25 Novembro 2014
"Quantas vezes vemos que, ao entrar em uma igreja, ainda hoje, há a lista dos preços para o batismo, para a bênção, para as intenções para a missa?. E o povo se escandaliza", porque esse "é o escândalo do comércio, do mundanidade"; mas a redenção, como Jesus nos ensinou, não é paga, "é gratuita".
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada no jornal Secolo XIX, 22-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
São palavras pesadas aquelas escolhidas pelo papa no dia em que a liturgia propunha o Evangelho de Jesus que expulsa os mercadores do templo. No dia 21, na costumeira celebração da missa na casa de Santa Marta, Bergoglio, reagiu de novo duramente contra os vícios que se aninham na Igreja.
A denúncia fortíssima de Francisco não deixou de levantar polêmicas internas ao episcopado. Mas o pontífice não falou por acaso. Chegaram até ele relatos de algumas realidades e paróquias em que o comércio dos sacramentos e das missas era tão difundido a ponto de provocar os protestos dos fiéis.
Um episódio desse tipo, que remonta ao ano passado, tornou-se um pequeno caso. Em Villa Baggio, na província de Pistoia, Itália, o pároco tinha exposto na igreja uma folha com as tarifas para os sacramentos. Variava de 190 euros para o casamento a 90 euros para um batismo.
A esse ponto, um grupo de paroquianos rompeu a trégua e decidiu escrever ao papa. Não eram ofertas obrigatórias, mas apenas indicações genéricas, como depois o padre tentou explicar, de sua parte, negando ter disposto um tarifário.
Mas, certamente, não é o único caso. Ao contrário, ocorreu muitas vezes que a lista de preços para os sacramentos fixado em uma igreja depois acabou nos jornais. Nunca se trata de tarifas oficiais, muitas vezes o pedido é feito verbalmente, de modo informal, mas não raramente se trata de valores bastante onerosos.
Como aqueles denunciados em 2009 pelo bispo de Pozzuoli (província de Nápoles), Dom Gennaro Pascarella, que colocou claramente em um documento a proibição para os párocos da sua diocese de pedirem somas de dinheiro para casamentos (que chegavam até 500 euros) ou para crismas ou comunhões (250-300 euros).
O princípio, explicava-se naquele caso, é que as ofertas devem ser livres, deixadas à sensibilidade dos fiéis e de modo algum impostas ou determinadas com antecedência. De fato, o risco é o de transmitir a ideia de uma Igreja que tem uma relação equivocada com o dinheiro e com os bens materiais.
No entanto, também existem tarifários oficiais estabelecidos pelas dioceses, cujo objetivo deveria ser justamente o de evitar os abusos de paróquias e sacerdotes individuais. E, depois, as ofertas dos fiéis para as missas, em parte, ficam para o padre e, em parte, vão para o bispo.
No entanto, o Papa Francisco retratou uma situação extremamente realista: "Quando aqueles que estão no templo – disse –, sejam sacerdotes, leigos, secretários, se tornam negociantes, o povo se escandaliza. E nós somos responsáveis por isso". "Os leigos também, hein! – continuou –, todos. Porque, se eu vejo que na minha paróquia se faz isso, devo ter a coragem de dizer isso na cara do pároco. E as pessoas sofrem esse escândalo".
"É curioso – observou, depois, Bergoglio –, o povo de Deus sabe perdoar os seus padres quando eles têm uma fraqueza, quando escorregam em um pecado. Mas há duas coisas que o povo de Deus não pode perdoar: um padre apegado ao dinheiro e um padre que maltrata as pessoas. Não consegue perdoar!"
Francisco deu o exemplo, que remonta a quando ele era um sacerdote novato, de um casal de jovens que queria se casar "com a missa". O secretário paroquial, contou Bergoglio, "respondeu: 'Não, não: não se pode' – 'Mas por que não se pode com a missa? Se o Concílio recomenda fazê-lo sempre com a missa?' – 'Não, não se pode, porque mais de 20 minutos não se pode' – 'Mas por quê?' – 'Porque há outros turnos' – 'Mas nós queremos a missa!' – 'Então paguem dois turnos!'. E para se casar com a missa tiveram que pagar dois turnos. Esse é o pecado de escândalo".
Desse modo, disse o papa, a Igreja se tornou uma "casa de negócios".
Francisco também quis explicar o mérito da questão a partir do ponto de vista evangélico: "Mas por que Jesus se irrita com o dinheiro?". O fato é que, especificou o pontífice, "a redenção é gratuita; é a gratuidade total do amor de Deus que Jesus veio nos trazer".
"E quando a Igreja ou as igrejas – disse – tornam-se negociantes, diz-se que não é tão gratuita a salvação. É por isso que Jesus toma o chicote nas mãos para fazer esse rito de purificação no Templo."
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O papa, a simonia e as missas pagas. Quanto custa a salvação? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU