Mídia, infância e socialização: perspectivas contemporâneas

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Por: Guilherme Tenher Rodrigues | 17 Setembro 2020

Que processos de socialização entre crianças e adolescentes estão operando nas sociedades contemporâneas? Esta é a pergunta de partida dos Cadernos IHU Ideias número 302 de Renata Tomaz, pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano da Universidade Federal Fluminense - UFF e doutora e mestre em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.

Entretanto, Renata adiciona mais um elemento-chave a esta indagação: a mídia. A autora desenvolve seu estudo buscando entender em que medida os aparatos midiáticos afetam os processos de socialização das crianças na contemporaneidade. Assim, o artigo discorre sobre a evolução da midiatização, em especial a contemporânea que se manifesta através de “aparelhos eletrônicos” ou de “diversas telas” e como este fenômeno comunicacional, que ocupa um considerável espaço no sistema de mercado, influencia no “conjunto de processos por meio dos quais cada indivíduo assimila os princípios e valores da sociedade em que está a fim de ser e agir dentro das expectativas de tal ambiente”. Ademais, Renata aponta alguns caminhos para a compreensão destes comportamentos:

“Ao longo do texto, argumento a existência de pelo menos duas maneiras de as práticas comunicacionais atuarem na socialização de crianças na contemporaneidade: o consumo midiático e a produção midiática por meninos e meninas, cada vez mais interpelados por diferentes linguagens (de som, de texto, de imagem em movimento etc.). De um lado, defendo que os produtos culturais oferecidos ao chamados pré-adolescentes carregam diretrizes sobre como ser e estar criança no mundo. De outro, argumento que as crianças usuárias de plataformas que lhes permitem produzir e publicizar conteúdos diversos constroem modos específicos de elas se inserirem no cenário social. Ao final, a reflexão permite enxergar ambas as práticas como domínios profícuos para a investigação da emergência de novas subjetividades infantis”.

Para a autora, observa-se na sociedade contemporânea uma “mídia extremamente ativa no reconhecimento das crianças como interlocutores da cultura e, portanto, alvo de seus discursos e ações”. Uma das análises mais significativas do estudo de Renata é o fato de a mídia carregar a formação de imagens-identidades, bem como intermediar a socialização entre crianças e adolescentes através de processos mercantis de produção e consumo de conteúdo por e para estes sujeitos.

A Infância, o Mercado e as Telas

Os processos de socialização na infância e o uso cada vez mais intensivo de instrumentos midiáticos e aparelhos eletrônicos apontam novas perspectivas de intersubjetividades e expressões sobre a agência das crianças. Desta forma, a comunicação e a consequente formação de identidades através destas tecnologias produzem resultados ambivalentes. Renata aponta alguns atravessamentos, citamos aqui dois deles. O primeiro se refere ao conflito entre o direito de participação social e o direito à proteção, “o direito dos mais jovens à participação (social, política, cultural), cada vez mais defendido no âmbito das militâncias e das ciências sociais, não raro acaba por esbarrar em outro direito assegurado pelo mesmo documento: o de proteção. Ao mesmo tempo que se quer dar espaço às crianças para que se coloquem como cidadãos nas diferentes esferas da sociedade, percebe-se a necessidade de criar formas de protegê-las dos possíveis danos que podem emergir de tais dinâmicas”, relata.

O segundo apresenta como a intensificação na produção de vídeos com conteúdo para o público mais jovem acarreta mudança nos modelos de conduta e nas figuras tradicionais dos ambientes escolar e familiar. Segundo Renata:

“Esses vídeos revelam como os usos que as crianças fazem da plataforma permitem tornar algo que costumava ser privado – a vida íntima delas – em público. É claro que os adultos também o fazem, nos mesmos moldes. A diferença é que tais práticas propiciam às crianças ter como referência de figuras exemplares outras crianças. Elas não precisam se projetar naquilo que poderão ser um dia ou em breve. 'Eu posso ser um youtuber hoje', diziam elas nas conversas de campo. 'Não preciso ficar grande, nem adulta'. Diferentemente das crianças prodígios que ficavam famosas porque conseguiam fazer coisas como um adulto (cantar, dançar, interpretar, pintar, tocar), os produtores de conteúdo infantis o fazem da forma mais oportuna possível: mostrando elas mesmas, em sua vida cotidiana”.

Capa de "Mídia, infância e socialização: perspectivas contemporâneas. Artigo de Renata Tomaz.
Cadernos IHU ideias, Nº 302

O artigo está estruturado da seguinte forma:

Introdução

Mídia, infância e socialização

Consumo midiático e inserção social

Produção midiática e inserção social

Considerações finais

Para ter acesso ao texto integral, clique aqui.

Renata Tomaz. Pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano da Universida¬de Federal Fluminense (UFF). Doutora e mestre em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Autora dos livros O que você vai ser antes de crescer? Youtubers, infância e celebridade (EDUFBA) e Da negação da infância à invenção dos tweens: imperativos de autonomia da sociedade contemporânea (Appris).

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