20 Junho 2020
O padre Hans Zollner na webinar sobre a “Tutela em tempo de pandemia”, indicou boas práticas para proteger as crianças que têm acesso à web e se tornam presas fáceis para os abusadores. Denuncia também o perigo do aumento de vítimas com até mesmo dois anos de idade.
A entrevista é de Benedetta Capelli, publicada por Vatican News, 19-06-2020.
O número crescente de abusos online de crianças e pessoas vulneráveis é impressionante. O isolamento tem levado ao aumento do acesso à web onde é mais fácil produzir e compartilhar pornografia infantil, atrair as pessoas mais frágeis, intimidá-las. O abuso de crianças menores de dois anos também tem sido denunciado. As informações foram dadas pelo padre Hans Zollner, membro da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores que conduziu a webinar: “A tutela online em tempo de isolamento”. Trata-se de encontros promovidos pela Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, a União Internacional dos Superiores Maiores, o centro de proteção de menores da Pontifícia Universidade Gregoriana e pela Onlus “Telefono Azzurro”. Participaram cerca de 300 pessoas de todas as partes do mundo.
Padre Hans Zollner, presidente do Centro de proteção de menores da Pontifícia Universidade Gregoriana explica o aumento dos casos de abuso durante a pandemia da Covid-19.
"O que sabemos é que já existem algumas estatísticas e também alguns dados que recebemos de órgãos policiais e de estudiosos. Eles indicam que certamente este período, como era de se esperar, trouxe um risco maior de abuso através do que se chama grooming, ou seja o aliciamento. É o relacionamento dos jovens através de chat com uma pessoa que na verdade é outra, esconde sua identidade, fingindo ser da mesma idade, do mesmo sexo, para assim ir se familiarizando com o propósito final do contato sexual ou pelo menos obter imagens sexuais do jovem com quem fez contato".
Mesmo antes do fechamento, as estimativas de aliciamento online já eram muito altas, hoje essas estimativas aumentaram ainda mais. Existe algum alerta particular que o senhor queira lançar para certos países?
Penso que estes são números provenientes de todas as partes do mundo e que indicam que o problema é o mesmo, porque precisamente o bloqueio foi ou é, mais ou menos, o mesmo em todos ou quase todos os países do mundo. Então o fato de um jovem ficar muito tempo em casa, sozinho, online, sem supervisão ou controle e de todos os canais de chat estarem abertos e até mesmo a pornografia se tornar mais acessível porque não há controle de idade, nos leva a dizer que aumentam os riscos quando os jovens, e não só os jovens, não têm orientação sobre o que fazer e o que não fazer.
Os jovens não têm limites e não sabem o que fazer para se protegerem mesmo diante de estranhos que querem entrar em contato. Particularmente grave é a situação quando o mundo inteiro vive praticamente um longo tempo em frente à tela, e é isso que todos nós já experimentamos nos últimos três ou quatro meses. Devemos, portanto, educar para proteger a dignidade e o respeito das pessoas vulneráveis, especialmente dos jovens.
Na sua opinião, a proteção da criança foi relegada a uma prioridade menor neste tempo de bloqueio?
Sim, foi o que observamos. Quando o mundo inteiro pensa, e é compreensível, em sua própria saúde, em seu próprio estado econômico, é quase certo que não se pensa nas crianças, e infelizmente isso acontece num momento em que há necessidade de se ter cuidado com os riscos que correm os jovens e outras pessoas vulneráveis. Pensemos, por exemplo, que estão em casa possivelmente com uma pessoa que os abusa dentro de sua família, portanto sem qualquer proteção, sem possibilidade de contato com os serviços sociais ou com a polícia. Algo aconteceu conosco ocidentais e que acontece em muitas partes do mundo quando há uma guerra ou uma catástrofe natural, quando a situação econômica é assustadora: não há preocupação com a segurança e a dignidade das crianças. Aconteceu em nossos próprios países, onde pensamos que a área de proteção à criança já havia adquirido uma posição bem fundamentada e sólida.
O senhor disse que houve relatos de abuso de crianças com menos de 2 anos de idade.
Daquilo que sabemos, infelizmente este é o número absoluto e está aumentando, isso é muito preocupante.
Quais são as boas práticas a serem seguidas pela família e pelos educadores?
Uma boa prática que realmente tem um efeito positivo é, por exemplo, comprar alguns softwares que restringem o acesso a certos sites e não permitem o acesso a outros. Mas esta não é uma medida de segurança absolutamente sólida porque os jovens de hoje são muito capazes de encontrar um caminho. É necessário educar para um uso limitado tanto no tempo quanto no espaço, por exemplo, criando situações onde não se usa o celular. Sei muito bem que isso é difícil, especialmente se não houver regras, mas sem essas regras eu acho que nunca conseguiremos uma proteção real. Também é importante saber o que os jovens estão usando, quais são seus canais de comunicação, tanto no Facebook quanto no Snapchat. Educar também pelo exemplo, ou seja, olhar com eles, ir a sites adequados a eles, jogar juntos online, mas mostrando o que se faz e o que não se faz.
Que papel a Igreja pode desempenhar nesta área?
Creio que com todas as nossas escolas que são mais de 220.000 escolas católicas no mundo, com nossas universidades que são 1.500, com todas as nossas outras instituições acadêmicas e educacionais, temos realmente um grande peso e uma grande responsabilidade nisso. Considero que poderíamos fazer muito na educação saudável das crianças na área de segurança da internet. Podemos fazer muito como Igreja e não vejo muitas outras organizações, não vejo muitas outras instituições levando este problema a sério. Estamos falando de uma questão realmente importante, especialmente para o futuro da humanidade.
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“Quarentena, risco para as crianças mais vulneráveis”. Entrevista com Hans Zollner - Instituto Humanitas Unisinos - IHU