27 Abril 2021
A cúpula do Dia da Terra convocada pelo presidente Biden foi bem avaliada pela sua expertise midiática, incluindo uma aparição do Papa Francisco. Substancialmente, as mudanças políticas anunciadas por Biden alcançaram exatamente o equilíbrio certo ao tentar impulsionar os EUA rumo à redução das emissões de combustíveis fósseis e à conversão da economia para fontes de energia sustentáveis.
O comentário é de Michael Sean Winters, publicado por National Catholic Reporter, 26-04-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Da mesma forma, ela irritou políticos e especialmente ativistas, tanto da direita quanto da esquerda, geralmente um sinal revelador de que o caminho correto foi traçado. Não há como escapar da necessidade de calcular as políticas contra as mudanças climáticas e a profundidade da camada de ozônio, para descobrir como proceder.
A mudança mais significativa anunciada por Biden foi uma virtual duplicação da meta de redução das emissões para 50-52% até 2030. A Casa Branca delineou alguns investimentos-chave que possibilitariam essa redução, enfatizando o potencial de criação de postos de trabalho:
“Trabalhadores que instalarão milhares de quilômetros de linhas de transmissão para uma rede limpa, moderna e resiliente; trabalhadores que tamparão poços abandonados, recuperarão minas e pararão vazamentos de metano; trabalhadores automotivos que construirão veículos modernos, eficientes e elétricos e a infraestrutura de carregamento para sustentá-los; engenheiros e trabalhadores da construção civil que expandirão a captura de carbono e hidrogênio verde para forjar aço e cimento mais limpos; e agricultores que usarão ferramentas de ponta para fazer do solo estadunidense a próxima fronteira da inovação de carbono.”
Enquanto os críticos reclamam do preço de tais investimentos, Biden poderia perguntar: “Então, você se opõe à criação de novos empregos aqui em [insira aqui o nome da cidade onde ele está falando]?” Isso é politicamente mais convincente do que argumentar sobre a necessidade de alcançar metas climáticas difíceis de entender em um futuro distante. A lista de Biden consiste em todos os empregos de colarinho azul, uma refutação não muito sutil à afirmação do Partido Republicano de que eles são os verdadeiros representantes da classe trabalhadora.
Biden também revelou planos para o primeiro plano internacional de financiamento climático. O governo dobrará a ajuda de financiamento climático aos países em desenvolvimento até 2024, trabalhará para mobilizar o financiamento privado e encerrará o atual financiamento para indústrias de combustíveis fósseis. Os países em desenvolvimento têm todo o direito de continuar expandindo as suas economias, mas a saúde do planeta exige que os ajudemos a evitar a dependência nos combustíveis fósseis que caracterizaram o desenvolvimento dos séculos XIX e XX no Ocidente.
Os EUA ainda têm as emissões per capita mais altas com uma ampla margem, embora seja interessante que a pegada de carbono per capita da Europa agora é menor do que a da China. Ajudar os países pobres a desenvolverem tecnologias limpas salvará o mundo – e os pobres do mundo – de futuros pesadelos climáticos.
Os republicanos, é claro, foram rápidos em atacar. O líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, chamou as propostas de Biden de “completamente desastrosas”. Quarenta e quatro membros do Partido Republicano no Congresso assinaram uma carta se opondo ao plano financeiro internacional, dizendo que isso equivalia a politizar o setor bancário.
O líder da minoria na Câmara, Kevin McCarthy, apresentou um plano alternativo que eles diferenciaram das propostas de Biden, dizendo: “Ao contrário dos planos dos democratas, os nossos não eliminam os empregos estadunidenses, nem deixam a energia estadunidenses mais cara”.
A reclamação de McCarthy é a mais perniciosa, porque é potencialmente a mais eficaz. O erro inicial de Biden ao cancelar o Oleoduto Keystone antes de encontrar uma destinação alternativa para os trabalhadores de lá torna mais provável que essa acusação do Partido Republicano vai pegar.
Vários Estados estão processando Biden pela sua decisão sobre o oleoduto e, mesmo se perderem, ajudarão a criar a narrativa: a política climática dos democratas acaba com postos de trabalho.
Alguns ativistas de esquerda reclamam que as novas metas de Biden não vão longe o suficiente. “Se você está perguntando se a meta dos EUA é justa e ambiciosa, o critério certo não é aquilo que será aprovado no Senado”, disse Sivan Kartha, cientista sênior do Instituto de Meio Ambiente de Estocolmo. “A questão é: o que os EUA deveriam fazer, dada a sua capacidade de ação e a sua responsabilidade histórica de causar o problema?”
Kartha tem um doutorado em física teórica pela Cornell, então ele não é um tolo. No entanto, deixar de reconhecer a necessidade de forjar um consenso político evidencia o tipo de estupidez em que os ativistas se destacam. É um convite ao tipo de retrocesso ao qual os EUA acabaram de sobreviver há quatro anos. Outra rodada de trumpismo não vai ajudar a salvar o planeta.
Eu encontrei esse tipo único de miopia ativista em uma reunião de líderes inter-religiosos de Massachusetts e cientistas do clima que eu ajudei a organizar em minha qualidade de membro sênior do Greenberg Center do Trinity College. Perto do fim do encontro de dois dias, que incluiu alguns líderes religiosos que nunca haviam se envolvido na questão, e como o grupo havia alcançado um consenso sobre alguns objetivos de curto prazo e geralmente estendendo boa vontade uns aos outros, um jovem ativista levantou-se e disse algo como: “Se as mudanças climáticas não são o seu problema número um, vocês não são moralmente sérios”.
De fato, havia muitas pessoas moralmente sérias que haviam dedicado suas vidas a outras causas, desde a proteção dos nascituros à construção de capital social em bairros centrais da cidade, à luta contra a injustiça racial e ao trabalho para limitar a ameaça de proliferação nuclear.
O jovem continuou, observando que Massachusetts era um Estado de ineditismos – foi uma das primeiras colônias a declarar a independência, uma das primeiras a abolir a escravidão e o primeira Estado a promulgar o casamento gay. É desnecessário dizer que alguns dos líderes religiosos presentes estiveram do outro lado do debate sobre o casamento gay. O jovem, tão determinado a exortar todos a agirem contra as mudanças climáticas, conseguiu apenas dificultar ainda mais esse esforço.
Biden traçou um rumo certo e não deveria permitir que seu governo seja puxado para um lado ou para outro, seja pela intransigência republicana, seja pelos ambientalistas de esquerda que descartam a importância da política. Se concessões são necessárias para que isso seja aprovado no Congresso, é disso que se trata a política.
A tarefa que se tem pela frente não é palpitar sobre a própria política. É garantir que essas novas metas ambiciosas sejam cumpridas, o que não é uma tarefa fácil, nem uma pequena conquista.
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Os acertos de Biden em sua abordagem às mudanças climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU