internacional formado por especialistas no clima, acaba de divulgar um novo relatório no qual adverte governos e sociedade sobre a necessidade de adoção de metas negativas de emissões desde já, a fim de evitar o colapso climático.
No relatório, lançado nesta quarta-feira (25), o CCAG (Climate Crise Advisory Group, na sigla em inglês) alerta que seguir um caminho que leve à neutralidade de carbono somente em 2050 é “muito tarde” e não será suficiente para atingir as metas de temperatura de longo prazo identificadas no Acordo de Paris para limitar o aquecimento global a 1,5ºC até o final do século.
O relatório adverte que mesmo que os países atinjam a emissão zero em meados do século, isso não traz impactos para os gases de efeito estufa que já estão na atmosfera, com concentrações de gás carbônico que podem chegar até 540 partes por milhão.
Faltando 67 dias para a COP26, Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, o relatório informa que é imperioso que, na próxima rodada de compromissos nacionais de redução de emissões (Contribuições Nacionalmente Determinadas – NDCs), os líderes globais mudem a ênfase e adotem planos de remoção de gases de efeito estufa na atmosfera, assumindo metas negativas.
“É importante notar que qualquer país que tenha se comprometido a alcançar o net zero, implicitamente se comprometeu também a remover os gases”, diz o relatório.
Para Mercedes Bustamante, pesquisadora da Universidade de Brasília e membro do CCAG, a ampliação das metas para incluir emissões negativas ressalta a importância do setor de mudanças de uso e cobertura da terra.
Neste cenário, o Brasil se apresenta como um ator relevante, diz a pesquisadora, desde que a governança ambiental seja reconstruída com responsabilidade. “A conservação e restauração dos ecossistemas naturais, em particular na região tropical, e o manejo adequado dos sistemas agropecuários oferecem oportunidades significativas para contribuir com o esforço global de limitar os impactos das mudanças do clima”.
O Conselho Consultivo de Crise Climática é um grupo científico independente internacional, com 14 grandes especialistas mundiais de uma variedade de disciplinas relacionadas ao clima. O objetivo do CCAG é fornecer aconselhamento e orientação para líderes globais que buscam fortalecer suas ações de combate à crise climática.
O CCAG é liderado pelo Sir David King, ex-conselheiro científico do governo do Reino Unido e, no Brasil, é representado pela pesquisadora Mercedes Bustamante, da UnB.
O relatório divulgado nesta quarta-feira é o terceiro de uma série de análises mensais. O primeiro relatório, divulgado em junho, descrevia o estado da crise climática e convocava ação política e financeira internacional ágil para mitigar seus efeitos. O segundo relatório, de julho, tratava do papel do aquecimento do Ártico como gatilho para eventos climáticos extremos.
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Países precisam assumir metas negativas de emissões para evitar colapso climático, alertam cientistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU