18 Julho 2017
O jornal oficial do Papa, L’Osservatore Romano, que sai todos os sábados como suplemento acompanhando a edição do jornal Perfil, publicou um duro editorial no qual responde a todos aqueles que querem interferir na agenda de Francisco, dizendo ao Sumo Pontífice quais temas deve tocar e para onde deve viajar.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 16-07-2017. A tradução é do Cepat.
A mensagem é direta e clara do início ao fim. O texto, que começa citando uma passagem da Bíblia, na qual Jesus torna pública sua agenda de vida pastoral, traça uma linha espiritual entre Francisco e o homem nascido na Galileia.
“Nessa busca de manipular a agenda do próprio Filho de Deus, mostrava-se a soberba deles próprios (em referência às tantas tentativas por parte dos apóstolos em interferir na agenda de Jesus) e, muitas vezes, o desconhecimento profundo das palavras e os gestos do Mestre”, afirma o editorial.
“Também era óbvio que quando a agenda de Jesus prejudicava seus interesses de poder e comodidade, esta lhes resultava insuportável”, acrescenta, fazendo uma clara defesa das políticas que Francisco implementa desde que chegou ao Vaticano.
Embora resguardando as distâncias, o editorial afirma que, assim como o que ocorre agora com o Sumo Pontífice, “uma das tantas lutas que Jesus manteve com próprios e estranhos foi a intenção, às vezes boa e outras nem tanto, de desviar esta agenda e ainda lhe impor uma que não lhe era própria”.
Dedica-se um parágrafo em especial aos argentinos, lugar onde, segundo afirma o autor do texto, que convida para “rezar por Francisco, mas com sabedoria”, “muitos pretendem mudar, impor, recomendar outra agenda com diversidade de intenções”.
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lucas 4, 18-19). Em geral, localiza-se este texto lido e depois encarnado por Jesus na sinagoga de Nazaré no início de seu ministério público. Não é uma pregação a mais do homem da Galileia, é a declaração pública de sua agenda de vida pastoral.
No entanto, uma das tantas lutas que Jesus manteve com próprios e estranhos foi a intenção, às vezes boa e outras nem tanto, de desviar esta agenda e ainda lhe impor uma que não lhe era própria. A partir dos seus, os próprios apóstolos se incomodaram com o seu desejo de permanecer com a multidão faminta e a prover de alimento, após ouvir sua mensagem. O próprio Pedro lhe dava conselhos para evitar o certo caminho do sofrimento e vários se incomodaram com a sua insistência de ir à perigosa Jerusalém para o “enterro” de seu amigo Lázaro.
Os fariseus e saduceus opositores, em nome de “suas verdades religiosas absolutas”, tentaram lhe forçar a fazer declarações em favor de sua própria interpretação das Escrituras. Os zelotes buscavam colocá-lo em seus planos revolucionários, e até os soldados romanos em fazê-lo desistir de sua permanência na cruz do calvário, fazendo uso de seu poder e autoridade.
Nessa busca de manipular a agenda do próprio Filho de Deus, mostrava-se a soberba deles próprios e, muitas vezes, o desconhecimento profundo das palavras e os gestos do Mestre.
Também era óbvio que quando a agenda de Jesus prejudicava seus interesses de poder e comodidade, esta lhes resultava insuportável. E, portanto, a mudança de agenda se distanciava de procedimentos sutis para enfrentá-lo com grosseiras calúnias, operações de desprestígio e campanhas que pretendiam prognosticar seu fracasso ministerial. Suas próprias limitações, obscuras motivações e mesquinhez em suas intenções os deixaram à margem da história e no ridículo, após a vitória final da agenda restauradora e sanadora de Cristo.
No entanto, Jesus se manteve fiel em sua agenda inicial, em sua visão de seu lugar na história, da ação de Deus nela, e em sua visão aos pobres, excluídos, encarcerados, e a todos os necessitados de graça, perdão e misericórdia divina. Jesus advertiu a seus seguidores mais próximos que “o discípulo não é maior que seu Senhor”.
Por isso, guardando as distâncias, mas não ignorando a linha espiritual do ministério do Papa Francisco com o Cristo dos Evangelhos, encontramo-nos em uma luta semelhante. Não deve nos causar estranhamento, nem irritar, ao contrário, é a marca do fiel discípulo.
Desde os seus primeiros passos como Bispo de Roma e ainda antes, em sua conhecida mensagem durante o Conclave, o Papa Bergoglio deixou bem clara sua agenda. Os pobres, os marginalizados, os excluídos, a misericórdia, a evangelização no amor, os encarcerados, as vítimas de todos os tipos de escravidões modernas, e muitas outras que estão presentes em seus gestos, discursos e na geopolítica espiritual de suas viagens apostólicas.
Na Argentina, parece que assim como aconteceu com Jesus, muitos pretendem mudar, impor, recomendar ao Papa argentino outras agendas. Com uma diversidade de intenções, sugerem para que mude os destinatários de suas cartas e gestos, aqueles que deve ou não receber em audiências, as linhas teológicas mais apropriadas e “politicamente corretas” e até sua agenda de viagens apostólicas.
Se gastássemos mais tempo para ler seus escritos, compreender sua mensagem, interpretar o conteúdo profundo de seus gestos e, especialmente, seu lugar na história contemporânea e no kairós da Igreja, provavelmente refletiríamos mais antes de pretender mudar ou enfrentar sua agenda.
Agenda com a qual ele está comprometido com o próprio Senhor das agendas, e ao único que prestará conta de seu ministério e fidelidade a seu chamado: a Jesus, o Cristo, o primeiro a viver essas lutas e se manter fiel ao Pai que o enviou com um propósito e uma agenda para o bem de toda a humanidade. Rezemos por Francisco como ele pede, mas com sabedoria. Para que se fortaleça dia a dia no caminho da agenda de seu papado, que recebeu por orientação do Espírito Santo.
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Vaticano adverte aqueles que querem interferir na agenda do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU