07 Agosto 2020
O covid-19 deixou as discrepâncias do mundo mais óbvias: disparidades de renda e riqueza, acesso à assistência médica e resultados díspares em raça ou gênero. “Mas também criou mais oportunidades para a igreja viver seu chamado profético. É nosso momento oportuno para estar acordado e ser proativo nas questões de desigualdades e injustiças”.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
A admoestação consta na série “Curando o mundo”, de oito estudos bíblicos que o Conselho Mundial de Igrejas oferece a indivíduos, grupos e comunidades de fé nesses tempos de pandemia, para facilitar a aceitação de termos como perda, medo e confusão gerados pela pandemia e na perspectiva de construir o mundo novo.
O CMI reconhece que a pandemia coloca pessoas à frente de “um teste fundamental” na providência de Deus”. Crist@os são convidados a reexaminar seu relacionamento com Deus, entre si e com a natureza. O primeiro dos oito estudos, elaborado por Joy Eva Bohol, trata do tema “medo”, apoiando-se na história dos israelenses diante do Mar Vermelho, quando fugiam do exército egípcio a caminho da terra prometida.
O texto de Êxodo (14, 10-31) narra que os israelenses estavam às margens do Mar Vermelho e atrás deles vinham os egípcio e seus carros e guerreiros. Os israelenses “temeram muito” e clamaram ao Senhor. Moisés respondeu ao povo: “Não temais; aquietai-vos e vede o livramento que hoje o Senhor vos fará”. Mas Deus também se manifestou, e disse ao líder Moisés: “Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levantas o teu bordão, estende a mão sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco”.
No contexto do covid-19, certamente houve momentos em que pessoas se viram como os israelitas diante do mar, sem poder voltar ao “velho normal”. “Mesmo quando fugimos do vírus inimigo, neste momento só podemos ver o Mar Vermelho à nossa frente e não sabemos o que nos espera”, compara o estudo bíblico.
Viajando com Deus por longos anos, Moisés parece ter esquecido que tinha em mãos um bastão que o Senhor lhe dera em seu primeiro encontro. O que fez Moisés quando chegou às margens do mar Vermelho? Apelou a Deus. E o que o Senhor lhe disse: ora, use o seu bastão!
Moisés deu segurança ao povo. “Não tema, permaneça firme e veja a libertação que o Senhor realizará para vocês hoje... O Senhor lutará por vocês”.
A resposta de Moisés leva a autora do estudo a lembrar uma frase comum nas Filipinas: “Vamos deixar tudo para Deus. Não há mais nada que possamos fazer sobre isso”. Mas tal concepção é mal usada “em situações em que, de fato, há algo que podemos fazer”, enfatiza Joy Eva Bohol.
Ela lembra a carta de Tiago (2, 14-17): “Qual é o proveito, meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, por acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e um de vocês lhes disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem contudo lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta”.
O texto de Tiago frisa que a fé deve levar à ação. “A oração deve ser mais do que falada em palavras – deve ser um testemunho vivo de nosso chamado à missão como discípulos de Cristo”.
Mesmo assim, “muitas vezes, como igreja, esquecemos nossa voz profética e choramos em desespero voltado a Deus. Como Moisés, somos lembrados por Deus da ‘equipe’ que temos – os dons e recursos que Deus, através do Santo Espírito, nos deu. Deus está nos dizendo, mais uma vez, para dizer ao povo para não ficar paralisado por causa do medo, mas seguir em frente”.
A pandemia tem causado medo, isolamento, pânico, raiva, ansiedade, dúvidas e impaciência. “Mas Deus nos deu os dons da coragem, comunidade, calma, alegria, confiança e paciência dentro de nossas comunidades religiosas, para enfrentar o atual mundo global em crise. Com a orientação do Espírito Santo, juntos cruzaremos com segurança para o outro lado do Mar Vermelho e para um ‘novo normal’ melhor para toda a criação de Deus”, encoraja o estudo bíblico preparado por Eva Bohol.
O texto desafia a detectar onde a voz profética da igreja pode ressoar na comunidade eclesial, na cidade, no país. Na comunidade, a proposta é que seja realizado um mapeamento que levante a existência de pessoas em grupos de alto risco e vulneráveis, que precisam de assistência para comprar bens essenciais. Ainda há pessoas no entorno que desconhecem os detalhes sobre o covid-19? O texto propõe conversas de solidariedade ecumênica por vídeo para o encorajamento mútuo neste momento de crise. Sugere o engajamento de jovens psicólogos, ou outros profissionais, que possam oferecer aconselhamento às pessoas, ou outro tipo de auxílio dentro de sua área de conhecimento.
O conceito de “curar o mundo”, que dá titulo à série de estudos bíblicos, reporta-se à palavra hebraica tikkun olam, que pode ser traduzida como “emendar o mundo”. O CMI reconhece que “curar o mundo da pandemia, suas causas e consequências, não será um evento único, mas uma jornada longa e difícil”.
Os oito estudos bíblicos, assinala o organismo ecumênico, querem facilitar a compreensão de termos como perda, medo e confusão gerados pela pandemia, acompanhados da perspectiva estimulante de construir um mundo novo.
Os estudos ofertados podem ser usados isoladamente ou em sequência. Eles se baseiam na experiência e na sabedoria de crist@os ecumênic@s de várias regiões, confissões e áreas de especialização. Joy Eva Bohol é uma missionária da Junta Geral dos Ministérios Globais da Igreja Metodista Unida.
Os textos refletem o significado de episódios-chave na Bíblia Hebraica e no Novo Testamento em seus contextos originais, mas também os trazem para os dias atuais, enfatizando as oportunidades que apresentam para “formular respostas autênticas à crise e às nossas vidas transformadas”, informa a apresentação da série “Curando o mundo”.
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A humanidade diante do Mar Vermelho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU