Por: Ricardo Machado | 01 Novembro 2018
Um estudo de mais de 800 páginas realizado e publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA sugere que o Brasil pode retomar o crescimento econômico a partir de três estratégias: dobrar a renda per capta em relação ao Produto Interno Bruto - PIB, reduzir as desigualdades econômicas e investir em tecnologias críticas. A análise e as projeções foram apresentadas pelo professor doutor João Alberto De Negri, durante o evento Trajetória macroeconômica brasileira 2003-2017 e as políticas de ciência, tecnologia e inovação, que integra a programação do II Ciclo de Palestras. Trajetória da Política Econômica Brasileira 2003-2017.
Como bom economista, Negri baseia suas projeções em dados econométricos, em perspectiva com cenários globais. Na opinião do pesquisador, é possível transformar o Brasil no espaço de uma geração, algo entre 20 a 30 anos. “Isso é factível desde que caminhemos rápido. Nossa trajetória recente diz que não dá para fazer, mas é possível sim. Precisaria metas claras, consistência e persistência ao longo do tempo”, propõe.
Claro que todas essas transformações passam por um ajuste de coordenadas do paradigma das políticas públicas. “No caso do Brasil, as políticas públicas precisam pensar uma forma de romper o que temos vivido há algumas décadas, não basta imaginar políticas públicas da mesma forma. O país precisa aprender a fazer as coisas de uma forma diferente”, pontua. O professor ainda alerta para o fato de o Brasil ter perdido, ao longo das últimas quatro décadas, a capacidade de crescimento da produtividade. “Atualmente não temos mais janela de crescimento demográfico para possibilitar a ampliação da produtividade, razão pela qual necessitamos uma outra forma de pensarmos as políticas públicas”, frisa.
João Alberto De Negri (Fotos: Ricardo Machado/IHU)
Na opinião do conferencista, o investimento público perdeu importância quando se trata de crescimento econômico. “O investimento público não é tão importante como já foi. O Brasil não conseguirá crescer nos próximos anos sem um amplo leque de reformas. Não é um ajuste de trajetória, mas um amplo processo de transformação econômica, social e política”, pondera. “A nova geração de políticas públicas deverá ser feita de forma público-privado. É preciso pensar logo, suar a camisa e começar a fazer”, complementa.
Outro setor sensível da economia é o fiscal, cuja perspectiva de mudança a curto ou médio é de inalterabilidade. “O problema fiscal deve seguir nos próximos quatro ou cinco anos, com uma dívida pública elevada. Precisamos resolver o problema fiscal e da qualidade do gasto público, o que é um problema global. É muito difícil de analisar a qualidade do gasto público porque só se pode estimar o investimento que foi feito, mas nada podemos estimar sobre aquilo que não escolhemos investir, então é uma análise sempre muito complexa”, analisa.
De acordo com Negri, a possibilidade de haver crescimento na economia depende de algumas mudanças chaves na qualidade dos investimentos. “Para dobrar a renda percapita é preciso que a taxa de investimento em produtividade aumente. Quando o investimento não é bom, a produtividade cai nos anos seguintes. Esse é um dos calcanhares de aquiles da economia brasileira”, postula. Sem aprofundar muito em como reduzir as desigualdades, o pesquisador ressaltou uma vez a importância de avançar nesse sentido.
Outro eixo importante é o da produção do que o economista chama de “tecnologias críticas”. Para tanto, sustenta o conferencista, é preciso investir em pesquisa. “Os investimento em pesquisa científica precisam crescer 10% ao ano para sair dos atuais 28 bilhões para 60 bilhões ao ano. Ciência e tecnologia são investimentos de longo prazo muito importantes, é preciso acreditar”, ressalta. Tecnologia, no sentido apresentado por Negri, diz respeito à “forma como produzimos as coisas (o que importa é a intensidade de conhecimento)”.
Por fim, o professor detalhou os dezesseis pontos centrais que orientam o trabalho intitulado Desafios da Nação produzido pelo IPEA.
Doutor em Economia pela Universidade de Brasília (2003) e mestre em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1996). [ + ] É pesquisador do IPEA desde 1996, foi Coordenador Geral na Secretaria de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior em 1999, Diretor e Vice-Presidente do IPEA no período 2005-2007, Diretor do IPEA em 2016-2017. Membro do Conselho de Administração da FINEP de 2008 a 2010 e Diretor de Inovação da FINEP no período 2011-2013 e em 2015. Foi membro do Conselho de Administração do FUNTEL em 2011-2012. Foi Secretário Executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia em 2014. Foi membro do Conselho de Administração do FINAME/BNDES. Coordena diversos estudos sobre a indústria brasileira com ênfase na inovação tecnológica e possui diversas obras editadas sobre essa temática. Participou ativamente da elaboração da execução da Política Industrial e de Comércio Exterior (PITCE) em 2003, do Programa Inova Empresa em 2013 e do Programa Plataformas do Conhecimento em 2014, todos do Governo Federal. Foi consultor do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Coordenou projetos de pesquisa voltados para a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e para a Agência de Promoção de Exportações (APEX) e também coordenou projetos de pesquisa para avaliação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para o Ministério de Ciência e Tecnologia. Fo membro do conselho de administração da empresa CEITEC S.A em 2014. Tem experiência na área de economia, atuando principalmente nos seguintes temas: indústria, inovação tecnológica, empresas e integração comercial. Em 2015, no pós-doutoramento foi Research Scholar no MIT aonde desenvolveu estudos sobre procedimentos metodológicos de prospecção tecnológica em empresas, estratégia tecnológica, avaliação de portfólio de P&D e gestão da inovação em empresas. Exerce, atualmente, a função de pesquisador no IPEA.
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Novas fichas para uma nova aposta no crescimento do Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU