26 Fevereiro 2019
Segundo informações recebidas de Cristina Pardo, da Fraternidade de Jesus da Argentina, Frei Antônio Puigjané está internado há uma semana, devido a algumas úlceras que não foram bem curadas. O médico que o atende gostaria de evitar uma cirurgia porque Antônio não pode tolerar a anestesia.
A informação é de Frei Ildo Perondi, frade Franciscano-Capuchinho, doutor em Teologia Bíblica e professor na Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC-PR.
Frei Antônio Puigjané é um frade Franciscano-Capuchinho que se tornou conhecido pela sua atuação junto aos pobres e marginalizados das periferias, mas sobretudo por ter passado mais de 14 anos preso. Com o fim da ditadura militar argentina, que deixou mais de 30 mil mortos, Frei Antônio ingressou no movimento popular “Todos pela Pátria” (MTP) que lutava por justiça e por melhorias para os mais pobres. Neste movimento participavam muitos cristãos das comunidades de base.
Em janeiro de 1989 o MTP teve informações que no quartel de “La Tablada” estava sendo preparado um golpe militar. Por isso, tentaram ocupar o quartel militar. Porém foram duramente reprimidos e o resultado foi desastroso: 8 militares e 31 membros do MTP mortos, 20 membros do MTP (15 homens e 5 mulheres foram presos). Este episódio nunca foi bem esclarecido.
Frei Antônio não sabia do plano e nem estava na operação. Mas ao ver seus companheiros sendo presos foi apresentar-se livremente. Foi condenado a 20 anos de prisão. Ficou detido no 18º andar, da prisão de Caseros, em Buenos Aires (construída para abrigar os presos políticos durante o regime militar), onde nem sequer podia tomar sol.
No cárcere Frei Antônio foi exemplo de vida, solidário com seus companheiros e também com os demais presos. Exemplo de um verdadeiro Franciscano, homem de oração e de coração fraterno. E ali mesmo evangelizava. Seu lema era “um olho no Evangelho e outro na realidade”. Tornou-se conhecido mundialmente através das cartas que escrevia. Ganhou apoio da Amnistia Internacional, da Comissão dos Direitos Humanos da OEA.
Tive a graça de visitá-lo três vezes (uma vez junto com o Pe Inácio Neutzling). Mesmo na prisão, era capaz de transmitir entusiasmo e alegria. Do encontro com ele, saíamos sempre melhores do que entrávamos. Descobríamos que Antônio era livre mesmo dentro de uma prisão! Porque ele era maior que a Lei, maior que a injustiça! Antônio sabia sorrir atrás das grades; Antônio sabia ser solidário apesar da dureza do cárcere; Antônio sabia amar apesar do ódio e das incompreensões... Por isso Antônio era livre!
No dia 22 de maio de 2003, depois de mais de 14 anos de prisão, Frei Antonio e seus companheiros ganharam a liberdade, graças ao indulto concedido pelo hoje ex-Presidente Duhalde. Voltou a viver no Convento Capuchinho e a exercer seu ministério pastoral sempre a serviço dos pobres e das pessoas marginalizadas.