19 Novembro 2019
Ataques sórdidos apenas fortaleceram Francisco em seus esforços pela reforma da Igreja.
O comentário é de Robert Mickens, publicado em La Croix International, 15-11-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco contrariou mais uma vez. Nos seis anos e meio em que é bispo de Roma, ele nunca mais voltou à Argentina, sua terra natal. E, justamente quando parecia que a tão esperada volta para casa aconteceria em 2020, Francisco despejou um balde de água fria sobre a ideia.
“Decidiu-se deixar a Argentina e o Uruguai para mais tarde”, disse ele, de acordo com uma reportagem do dia 13 de novembro da agência de notícias argentina Telám.
O papa disse que uma viagem de volta a Buenos Aires e outras partes do país seria “um pouco difícil” devido aos compromissos que ele já assumiu para o próximo ano.
Compromissos de visitar outros países? As autoridades vaticanas não anunciaram até agora nenhum plano de viagem definido para 2020.
Na semana passada, elas disseram que Francisco e o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, pretendem fazer uma visita conjunta ao Sudão do Sul. Mas isso só acontecerá “se a situação política no país permitir a constituição de um governo transitório de unidade nacional nos próximos 100 dias”.
O site de notícias espanhol Religión Digital também informou nos últimos dias que o papa planejou outra viagem para o próximo ano – para a Oceania. Mas os australianos e os neozelandeses não devem alimentar esperanças. O destino de Francisco é Papua Nova Guiné, assim como Timor Leste.
“E quem sabe? Talvez Indonésia”, disse ele.
Enquanto isso, os católicos da Hungria estão esperando que o papa visite o seu país no próximo ano, quando Budapeste acolherá o 52º Congresso Eucarístico Internacional, em setembro de 2020. Mas, novamente, não estão claras quais são as probabilidades de que isso ocorra.
A última vez que um papa participou de um encontro desse tipo (que não foi realizado em Roma) foi ainda em 1997, quando João Paulo II foi para Wrocław, na sua Polônia natal, para o 46º Congresso Eucarístico Internacional.
Mas mais importante: a tão esperada visita papal à Argentina ainda é apenas um sonho. Embora muitas pessoas ficarão desapontadas com isso, na verdade é uma boa notícia para quem ama o Papa Francisco e espera que ele continue sendo bispo de Roma pelos próximos anos.
É uma boa notícia se uma teoria que eu publiquei há mais de um ano estiver prestes a entrar no reino da realidade – isto é, que quando ele voltar a Buenos Aires será o fim do seu pontificado.
“Todos saberemos quando Francisco decidir que é hora de deixar o palco: quando ele divulgar planos para a próxima viagem papal à Argentina. Para ele, será uma passagem só de ida de volta para casa”, eu escrevi.
“A minha aposta é que ele anunciará a sua aposentadoria lá, devolverá a sua batina papal branca e o passaporte da Santa Sé, e voltará a ser o Padre Jorge entre os pobres de Buenos Aires.”
Uma parte disso se deve ao fato de que Francisco disse que a decisão do seu antecessor de renunciar em 2013 não deveria ser vista como algo fora do comum. Em vez disso, ele disse que a aposentadoria agora é algo normal para os papas.
Bem, não exatamente. Bento XVI foi o primeiro papa em meio milênio a renunciar voluntariamente ao ofício papal. Se a aposentadoria realmente deve se tornar normal para os papas, então a próxima renúncia não poderá ser postergada para daqui a 500 anos.
Mas Francisco poderia unir as pontas se ele seguisse o exemplo de Bento. E eu sempre acreditei que essa é a intenção dele.
“O Papa Francisco voltará para casa no fim, provavelmente daqui a alguns anos, depois de lançar mais algumas pedras fundamentais para um projeto de reforma da Igreja que não possa ser facilmente revertido”, eu observei naquele artigo anterior, há muitos meses.
Ele completará 83 anos em meados de dezembro. E, embora ainda esteja mantendo uma agenda notavelmente ocupada para um homem da idade dele, ele está começando a mostrar sinais de que a hora está chegando.
Uma renúncia em 2020 ou em algum momento do ano seguinte seria uma boa opção. E talvez ainda esteja em sua mente. Com efeito, isso estenderia o seu pontificado a uma duração semelhante à do agora aposentado Bento – apenas um mês e meio antes de completar oito anos.
É improvável que o Papa Francisco renuncie antes de concluir a reforma da Cúria Romana e emitir procedimentos atualizados para a eleição do Romano Pontífice, incluindo protocolos precisos para uma renúncia papal.
Mas a reforma curial deve ser realizada em algum momento de 2020. E o documento sobre o conclave e as normas para uma renúncia provavelmente já estão escritos ou estão sendo redigidos atualmente.
Portanto, a eventual renúncia do Papa Francisco certamente é uma das cartas na manga, como se diz.
No entanto, há coisas acontecendo bem agora que sugerem que todas as apostas estão sobre a mesa.
Os inimigos do papa – e eles incluem homens da hierarquia católica – aumentaram seus ataques. É claro, muitos deles são “malucos”. Mas certos cardeais e bispos os estão encorajando a continuarem batendo em Francisco do jeito que puderem.
E, assim como a decisão do papa de não voltar à Argentina agora, essa também é uma boa notícia. Porque Jorge Mario Bergoglio não será forçado a deixar o cargo.
Mesmo que ele tenha pensado desde o início que uma segunda renúncia consecutiva daria uma contribuição duradoura à instituição do papado, ele certamente entende que fazer isso sob ataque seria prejudicial a tudo o que ele fez até agora.
Então, que os ataques continuem. Os odiadores de Francisco são obviamente estúpidos demais para entender que suas tentativas de derrubar o papa, na verdade, estão fortalecendo a sua determinação de reformar a Igreja.
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Opositores do papa: continuem assim - Instituto Humanitas Unisinos - IHU