18 Mai 2021
Pablo Servigne, Jared Diamond, Bruno Latour, Valérie Masson-Delmotte... São biólogos, antropólogos, engenheiros ou climatologistas, e convidam os políticos a reinventar a relação do homem com a natureza. Um breve panorama geral.
A reportagem é de Olivier Nouaillas e Pascale Tournier, publicada por La Vie, 04-05-2020. A tradução é de André Langer.
Pablo Servigne, 42 anos, engenheiro agrônomo
Comment tout peut s'effondrer (Como tudo pode colapsar), seu best-seller assinado com Raphaël Stevens (Seuil, 2015), catapultou a colapsologia para a vanguarda do cenário ambiental. Este engenheiro agrônomo e doutor em biologia, formado na Bélgica, popularizou na França o termo “colapsologia” (estudo transdisciplinar do colapso da civilização industrial). Em 2019, ele lançou uma revista trimestral, Yggdrasil, do nome de uma árvore que, na mitologia nórdica, sobrevive a um cataclismo. Porém, durante a pandemia do coronavírus, ele admite: “Essa crise, eu não a vi chegando, embora já a conhecesse em teoria”. Retirado no Drôme, Pablo Servigne considera que se trata de “um infarto generalizado que mostra a extrema vulnerabilidade de nossas sociedades globalizadas”. Seu último livro, Une autre fin du monde est possible (Seuil, 2018) (Outro fim do mundo é possível), revisita as noções de ajuda mútua, resiliência e autonomia. Pablo Servigne, que muitas vezes mostra seu interesse pelas religiões e a espiritualidade, gostaria de passar da “colapsologia” à “colapsosofia”. (O.N.)
Imagem: Pablo Servigne, autor do livro livro 'Como tudo pode colapsar' | Foto: Eupalinos Ugajin / Flickr CC
Jared Diamond, 82 anos, biólogo, ornitólogo, geógrafo e antropólogo
A nova geração cita-o como o primeiro a pensar na teoria da “colapsologia”. Biólogo evolucionista, ornitólogo, professor de geografia da Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla) e antropólogo, publicou, em 2005, Colapso. Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso (Record, 2020), um best-seller mundial: através do estudo dos vikings, maias ou da Ilha de Páscoa, recorda que o homem pode estar na origem da destruição de civilizações. “As sociedades mais avançadas e criativas também podem entrar em colapso”, escreve, apontando para os danos ao meio ambiente, que são decisivos na queda de uma civilização. Suas análises nem sempre são unânimes: alguns o acusam de “determinismo ambiental”, até mesmo de racismo. Publicado em 2019, seu livro Reviravolta. Como indivíduos e nações bem-sucedidas se recuperam das crises (Record, 2019) contraria seu pessimismo latente. Baseando-se particularmente no exemplo do Chile e de sua gestão do legado do General Pinochet, ele está interessado na resiliência das sociedades que passaram por crises profundas. Um livro que cai como luva na mão. (P.T.)
Imagem: Jared Diamond, biólogo, ornitólogo, geógrafo, antropólogo e autor do livro 'Reviravolta. Como indivíduos e nações bem-sucedidas se recuperam das crises' | Foto: Steve Jurvetson / Flickr CC
Philippe Descola, 70 anos, antropólogo
Em 1976, o estudante Philippe Descola partiu rumo às profundezas da Amazônia para descobrir o povo Achuar. Uma experiência de quase três anos, realizada em companhia da esposa, que marca para sempre seu trabalho como antropólogo. Professor emérito do Collège de France, titular da cátedra de antropologia da natureza de 2000 a 2019, medalha de ouro do CNRS, ele questiona o lugar do homem no seu ambiente. Publicado em 2005, seu principal livro Par-delà nature et culture (Para além da natureza e da cultura) resume sua concepção de uma antropologia não dualista. A natureza não existe, insiste, ela é uma construção social recente na história da humanidade. Para enfrentar a crise ecológica e o esgotamento dos recursos do planeta, trata-se de acabar com a separação entre humanos e não humanos, de promover um humanismo não antropocêntrico. Em tempos de crise ecológica, essa abordagem encontra sua tradução política, segundo ele, nas experiências de vida alternativas ou autônomas em territórios específicos, como em Notre-Dame-des-Landes. (P.T.)
Gilles Boeuf, 69 anos, biólogo
Presidente do Museu Nacional de História Natural de 2009 a 2015, ele criou um programa de ciência participativa que incentiva o público em geral a observar a biodiversidade – contagem de pássaros, borboletas, libélulas, etc. Este biólogo, especialista no mundo marinho e no oceano, fez uma pequena incursão no mundo político ao se tornar conselheiro científico de Ségolène Royal no Ministério do Meio Ambiente de 2015 a 2017, tempo suficiente para ajudar na criação da Agência Francesa para a Biodiversidade (que passou a ser, no final de 2019, o Escritório Francês para a Biodiversidade). Desde então, tem dado inúmeras conferências, insistindo no “excesso do Homo sapiens” e “na ameaça de uma sexta extinção das espécies”. Defensor do biomimetismo – processo de engenharia inspirado em coisas vivas –, Gilles Boeuf defende incansavelmente o respeito pelos ecossistemas e a resiliência da natureza. “Nossos três defeitos são a imprevidência, a arrogância e a ganância, destaca ele a propósito da pandemia provocada pelo coronavírus. É imperativo mudar nosso estilo de vida”. (O.N.)
Imagem: Gilles Boeuf, biólogo, Ex-presidente do Museu Nacional de História Natural e co-criador da Agência Francesa para a Biodiversidade | Foto: Espace des sciences / Wikimedia Commons
Bruno Latour, 72 anos, sociólogo, antropólogo e filósofo
“Quando escrevi Políticas da Natureza (Editora Unesp, 2019), por volta de 1995, ainda acreditávamos que o desafio ecológico era um problema do qual íamos sair, não um desafio de civilização”, confidencia Bruno Latour ao jornal La Croix em fevereiro de 2020. Pouco conhecido do grande público, este filósofo tornou-se um dos pensadores mais sagazes da crise ecológica. Assim, em 2017, em meio à polêmica em torno do projeto do aeroporto de Notre-Dame-des-Landes, publicou Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno (Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020), em que considera “que é absolutamente necessário transformar todas as questões atribuídas à ecologia em questões de território, de ocupação e defesa do solo”. Para ele, Donald Trump, ao se retirar do acordo do clima de Paris, “abandonou a ideia de um mundo comum” e deve servir de “anti-bússola”. No final de março, escreveu na revista eletrônica AOC: “A crise da saúde está inserida naquilo que não é uma crise – sempre passageira –, mas uma mudança ecológica duradoura e irreversível”. (O.N.)
Imagem, Bruno Latour, sociólogo, filósofo, atropólogo e autor da obra 'Políticas da Natureza' | Foto: G.Garitan / Flickr CC
Frédéric Keck, 45 anos, historiador da filosofia e antropólogo
Essa estrela em ascensão da antropologia possui as mesmas qualidades de seus mentores. Diretor do laboratório de Antropologia Social do CNRS desde 2018, Frédéric Keck multiplica os ângulos de visão e o trabalho de campo. Grande especialista em Henri Bergson, Lucien Lévy-Bruhl e Claude Lévi-Strauss, estudou antropologia na universidade americana de Berkeley. Depois de ingressar no CNRS em 2005, foi para Hong Kong e estudou, de 2007 a 2009, o impacto das crises sanitárias ligadas à SARS e à gripe aviária. Em seguida, fez várias viagens a Taiwan e Cingapura entre 2010 e 2014. Durante suas viagens, visitou laboratórios, mercados chineses e trabalhou no Centro de Estudos Franceses sobre a China Contemporânea. Desta experiência nasce o livro Un monde grippé (Flammarion, 2010) (Um mundo gripado). Sua conclusão é simples: “As doenças animais expressam mudanças profundas nas relações entre humanos e animais, que são essenciais para a maneira como os humanos pensam e agem no seu ambiente”. Resumindo: se o homem não modificar sua relação com a natureza, as pandemias continuarão. O aparecimento da Covid-19 confirma o seu trabalho. (P.T.)
Laëtitia Atlani-Duault, 47 anos, antropóloga
Ela não está sob as luzes dos holofotes. No entanto, na crise da Covid-19, ela ocupa duas posições chaves. Diretora científica da Fundação Maison des Sciences de l'Homme e diretora de pesquisa do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento, ela é membro do Conselho Científico Covid-19 e do Comitê de Pesquisa e Análise e Expertise, duas estruturas ad hoc criadas para assessorar o presidente e o governo. No meio de epidemiologistas e médicos, ela traz sua musiquinha das ciências sociais. Ou seja, a análise do impacto social da pandemia e a criação de respostas públicas adequadas. A parte que lhe toca é a seguinte: questões relacionadas às desigualdades sociais, às liberdades públicas ou às relações de solidariedade. Assuntos que esta medalha de bronze do CNRS domina perfeitamente. Fontes sociais da epidemia da Aids na Ásia Central, rumores em tempos de epidemia, boa governança nas ONGs... seus trabalhos de pesquisa e seus livros, traduzidos em várias línguas, são uma referência. De 2012 a 2015, ela foi Conselheira Sênior para Assuntos Humanitários no Secretariado das Nações Unidas. Pesquisadora afiliada da Mailman School of Public Health, da Universidade de Columbia em Nova York, ela também é membro da Comissão de Inquérito sobre os Abusos Sexuais na Igreja, dirigida por Jean-Marc Sauvé. (P.T.)
Jean Jouzel, 73 anos, climatologista e glaciologista
Ex-vice-presidente do grupo científico do IPCC, participou de todos os principais relatórios desse grupo até a assinatura do Acordo de Paris em 2015. Autor de numerosos livros de popularização da ciência, este ex-diretor de pesquisa do Comitê de Energia Atômica e do Instituto Pierre-Simon-Laplace, medalha de ouro do CNRS e de sensibilidade de esquerda, não hesita em marcar presença nos meios de comunicação e em descer à arena política. Membro do Conselho Econômico, Social e Ambiental e do comitê de governança da Convenção Cidadã do Clima, criado em 2019, presidiu o comitê de apoio a Anne Hidalgo durante as últimas eleições municipais em Paris. Ciente da emergência climática – “Não vejo o colapso, mas vejo que torramos aos poucos”, disse –, Jean Jouzel é o autor, com o economista Pierre Larrouturou, do Pacto Finanças-Clima, que faz campanha para que a Europa adote um Plano Marshall para o clima de 1 trilhão de euros (economia verde, energias renováveis). Como tal, foi recebido em audiência no Vaticano pelo Papa Francisco. (O.N.)
Imagem: Jean Jouzel, climatologista, glaciologista e Ex-vice-presidente do grupo científico do IPCC | Foto: G.Garitan / Wikimedia Commons
Valérie Masson-Delmotte, 48 anos, paleoclimatologista
Foi ela quem substituiu Jean Jouzel como vice-presidente do comitê científico do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em 2015. Diretora de Pesquisa da Comissão de Energia Atômica, esta paleoclimatologista lutou várias vezes contra os céticos do clima, notadamente Claude Allègre e Vincent Courtillot, acusando-os de “distorcer os fatos”. Ela é membro do Conselho Superior para o Clima, órgão independente francês criado em 2018, cujo primeiro relatório mostrou que a França estava abaixo das metas estabelecidas para a redução de suas emissões de gases de efeito estufa. Ela defende a introdução das ciências do clima nos currículos escolares e tem apoiado Greta Thunberg e as marchas pelo clima organizadas pelos jovens. Porque, disse ela para La Vie em 27 de setembro de 2018 (n. 3813), são as gerações mais jovens “que podem nos fazer vencer a batalha do clima”. (O.N.)
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Colapsologistas, antropólogos, climatologistas: os novos pensadores dos seres vivos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU