18 Novembro 2020
Para Dom Derio Olivero, bispo de Pinerolo, na Itália, “o bem de todos vale a renúncia ao culto por duas semanas. Essa doença fortaleceu a minha fé e o sentido de reconhecimento por ainda estar vivo. Eu gostaria de ajudar os jovens”.
A entrevista é de Domenico Agasso Jr., publicada por Vatican Insider, 12-11-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Ser cristão também significa saber renunciar ao direito de culto pelo bem de todos. Nesse caso, para conter o vírus letal.” Por isso, Dom Derio Olivero decidiu suspender as missas festivas por duas semanas, embora esteja ciente de que há fiéis que não concordam.
Nas sagradas salas vaticanas, o bispo de Pinerolo é considerado mais do que uma figura emergente na Igreja italiana, pastor do “social”, mas também da cultura e da arte, muito estimado pelo Papa Francisco. Ele se despediu da Diocese de Fossano vestindo um suéter, ajoelhando-se para se deixar abençoar pela multidão que acorrera para saudá-lo. No semestre passado, ele foi hospitalizado com Covid-19, entubado e traqueostomizado.
Como nasceu a decisão de parar as missas festivas?
A partir de um debate dentro da Igreja Católica e com a Igreja Valdense. Raciocinamos sobre a gravidade da pandemia, buscando algumas soluções para reduzir as aglomerações. É uma reflexão que todas as dioceses fizeram, e depois cada uma tomou iniciativas de acordo com a sua própria realidade: houve quem interrompeu a catequese, quem fechou o oratório.
Mas o decreto do governo italiano não deixa em aberto o direito de celebrar o culto?
Sim, mas nós consideramos oportuno dar um passo atrás pelo bem comum. Ser cristão também significa saber renunciar aos próprios direitos pelo bem de todos.
Como você responde a quem o acusa de “relativizar” a eucaristia?
Não se pode abrir mão da eucaristia. O objetivo da nossa medida é reduzir o risco de contágio em uma região “vermelha”. Mas, ao longo da semana, há as celebrações feriais das quais é possível participar livremente.
Como você vive as reações de protesto da galáxia tradicionalista?
Eu recebi muitas mensagens de aprovação e algumas de clara discordância. Mas estou feliz que a Igreja tenha posições diferentes. Ser cristão não significa estar alinhado com um pensamento único, mas com um único Salvador, Jesus Cristo.
Você correu o risco de morrer por causa da Covid-19: isso afetou a sua decisão?
Não. Ela tem apenas a ver com o perigo de colapso dos hospitais.
Qual a importância, na sua vida cotidiana, de ter se salvado?
Essa doença fortaleceu a minha fé e o sentido de reconhecimento por ainda estar vivo. Sou grato por esses dias que ainda me foram concedidos.
Como pastor da Igreja, como você interpreta a pandemia?
Ela nos exorta a nos perguntarmos o que podemos dar ao mundo, de que modo podemos ser uma minoria generativa.
Em que sentido?
Nós, católicos praticantes, somos uma minoria, mas, neste tempo, redescobrimos como o fato de sermos fiéis nos ajuda a ser confiantes. E quanto bem se faz e se recebe com a solidariedade.
Quando acabar, o que não deveremos desperdiçar desse período suspenso?
A dimensão da casa, o lugar cotidiano onde também podemos cuidar da nossa própria espiritualidade.
Você está se dirigindo apenas aos fiéis?
Não pretendo ir ensinar os não crentes a viver, mas, como cristão, gostaria de ajudar os não crentes a gerir a vida, especialmente quando ela é mais difícil. Em particular, gostaria de ajudar os jovens, que são vítimas dramáticas da recessão geral.
Pode nos explicar?
Nós, adultos, estamos ignorando quantos sacrifícios a epidemia exige dos jovens, privando-os de muitos momentos de escola e de esporte, de reencontros com os amigos. Eu gostaria que valorizássemos mais os nossos jovens também por isso.
O que gostaria de dizer aos políticos?
Agradeço aos governantes: parece-me que estão dando as melhores energias para nos fazer resistir. Peço, assim que puderem se dedicar ao relançamento, que atuem a sério nas questões de justiça relacionadas com o mundo do trabalho.
Um pensamento ao seu presidente, o cardeal Gualtiero Bassetti, gravemente atingido pela Covid-19...
Todos os dias eu penso nele, nas suas longas noites. Eu também passei muitas assim. A última oração da noite é sempre por ele.
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“Eu sobrevivi à Covid-19. Agora, para proteger a comunidade, nada de missas dominicais.” Entrevista com D. Derio Olivero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU