25 Abril 2018
"Os bispos em dioceses e arquidioceses, grandes ou pequenas, são duramente pressionados para atender orçamentos e necessidades pastorais. Entendemos isso e não queremos minimizar as dificuldades envolvidas na execução do lado empresarial das estruturas da igreja. Mas também não queremos ver bispos terceirizando a evangelização", afirma o editorial do National Catholic Reporter, 24-04-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
No ensaio publicado pela edição internacional do jornal La Croix de 19 de março, o historiador Massimo Faggioli apresenta importantes apontamentos sobre o papel dos grupos de interesse especiais, de influência e de dinheiro que estão presentes na Igreja nos dias atuais. Em "The tensions between church reform and pushing an agenda" (As tensões entre reformar a Igreja e defender uma pauta), Faggioli escreve:
Na tradição da Igreja, as reformas são impulsionadas mais pela necessidade urgente de corrigir desvios graves (por exemplo, a simonia ou a corrupção) ou de responder a novas ameaças que desafiavam a Igreja (como o desafio à autoridade papal pelo Sacro Império Romano). Ideias e projetos de reforma advêm mais de certas experiências como estas dentro da Igreja e menos dos círculos de reformadores profissionais.
Uma das principais mudanças que vimos nos últimos anos – não só na política, mas também na Igreja – é a influência crescente de grupos de defesa, lobbies e think tanks.
Apoiados em grandes quantias de dinheiro, grupos de interesse especiais, redes informais e atores invisíveis estão, hoje, penetrando e influenciando cada vez mais as instituições, inclusive a Igreja.
Faggioli disse ao NCR mesma coisa cerca de um ano atrás, quando correu uma história detalhando como os Cavaleiros de Colombo gastam seu dinheiro para ganhar influência na Igreja e no mundo da política conservadora. Em um editorial que acompanhava a matéria, nós perguntamos: "que bispo vai enfrentar este caixa eletrônico eclesial?” Este fenômeno moderno dentro da Igreja, aparentemente benigno, merece um escrutínio mais profundo. O dinheiro compra acesso e influência. Não é assim que uma comunidade cristã deve funcionar" (veja aqui).
Levantamos questões semelhantes em outubro na Catholic University of America durante uma conferência chamada "Lucro do bem", financiado pela Busch School of Business e Economics, que pertence à universidade, e pelo Napa Institute. No evento, Timothy Busch, que é presidente e co-fundador do Napa Institute e cujo nome é anexado à escola de negócios, recebeu Charles Koch, um liberal assumido, bem como grande financiador da escola de negócios e de muitas causas políticas conservadoras. Koch falou a empresários católicos sobre a nobreza de criação de lucro para o benefício dos indivíduos e da sociedade.
O Napa Institute, os Cavaleiros de Colombo, a Legatus (uma organização de ricos executivos católicos fundada pelo magnata Thomas Monaghan), a Fundação Chiaroscuro (fundada por Sean Fieler, diretor de fundos de Nova York), e a rede EWTN estão num emaranhado de organizações que Busch chama de "ONGs católicas".
A essa lista gostaríamos de acrescentar a Fellowship of Catholic University Students (FOCUS). A reportagem de Heidi Schlumpf, “Big money, conservative connections” (Dinheiro grande, conexões conservadoras), retrata como esses grupos estão interligados através de redes de financiamento e de relacionamentos.
Busch é muito claro em relação às suas intenções para esses grupos.
"A evangelização do nosso país está sendo feita por fundações privadas, ONGs católicas, como o Napa Institute e a Legatus", disse ele no evento na Universidade Católica. Ele afirmou que a maioria dos grupos não têm nenhuma relação formal com a Igreja e que "estão seguindo o Magistério da Igreja. Mas com acesso a um capital que a Igreja não tem. "
Perguntamos de novo: "que bispo vai enfrentar este caixa eletrônico eclesial?"
A FOCUS já fez incursões em todo o país e tem planos para expandir muito mais. A Associação também tem planos para fora dos campus: quer enviar seus missionários para paróquias. Isso poderia criar uma grande tentação para as dioceses que precisam de dinheiro, mas gostaríamos de argumentar que as dioceses deveriam resistir a essa tentação. Este não é um caminho para as paróquias.
Antes de mais nada, como a reportagem de Schlumpf aponta: os missionários da FOCUS podem ser contratados pelo padre com a aprovação do bispo local, mas eles continuam sendo empregados da FOCUS e entregam relatórios aos seus superiores. A FOCUS opera fora da estrutura formal da Igreja.
Em segundo lugar, há dezenas de milhares de ministros eclesiais leigos profissionais com diplomas de instituições credenciadas prontos para servir em paróquias. Muitos estão desempregados. Muitos são mal pagos. A Igreja deve certificar-se de que estes indivíduos altamente qualificados e comprometidos estejam empregados e pagos. Não há necessidade para procurar alternativas para as paróquias.
Os bispos em dioceses e arquidioceses grandes ou pequenas são duramente pressionados para atender orçamentos e necessidades pastorais. Entendemos isso e não queremos minimizar as dificuldades envolvidas na execução do lado empresarial das estruturas da igreja. Mas também não queremos ver bispos terceirizando a evangelização.
Nossas palavras de um ano atrás ainda valem: "Este fenômeno moderno dentro da igreja, aparentemente benigno, merece uma análise mais profunda. O dinheiro compra acesso e influência. Não é assim que uma comunidade cristã deve funcionar".
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Resistir à evangelização terceirizada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU