04 Janeiro 2021
Acusada de “começar brigas e provocar problemas”, espalhar mentiras e inventar informações falsas, a ex-advogada e jornalista autônoma Zhang Zhan, 37 anos, foi condenada a quatro anos de prisão, na segunda-feira, 28 de dezembro, pelo Tribunal Popular do Novo Distrito de Shangai Pudong. O julgamento durou menos de três horas e ocorreu a portas fechadas.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Qual o seu crime? Em fevereiro do ano passado elas se descolou de Xangai , onde residia, até Wuhan, epicentro do coronavírus, e realizou reportagens em vídeos postados em redes sociais mostrando hospitais lotados, ruas vazias e cidadãos preocupados com suas finanças, segundo a agência Reuters. Ela acusou o Partido Comunista Chinês (PCC) de silenciar denunciantes sobre o vírus.
Zhang foi presa em maio passado, e foi a primeira cidadã conhecida a enfrentar um julgamento por narrar o surto na China. Suas postagens desafiaram a propaganda que exaltava as ações do governo no combate ao coronavírus. O governo chinês tentou, inicialmente, esconder o vírus. Num dos vídeos ela opinou: “A forma do governo administrar esta cidade tem sido apenas intimidação e ameaças. Esta é realmente a tragédia deste país”.
O advogado Chen Jiangang, voltado à defesa dos Direitos Humanos e fugido da China aos Estados Unidos, disse ao The New York Times que a sentença aplicada a Zhang mostra o compromisso do PCC em preservar a sua narrativa do surto. “Sempre que o PCC pensa em um caso como político, o que usa é a repressão, supressão extremamente cruel”.
Zhang compareceu ao julgamento em cadeira de rodas, pois estava com a saúde debilitada, relatou o advogado Zhang Keke. Cristã convicta, a jornalista fez greve de fome no final de junho e em dezembro sentiu dores de cabeça, tontura, dor de estômago, pressão baixa e infecção da garganta, de acordo com a Reuters.
Seus advogados disseram ao tribunal que a polícia amarrou as mãos da jornalista e obrigou-a a se alimentar através de um tubo. Os pedidos encaminhados ao Tribunal para libertar Zhang sob fianças antes do julgamento e transmiti-lo ao vivo foram ignorados.
“Isso mostra que nunca saberemos a verdade sobre a pandemia”, declarou o consultor de pesquisa da Chinese Human Rights Defenders, Leo Lan. “A sentença pesada a Zhang Zhan terá um efeito dissuasor de silenciar outras pessoas que testemunharam o que aconteceu em Wuhan no início do ano (de 2020)”, declarou para Lily Kuo, chefe do escritório do The Washington Post na China.
Do lado de fora do Tribunal Popular do Novo Distrito de Pudong, em Shangai, a política empurrou repórteres e simpatizantes para longe do prédio. “O manejo de Wuhan é muito sensível. Muitas pessoas na China ainda estão muito irritadas com o encobrimento inicial e a minimização”, disse o pesquisador da Human Rights Watch para a China, Yaqiu Wang.
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Jornalista que postou reportagens de Wuhan logo após o início da pandemia é condenada a quatro anos de prisão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU