27 Novembro 2019
Na terça-feira, o Papa Francisco encerrou a sua visita ao Japão de um jeito bem pessoal, passando a manhã com os seus companheiros jesuítas na comunidade em que talvez teria vivido caso tivesse sido realizado o seu sonho de ser missionário no país.
A reportagem é de Nicole Winfield e Mari Yamaguchi, publicada por National Catholic Reporter, 26-11-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Francisco celebrou uma missa matinal na capela da Universidade Sofia, instituição jesuíta, e visitou os padres idosos e doentes antes de proferir um discurso sobre educação jesuíta no evento final de sua peregrinação de uma semana à Ásia.
Papa Francisco no refeitório da comunidade jesuíta da Universidade de Sofia. (Foto: Antonio Spadaro | Twitter)
“Numa sociedade tão competitiva e tecnologicamente orientada, esta universidade deveria ser não só um centro de formação intelectual, mas também um local onde se pode ir modelando uma sociedade melhor e um futuro mais esperançoso”, disse o papa a alunos e professores.
Quando jovem jesuíta na Argentina, o então Jorge Mario Bergoglio sonhava seguir os passos de São Francisco Xavier, missionário que apresentou o cristianismo ao Japão no século XVI.
Ele acabou não indo por motivos de saúde, mas brincou com os bispos japoneses ao chegar a Tókio, dizendo que se “vingou” quando esteve à frente da ordem sua ordem religiosa em Buenos Aires, enviando como missionários cinco padres argentinos ao Japão.
Um destes é o atual líder dos jesuítas no país, o Pe. Renzo de Luca, que trabalhou de intérprete de Francisco durante a viagem.
De Luca disse que o seu ex-reitor de seminário era uma pessoa especialmente “próxima” dos alunos, sempre disponível, mesmo quando em certo momento havia mais de cem estudantes morando no local.
“Mesmo naquela época era fácil encontrá-lo: ele se sentava com a gente, cozinhava com a gente. Muitas vezes ele cozinhava para nós”, contou de Luca à imprensa vaticana. “Ele era uma pessoa bem próxima de nós. Nunca quis ser alguém importante ou difícil de entender”.
Tivesse Francisco ido ao Japão como missionário, provavelmente ficaria na Sophia, prestigiada universidade particular, frequentada por alunos de famílias ricas, como muitas das escolas católicas no Japão.
Aí, Francisco se encontrou com o amigo de longa data Adolfo Nicolás, ex-superior geral dos jesuítas, hoje com 83 anos. Nicolas, que lecionou teologia por três décadas, esteve recentemente se recuperando de um problema de saúde.
Durante sua visita ao Japão, o Papa Francisco encontrou e abençoou o padre Adolfo Nicolás, ex-Superior Geral da Companhia de Jesus. (Foto: Antonio Spadaro | Twitter)
No Japão, a educação superior pública é também cara e geralmente fica reservada às elites. O custo para a obtenção do título de bacharel ou equivalente em instituições públicas japonesas é o quarto mais alto entre os países da OECD, ficando atrás somente da Inglaterra, dos EUA e do Chile.
Em sua fala a alunos e corpo docente, Francisco urgiu que a instituição não seja somente um centro para as elites, mas considere os grupos marginalizados.
“O estudo universitário de qualidade, mais que ser considerado o privilégio de alguns poucos, deve ir acompanhado pela consciência de se reconhecer como servidores da justiça e do bem comum”, disse. “Os marginalizados serão criativamente envolvidos e incorporados no currículo universitário, buscando possibilitar as condições para que isso se traduza na promoção de um estilo educativo capaz de diminuir brechas e distâncias”.
Ele também instou a universidade a aprimorar o seu currículo com questões ambientais, seguindo as prioridades estabelecidas pelo próprio pontífice e por aquelas recentemente articuladas pelos jesuítas em nível mundial como tópicos para que as suas instituições de ensino, igrejas e programas incorporem a seus trabalhos.
Um número grande de alunos se reuniu do lado de fora da universidade para receber Francisco, incluindo alguns acadêmicos de teologia que exibiram uma faixa onde se lia “Seja bem-vindo”, em espanhol.
Eles disseram que se sentem particularmente próximos do papa, pois o consideram um amigo de mente aberta.
“Nós o chamamos de papa porque ele é muito próximo de nós”, disse Leo Ito, aluno do curso de teologia na Sofia.
Tsukasa Yano, estudante de jornalista de 19 anos e católica, ficou na fila por horas à espera da chegada do papa, e pôde chegar perto o suficiente para ter o seu crucifixo abençoado pelo pontífice.
“Estou totalmente impressionada. Não tenho outra palavra”, disse Yano mostrando a cruz em uma das mãos. “Ele foi muito legal com a gente”.
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Papa visita comunidade japonesa jesuíta onde poderia ter vivido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU