03 Setembro 2020
No dia 02 de setembro de 2015, o menino de 3 anos foi encontrado em uma praia turca, devolvido pelo mar após se afogar no Mar Egeu, com seu irmão Galip, sua mãe, Rehanna, e outros nove refugiados.
A reportagem é publicada por 1001 Infos, 02-09-2020. A tradução é de André Langer.
A foto de Aylan deitado de bruços na areia molhada deu a volta ao mundo em questão de horas. Ela move tanto quanto choca e lança uma luz dura sobre a situação de centenas de milhares de migrantes que arriscam suas vidas para chegar à Europa.
Apenas o pai, Abdullah, sobreviveu ao naufrágio de seu barco inflável improvisado enquanto tentavam, saindo do balneário de luxo de Bodrum, chegar à ilha grega de Kos, porta de entrada na União Europeia.
Como centenas de milhares de sírios, a família Kurdi fugiu da sangrenta guerra que grassa em seu país desde 2011 e do avanço do Estado Islâmico na região de Kobane, onde viviam.
Eles “decidiram correr o risco (...) de ir a algum lugar onde pudessem encontrar, pensavam, segurança e esperança”, explicou Tima Kurdi, tia de Aylan, em entrevista coletiva concedida à ONG alemã Sea-Eye em Regensburg (sudoeste da Alemanha).
“Não podemos fechar os olhos e dar as costas” aos refugiados, insistiu a sra. Kurdi na véspera do quinto aniversário da morte do menino.
“Pessoas no mundo inteiro continuam sofrendo, e a situação está piorando ainda mais (...) Elas estão pedindo ajuda”, acrescentou.
“No dia 02 de setembro de 2015, tomei conhecimento da trágica notícia: minha cunhada e meus dois sobrinhos morreram afogados”, contou a tia de Aylan, com a voz embargada de emoção a ponto de ter que interromper a conversa.
“A foto do meu sobrinho, Aylan Kurdi, o menino deitado na praia, estava em todas as mídias do mundo inteiro. E naquele dia, durante a minha primeira conversa telefônica com o meu irmão Abdullah que havia perdido toda a sua família (…), ele me disse: ‘a foto do meu filho é um apelo para acordar o mundo’”, acrescentou esta mulher nascida na Síria e que há muito tempo mora no Canadá.
“Nossa tragédia é infelizmente a de muitos outros”, destacou ainda Tima Kurdi. “Decidi fazer ouvir a minha voz em nome de todos aqueles que sofrem e não têm voz. Disse a mim mesmo: ‘se não posso salvar minha família, então salvemos a dos outros’”.
Tima Kurdi deve comparecer, nesta quarta-feira, 02 de setembro, aniversário da morte da criança, a um compromisso em Berlim convocado pela Sea-Eye. As comemorações também estão previstas para acontecerem em outras cidades da Alemanha, entre elas Colônia e Hamburgo.
A ONG alemã Sea-Eye rebatizou seu navio humanitário que opera no Mediterrâneo em homenagem ao pequeno sírio. Ela também anunciou na terça-feira que deseja enviar até o final do ano um segundo barco para resgatar migrantes na costa da Líbia, que terá o nome do irmão de Aylan.
A União Europeia teve em 2015 um afluxo significativo de migrantes vindo pelo Mediterrâneo.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), eram mais de um milhão, mais de 850 mil dos quais chegaram pela Grécia, vindos principalmente da Síria (56%), do Afeganistão (24%) e do Iraque (10%).
A queda nas chegadas de refugiados a partir de 2015 não pôs fim às tragédias no Mediterrâneo, nem às disputas pelo acolhimento destes homens, mulheres e crianças.
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A foto do pequeno Aylan chocou o mundo: 5 anos depois, sua tia lança um apelo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU