31 Janeiro 2018
O fracasso e a decepção na resposta da Igreja Católica ao abuso devem ser um impulso para reavaliar, mudar o foco e dedicar-se à melhoria e ampliação dos esforços na prevenção e na cura, disse o pesquisador no Centro para a Proteção de Menores de Roma.
O comentário é de Carol Glatz, publicado por Catholic News Service, 30-01-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Por exemplo, "as palavras infelizes do Papa Francisco — recebidas como um 'tapa' pelos que sofreram abuso — em sua recente visita ao Chile" levantam a questão: "há esperança de uma verdadeira mudança na Igreja?", escreveu Sara Boehk, membro da equipe do centro de pesquisa. Seu artigo foi publicado no blogue do centro — childprotection.unigre.it — em 26 de janeiro.
O centro, que faz parte da Pontifícia Universidade Gregoriana, fornece treinamento, formação e recursos educativos no campo da proteção de menores. Seu presidente é o jesuíta Pe. Hans Zollner, que foi membro da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores.
O comentário de Boehk — intitulado “Há esperança de uma verdadeira mudança na Igreja?" — foi publicado após a visita do Papa Francisco ao Chile, na qual ele disse aos repórteres que não tomaria nenhuma atitude contra um bispo chileno a menos que as acusações de ter encoberto casos de abuso fossem provadas; caso contrário, declarou, qualquer acusação de que o bispo Juan Barros, de Osorno, sabia ou testemunhou abusos cometidos por seu ex-mentor seria considerada "calúnia". Depois, o Papa pediu desculpas, dizendo que só depois percebeu que suas palavras davam a entender, erroneamente, que as acusações das vítimas são apenas plausíveis se houver provas concretas.
"Claro, sei que muitas pessoas que foram abusadas não podem provar (ou) não têm provas", disse ele a repórteres no voo papal do Peru para Roma, no dia 22 de janeiro. "Ou às vezes têm provas, mas têm vergonha, e escondem-nas e sofrem em silêncio. A tragédia do abusado é enorme”, disse.
Ao observar que o Papa Francisco se desculpou e "pediu perdão por causar uma ferida não intencional", Boehk escreveu que o Papa "admitiu ter falhado diante das expectativas das vítimas de abuso".
"Ainda que seja difícil reconhecer, parece inevitável que aqueles de quem mais esperamos algumas vezes nos desapontem", escreveu. "Nossos líderes são falhos; assim como nós. Tendemos a proteger nossos próprios interesses, a fechar nossos olhos e ouvidos ao sofrimento. Deixamos de agir; demoramos a nos responsabilizar".
Vendo "várias decepções" na Igreja — "palavras que ferem, más decisões, nomeações sem aconselhamento, esforços obstruídos, políticas inadequadas, modelos de formação ultrapassados —, podemos nos desesperar, acreditar que não temos entendimento enquanto Igreja", disse Boehk. "Diante de notícias desanimadoras, como podemos avançar? Como podemos trabalhar pela mudança institucional?"
"São Inácio de Loyola nos lembra de que teremos dificuldades enquanto vivermos, mas com esforço renovado vamos continuar e melhorar", escreveu.
O fracasso, portanto, torna-se "uma oportunidade de reavaliar onde estamos em nossos esforços de proteção, concentrar energias novamente e renovar o compromisso com os nossos objetivos".
Uma mudança real, segundo ela , é "uma longa e árdua jornada, e a mudança cultural na maior e mais antiga instituição deste mundo, a Igreja Católica, levará muitos anos, talvez uma geração ou mais".
"Fracassos ao longo do caminho são inevitáveis, mas podemos permitir que nos motivem rumo a esforços mais concentrados e consistentes, confiando eles e nós mesmos ao Senhor da salvação", escreveu Boehk.
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O fracasso traz oportunidade de melhorar os esforços de proteção, diz especialista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU