01 Outubro 2016
O Papa argumentou que já tem compromissos para visitar outros lugares e que por isso nem mesmo no ano que vem poderá visitar o seu país natal. Em um vídeo dirigido aos seus compatriotas, contou que continua viajando com passaporte argentino e convocou-os para “colocar a Pátria sobre os ombros”.
A reportagem é publicada por Página/12, 01-10-2016. A tradução é de André Langer.
“Vocês não sabem o quanto eu gostaria de voltar a vê-los. E tampouco poderei fazê-lo no próximo ano, porque já estão agendados compromissos para a Ásia, África... e o mundo é maior do que a Argentina”, anunciou na sexta-feira passada o Papa Francisco no vídeo publicado no sítio do L’Osservatore Romano, o jornal do Vaticano. “E assim tenho que me dividir. Deixo nas mãos do Senhor para que Ele me indique a data”, concluiu.
O cardeal Jorge Bergoglio deixou o país em março de 2013 rumo ao Vaticano, onde foi eleito papa e nunca mais voltou. Desde então sempre se especulou sobre quando voltaria para uma visita. Desde a primeira versão que assegurava que iria no final desse mesmo ano de 2013, todos os anos surge uma nova versão. A mais firme assegurava que iria em 2016, por ocasião do Bicentenário da Independência e para encerrar o Congresso Eucarístico Nacional, que foi realizado em Tucumán. Mas, depois, o porta-voz vaticano descartou a viagem devido às “muitas atividades” já agendadas por Francisco para este ano. E então se passou a imaginar que o mais provável seria pensar em 2017. Na sexta-feira, o Papa pessoalmente se encarregou de descartar sua volta à Argentina, embora já tenha tomado tempo para visitar vários países do continente: Brasil, Paraguai, Bolívia, Equador, Cuba, México e Estados Unidos.
No vídeo que gravou especialmente para os argentinos, “tendo presente que no ano que vem também não vou poder ir”, Francisco aludiu ao Bicentenário e a dois acontecimentos “muito importantes e muito fortes” que acontecem este ano: “Um foi a beatificação de Mama Antula, uma mulher que ajudou a consolidar a Argentina de maneira profunda. O outro é a próxima canonização do Padre Brochero, esse sacerdote gaúcho que teve compaixão de seus queridos serranos e lutou pela sua dignificação”, enumerou.
“Para mim, o meu povo é o argentino. Vocês são importantes, eu continuo sendo argentino. Eu viajo com o passaporte argentino”, disse o Papa aos seus compatriotas, e acrescentou que “como povo são o maior tesouro que a nossa Pátria tem”. E pediu aos argentinos que “uma vez mais, coloquem a Pátria sobre os ombros, essa Pátria que necessita que cada um de nós lhe entreguemos o melhor de nós mesmos, para melhorar, crescer, amadurecer. E isto nos fará conseguir esta cultura do encontro que supera todas estas culturas do descarte que hoje no mundo são oferecidas por toda parte. Uma cultura do encontro onde cada um tenha seu lugar, que todo o mundo possa viver com dignidade e que se possa expressar pacificamente sem ser insultado ou condenado ou agredido ou descartado”.
Em seguida, o Papa referiu-se a um aspecto comum. Como dizer que é um país que tem “tudo”, que é “rico”, mas que a “maior riqueza que a nossa Pátria tem é o seu povo, esse povo que sabe ser solidário, que sabe caminhar um junto ao outro, que sabe ajudar-se, que sabe respeitar-se”.
O anúncio poderá servir de estopim para novas especulações sobre as tensões na relação do Papa com o presidente Mauricio Macri. Em fevereiro passado, Francisco recebeu Macri pela primeira vez em uma conversa que durou apenas 22 minutos e na qual nunca tirou o aspecto sério, nada a ver com os longos e amistosos encontros que teve com Cristina Kirchner.
O segundo episódio ocorreu quando o Papa ordenou a devolução de uma doação que o Governo tinha feito ao Projeto Scholas Occurrentes. Agora, Francisco e Macri voltarão a se encontrar no próximo dia 16 de outubro, quando o presidente viajar com sua mulher e sua filha ao Vaticano para a canonização do padre Brochero.
Veja o vídeo, em espanhol, clicando aqui.
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Papa Francisco aos argentinos: 'Sem visita em 2017' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU