29 Agosto 2019
No dia 27 de agosto (terça feira) faleceu em Buenos Aires (Argentina), aos 91 anos, o Frei Antonio Puigjané. Era um Frade Franciscano-Capuchinho.
O depoimento é de Ildo Perondi, frade franciscano-capuchinho, biblista, professor da PUC-PR.
Frei Luis Coccia, (ex-presidente da Conferência Latino-Americana dos Religiosos e Religiosas – CLAR) seu superior atual, ao anunciar a sua morte afirmou: “O mesmo que o criou por amor o glorificou agora e está definitivamente no Reino de Deus. Antonio acaba de partir. Antonio já participa da condição dos santos e está definitivamente com Deus para interceder por nós e por esta pátria também tão necessitada, a Argentina”.
A mesa diretora do MTP: (da esquerda à direita) Roberto Felicetti, Jorge Baños, Francisco Provenzano e Frei Antonio Puigjané. Foto: Archivo Atllántida
Frei Antonio era muito conhecido na Argentina por suas atitudes proféticas, seu compromisso com os pobres e pela solidariedade com as pessoas que sofriam. Participou do Movimento de Sacerdotes para o Terceiro Mundo (MSTM) desde sua fundação. Este grupo de sacerdotes em sintonia com os novos ventos do Concílio Vaticano II se propôs a viver a opção pelos pobres e atuar em comunidades de periferia na Argentina. Muitos deles acabaram mortos ou desaparecidos, vítimas da ditadura militar argentina.
Junto com os bispos Dom Angelelli e Dom Jorge Novak, acompanhou e deu apoio às Mães da Praça de Maio que lutavam para saber o paradeiro dos seus filhos desaparecidos no regime militar.
Por causa desta sua atuação foi condenado a 20 anos de prisão. Passou dez anos no cárcere, e saiu ao completar 70 anos para ficar em prisão domiciliar.
Várias Organizações de Direitos Humanos se despediram de Frei Antonio com um poema de seu discípulo Sebastián Glassman: “Te recordaremos generoso, dedicado, entusiasta; coerente e sempre o primeiro naquilo que devia fazer, e próximo nestes caminhos de dentro e de fora, com tua presença sacerdotal e eucarística, tua humilde fraternidade franciscana”.
Frei Antonio Puigjané em marcha das Abuelas de la Plaza de Mayo. Foto: El Tribuno
Passou seus últimos anos no Convento de Nossa Senhora do Rosário, no bairro de Pompeya, em Bueno Aires, onde se retirou para viver a fase final da sua vida e receber e orientar as pessoas que o procuravam.
Odiado pelos militares e pela elite, Antonio era admirado pelo povo e, sobretudo, pelas lideranças populares que sonhava com uma sociedade mais justa na Argentina. Um jornalista ateu, ao saber de sua morte escreveu: “Deus te abençoe, Antônio. Eu te digo, que quando parte pessoas como você, tenho prazer em pensar que Deus existe”
Antônio costumava repetir: “Um ouvido no povo e outro no Evangelho” isso eu aprendi de Monsenhor Angelelli”.
Tive a graça de Deus de poder visitá-lo três vezes na prisão (uma delas em companhia do Pe. Inácio Neutzling). Dele e destes encontros guardo a boa lembrança de um verdadeiro frade Franciscano-Capuchinho que sorria mesmo estando na prisão, que transmitia confiança e esperança aos seus companheiros de cárcere. Mas, sobretudo, guardo dele a paixão que tinha pelo Reino de Deus e por ser um fiel seguidor do Jesus Cristo e do Evangelho.