10 Agosto 2020
O corpo do padre Ricardo Antonio Cortez, crivado de balas, foi encontrado ontem na beira da estrada que liga San Salvador às províncias orientais. Em uma destas últimas, no coração da diocese de Zacatecoluca, Santiago de María, residia o sacerdote.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 09-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um lugar de lembrança para o menor país da América. O primeiro bispo titular de Santiago de María foi São Óscar Arnulfo Romero, que justamente durante aquela experiência pastoral, entre 1974 e 1977, teve oportunidade tocar de perto as injustiças e os abusos da ditadura, depois denunciada com paixão profética nos três anos como arcebispo de San Salvador. Não é por acaso que o seminário da cidade é dedicado ao pastor mártir.
O atual diretor era o padre Cortez, também pároco da vila de San Francisco Chinamequita. Na noite de quinta-feira, o padre de 44 anos havia deixado sua diocese a caminho da capital quando foi parado por desconhecidos, tirado do carro e assassinado. Por quem e por que razão não se sabe.
Mapa de El Salvador
(Foto: Open Source World Maps)
Segundo alguns meios de comunicação, por trás do "crime vil", como o definiu a diocese de Zacatecoluca, estariam as maras, gangues criminosas que derramam sangue em El Salvador. “Máfias dos pobres”, como vários especialistas as chamam, porque mantêm reféns as favelas metropolitanas, extorquindo dinheiro de ambulantes, engraxates, operários, motorista de ônibus.
O conflito permanente entre as organizações em que estão divididas – Mara Salvatrucha, Barrio 18 e Sureños – é o principal motor da violência recorde das últimas décadas. Desde junho passado, com o governo de Nayib Bukele, o número de assassinatos caiu: entre janeiro e julho foram 698, menos da metade em relação ao mesmo período de 2019. Porém, são sempre mais de dez para cada cem mil habitantes, nível que a ONU considera epidêmico. O presidente insiste que a queda se deve à sua estratégia de punho de ferro contra o crime. No entanto, muitos analistas questionam os dados e não descartam alguma forma de negociação clandestina com as gangues para conter a violência.
O padre Cortez não trabalhava diretamente pela recuperação dos mareros: seu ministério era dedicado à formação dos seminaristas e à paróquia. Um “bom pastor dedicado ao seu rebanho”, ressaltou a diocese, que definiu o assassinato como “inexplicável”. “É doloroso que o sangue inocente de um bom sacerdote seja derramado na terra de El Salvador” no ano do quadragésimo aniversário do assassinato de San Romero, pelos esquadrões da morte a soldo do regime.
Durante aquela época negra, entre os anos 1970-80, foram muitos os padres, os religiosos e os leigos engajados massacrados por sua defesa dos direitos humanos. Com o fim da guerra civil, porém, em 1992, os padres foram poupados. Depois, em menos de três anos, foram mortos três.
Em 29 de março de 2018, o padre Walter Osmin Vázquez, vigário paroquial de Usulutulán, também na diocese de Zacatecoluca, foi interceptado e assassinado enquanto se dirigia para celebrar a missa em uma aldeia próxima. No seu cadáver foi encontrada uma reivindicação de Mara Salvatrucha, considerada falsa pelos investigadores que prenderam e condenaram o sacristão.
No dia 17 de maio de 2019 foi a vez do padre Cecilio Pérez, pároco de San José de la Majada. O assassinato nunca foi esclarecido. A Conferência Episcopal de El Salvador fez um forte apelo às autoridades para que garantam a verdade e a justiça agora ao padre Cortez.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
El Salvador. Assassinado reitor do seminário: as emboscadas são um pesadelo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU