13 Fevereiro 2015
O secretário do Conselho de Cardeais, Marcello Semeraro: "Trata-se de um 'repensamento' em vista de uma racionalização e de uma simplificação da Cúria Romana" e de "uma maior relevância, também externa". Em todo o caso, "penso que, com o Papa Francisco, as 'conspirações' estão realmente fora de lugar". Simplificação desejada também em nível nacional, diocesano e até mesmo paroquial.
A reportagem é de Vincenzo Corrado, publicada pelo Servizio Informazione Religiosa (SIR), 11-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Concluiu-se nessa quarta-feira a oitava reunião do Conselho de Cardeais, o chamado C9, instituído pelo Papa Francisco para "ajudar o Santo Padre no governo da Igreja universal" e para estudar um projeto de reforma da Cúria Romana.
Nesta quinta-feira, 12 de fevereiro, e sexta-feira, 13, no Vaticano, irá ocorrer o Consistório do Colégio Cardinalício para refletir sobre as orientações e sobre as propostas para a reforma da Cúria. Nessa circunstância, será apresentado o caminho realizado até agora pelo C9, com um relatório lido por Dom Marcello Semeraro, secretário do Conselho de Cardeais. O SIR encontrou-se com ele.
Eis a entrevista.
Excelência, no Consistório, o senhor vai apresentar o relatório sobre a reforma da Cúria. Pode antecipar algum conteúdo?
Os cardeais, que são os primeiros colaboradores e conselheiros do papa, desempenham a sua tarefa tanto individualmente nos respectivos escritórios a que são chamados, quanto colegialmente, quando são convocados juntos para abordar algumas questões de maior importância. Este é o caso do próximo Consistório extraordinário. Portanto, é justo que, depois de pouco mais de um ano desde o início da sua atividade, o Conselho relate ao Colégio dos Cardeais o percurso feito e o trabalho realizado. Em uma reunião realizada no dia 24 de novembro, uma informação semelhante foi dada aos chefes de dicastério da Cúria Romana. Aos cardeais, será feito um sintético relatório sobre as atividades e sobre os critérios que guiaram a reflexão dos nove membros do Conselho, com a exposição de alguns resultados alcançados, para que a ampliação da consulta ajude a melhorá-los.
Qual é o status atual dos trabalhos? O senhor pode resumir o caminho realizado pelo C9?
Em grande parte, ele é conhecido através das declarações do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé. Depois de uma primeira fase, que eu chamaria de "heurística", por ser dedicada à coleta de informações e pareceres – em grande parte, ela ocupou os meses posteriores à notificação da decisão do papa até as primeiras sessões do Conselho –, passou-se à fase de estudo e, depois, à da formulação de propostas.
E agora o que resta a ser feito?
Acima de tudo, é preciso completar essa terceira fase. Vai se levar em conta que o Conselho realizou mais de 50 reuniões em oito sessões (a última é a que aconteceu nesses dias), mas também se acrescentará que a reforma da Cúria Romana não foi o único tema tratado. O Conselho de Cardeais foi instituído com o primeiro objetivo de ajudar o papa na sua ação de governo para toda a Igreja e também isso foi feito. Pense-se, apenas como um exemplo, na Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, que concluiu nestes dias o trabalho da sua primeira sessão plenária. Enquanto isso, já se delineiam alguns resultados, como aqueles, anunciado há algum tempo, sobre a possibilidade de reunir alguns Pontifícios Conselhos em dois dicastérios maiores.
A esse respeito, fala-se de dois grandes polos: leigos-família-vida e caridade-justiça-paz. É só uma soma algébrica do preexistente ou há um modo diferente de pensar e, portanto, de agir?
Para fazer uma simples "soma", não haveria a necessidade, por si só, de uma reforma. Trata-se, ao contrário, de um "repensamento" em vista de uma racionalização e de uma simplificação da Cúria Romana, projetada também na confiança de que algumas fusões de Pontifícios Conselhos deem a eles uma maior relevância, até mesmo externa e, portanto, uma maior incidência. A reforma da Cúria, no entanto, também poderia prever a criação de novos dicastérios, se as circunstâncias o exigirem. A primeira reivindicação é a eficaz correspondência à missão salvífica da Igreja.
Mas a reforma da Cúria é apenas uma operação de simplificação das estruturas? O Papa Francisco também não quer comunicar algo mais?
Eu acho que, com o Papa Francisco, as "conspirações" estão justamente fora de lugar. É sempre muito claro! Eu gosto de ler o processo de reforma da Cúria também na linha daquela "Igreja pobre" de que o papa fala desde o início do seu ministério na Cátedra de Pedro. Lembro algumas palavras da sua homilia do dia 24 de abril de 2013 na capela de Santa Marta. Logo tomei nota delas, porque, na semana seguinte, haveria uma sessão do Conselho de Cardeais. O papa disse: "E quando a Igreja quer se vangloriar da sua quantidade e faz organizações, e faz escritórios e se torna um pouco burocrática, a Igreja perde a sua principal substância e corre o perigo de se transformar em uma ONG. E a Igreja não é uma ONG. É uma história de amor... Tudo é necessário, os escritórios são necessários... Mas são necessários até certo ponto: como ajuda a essa história de amor. Mas, quando a organização assume o primeiro lugar, o amor diminui, e a Igreja, pobrezinha, se torna uma ONG. E esse não é o caminho". Eu acredito que não s deva ignorar essa "chave" para compreender também a reforma da Cúria Romana.
Há a esperança de que essas reflexões recaiam, depois, sobre as Igrejas locais...
Pessoalmente, eu esperaria isso. Não é difícil notar que, em muitos casos, tanto em nível nacional quanto em nível diocesano (e às vezes até paroquial), quanto à organização, tende-se a imitar... a Cúria Romana! Ter em mente o princípio de que a organização sempre deve ser – como diz o papa – uma ajuda para a história de amor que cada Igreja deve contar aos homens do seu tempo seria um ótimo corretivo e antídoto para algumas tentações, que sempre estão à espreita.
Já foram programados os próximos encontros do Conselho para 2015? Quais são os tempos para a nova Constituição sobre a Cúria Romana?
Eu não saberia dizer quais são os tempos para a conclusão dos trabalhos. Não será, em todo o caso, para as "calendas gregas". Posso dizer, no entanto, que as sessões do Conselho estão agendadas até dezembro de 2015.
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''A reforma da Cúria está alinhada com a Igreja pobre'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU