“No meu oratório multiétnico fazemos a nossa parte contra aqueles que exploram o crucifixo”

Altar da igreja de Sant'Arialdo em Baranzate, subúrbio do norte de Milão. Foto: Oratorio Sant' Arialdo di Baranzate | Facebook

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11 Junho 2019

Dom Paolo Steffano, 54 anos, é pároco da igreja de Sant'Arialdo em Baranzate, subúrbio do norte de Milão, menos de 4 mil habitantes, mais de 60% estrangeiros, 72 nacionalidades registradas em Via Gorizia, onde o oratório está localizado.

A entrevista é de Zita Dazzi, publicada por La Repubblica, 10-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini

Eis a entrevista. 

O senhor foi premiado este ano pelo Presidente da República pela sua atividade, mas em Baranzate a Lega conquistou quase 43% dos votos nas últimas eleições. O seu discurso de acolhimento não funciona mais?

Como diz o cardeal Bassetti, aqui na igreja nós continuamos a fazer a nossa parte, sem nos assustar com aqueles que reclamam, que protestam porque se sentem defraudados pelos imigrantes. Naturalmente, a política fala hoje com o estômago das pessoas. E se aproveita de símbolos religiosos, do crucifixo, do presépio, do rosário, esquecendo os ditames do Evangelho.

Em sua oratório, mais de 50% das crianças são filhos de imigrantes. Muitos, cerca de um em cada três, são muçulmanos e o senhor os faz rezar virados para Meca, num canto do pátio. Não seria essa abertura que fazendo com que perca os fiéis cristãos?

Não me preocupo com esses problemas e continuo a acreditar que é necessária uma cultura diferente, que se deve semear pensando no futuro. Mais cedo ou mais tarde esse vento acabará, nós, sacerdotes, talvez hoje não possamos governá-lo, mas podemos orientar as velas para entender a direção a seguir.

Evidentemente, se os cidadãos de Baranzate votam na Lega mais do que no passado, há algo que não funciona.

Talvez uma conotação de incapacidade também eclesial de fazer cultura, mas o problema, como diz o cardeal Bassetti, é que falta uma proposta por parte da política, uma linguagem alternativa àquela hoje dominante. Somos padres, trabalhamos na rua, nas fronteiras, mas não se pode nem se deve pensar em delegar-nos a construção de uma alternativa ao modelo que parece vencer.

Na sua opinião, é verdade que os católicos pensam cada vez mais como Matteo Salvini e que mesmo dentro da Igreja há muitos que o apoiam?

Sim, mesmo na Igreja há muitos sacerdotes que têm dificuldades em digerir o novo deste Papa. Aqueles como eu não são grandes intelectuais da multietnicidade, mas conhecemos a vida cotidiana. Sinto-me muito livre, embora o que eu prego não agrade a alguns dos meus concidadãos. Quando faço o sermão, com certeza há alguns que discordam dos temas da solidariedade, mas também muitos que entendem. A história é uma coisa verdadeira, e quando se joga a carta da própria identidade, você se torna uma seita.

Aos católicos falta uma representação política? É por isso que seguem aqueles que acenam com o rosário?

Quem acredita em Deus deve respeitar a sua palavra. Depois o Evangelho. Não basta acenar e exigir o presépio na escola para ser um bom católico. Hoje celebramos batismos de crianças filhos de ucranianos, salvadorenhos, equatorianos e cingaleses. Tivemos o Pentecostes mais verdadeiro da terra, vivemos como os apóstolos.

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