13 Dezembro 2017
Bill McCormick, SJ, entrevistou recentemente Paul Tighe, bispo, secretário do Pontifício Conselho para a Cultura do Vaticano para discutir o ministério digital da Igreja. A entrevista é publicada por The Jesuit Post, 10-12-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
John Allen recentemente disse que o senhor era o cara mais legal do Vaticano. Como chegou a essa reputação?
A reação da minha mãe foi ótima: "Se você é o mais legal, não quero conhecer os menos legais".
Quando as pessoas pensam na Cúria do Vaticano, a primeira coisa que vem à mente não é exatamente Twitter ou Instagram.
Pois é. Imagino que quando eu cheguei no Vaticano uma das coisas que não fazia ideia era do quão pequena é a sua realidade, a Santa Sé como realidade administrativa. Quando estávamos estudando teologia, líamos os documentos produzidos pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz, documentos sobre justiça econômica, e coisas do gênero. Depois, chega-se aqui e se percebe que são apenas 10 ou 15 pessoas.
Quando vim trabalhar aqui, nas comunicações, há 10 anos, eu não tinha uma bagagem sólida, nunca tinha estudado comunicações profissionalmente. Eu não era jornalista. Eu não tinha vindo da TV. Eu não tinha vindo do rádio.
Mas isso na verdade acabou se tornando uma qualidade, porque imediatamente olhamos para o mundo digital como o futuro. Talvez não soubéssemos sobre isso, mas ninguém sabia. Então não estávamos em desvantagem.
O próximo passo foi perceber que o que estava acontecendo com a revolução digital estava mudando radicalmente as comunicações. Quando digo que estava mudando radicalmente as comunicações, não digo tanto as tecnologias ou os instrumentos que se usa, mas o estilo de comunicação, porque as redes sociais demandam uma abordagem muito mais focada no participante e interativa. Privilegia estilos mais visuais de comunicação, fotografias, imagens e vídeo.
Nós também começamos a perceber que a forma como as conexões entre as pessoas funcionam foram radicalmente transformadas pelas redes sociais. Então, para as igrejas, não se trata apenas de como nos comunicamos com estas pessoas, mas como vamos estar presentes no ambiente em que vivem?
Depois, por outro lado, começamos a perceber que a comunicação digital estava afetando a maneira como as pessoas debatem política. Infelizmente, a tecnologia que parece estar conectada para nos aproximar, para nos ajudar a apreciar melhor a unidade da família humana, porque deixa o mundo menor, na verdade, em última análise, às vezes pode servir para radicalizar as diferenças existentes.
Afinal, por que a Igreja está envolvida com as redes sociais?
A Igreja sempre esteve engajada. Seja o que for que fazemos além disso, estamos aqui para comunicar. Não existimos sozinhos. Existimos para comunicar, e a mensagem que estamos aqui para comunicar não é nossa própria mensagem. É a mensagem de Cristo, que nos foi confiada.
As pessoas não se comunicam apenas para trocar informações, mas também para construir relacionamentos. As redes sociais uniram essas duas coisas muito mais. Hoje em dia, as pessoas aceitam as informações que vêm de pessoas em que confiam, que conhecem e de que gostam. Então, constroem relacionamentos com pessoas cujas informações demonstram-se seguras, confiáveis e úteis.
Ou seja, novamente, na Igreja estamos chamando as pessoas para relacionar-se o tempo todo. A mensagem de Cristo não é uma mensagem apenas para o crescimento intelectual. É uma mensagem que convida as pessoas a estabelecerem relações.
As redes sociais também destacaram que vivemos em diferentes conexões. Mas embora vivamos em ambientes diferentes, a maioria de nós, se déssemos um passo atrás e olhássemos para a nossa própria jornada religiosa, encontraríamos conexões.
Eu cresci em uma paróquia pequena, ligada a uma diocese, que me ligava a uma Igreja universal. Portanto, tive um sentimento normal, institucional pela Igreja. Ao mesmo tempo, frequentei uma escola de irmãs de Loretto, que foram quem enviou Madre Teresa de Calcutá à Índia, então, desde muito cedo ouvia histórias da Índia.
Mesmo num nível muito local, você estava sendo inserido em algo maior. O tempo todo, você pertencia a diferentes redes e essas diferentes redes, interligadas e sobrepostas, eram na verdade a fonte da nossa identidade católica.
Então, de qualquer forma, acho que o uso das redes sociais foi algo natural para a Igreja.
Como começou o Twitter do Vaticano?
O Papa Bento XVI disse, basicamente: "está dizendo que isso vai me permitir atingir pessoas que eu não atingiria de outra forma, com mensagens curtas de esperança, e não vai exigir tanto trabalho?" "Sim". "Então vamos lá. Não preciso de maiores explicações."
Atualmente, o Papa Francisco, que herdou esse Twitter, construiu algo em torno de 40 milhões de seguidores em plataformas de diferentes idiomas. Isso é importante, mas ainda mais importante é que o Twitter nos diz que temos um alcance muito elevado, e que as mensagens do Papa estão chegando a pessoas que não o seguem.
Por que o Papa Francisco se comunica tão bem na nossa cultura digital?
É uma sorte extraordinária, e não é só sorte, eu acho que é providencial, que tenhamos um Papa cujo estilo de comunicação é muito simples e muito direto. Vídeos bastante curtos capturam algo da essência da espontaneidade, do bom humor, do sorriso, da simplicidade, da generosidade. Somos muito abençoados neste momento de ter alguém que é muito visual em seu estilo de comunicação. Mas acho que ele ficaria muito decepcionado se não fosse além dele, para onde ele está tentando indicar para as pessoas, que é o Evangelho em si.
Então, uma das coisas que fica muito clara é que o que as pessoas veem é o que é de verdade. E acho que isso lembra a todos nós de recuperar uma certa autenticidade em termos de mídia digital, que sejamos vistos como pessoas que se preocupam com o outro.
A maioria das pessoas nas redes sociais pode estar tentando vender uma imagem ou convertê-lo a uma causa. Temos de estar lá com uma certa gratuidade. Estamos lá como próximos bondosos. Estamos lá para ouvir. Estamos lá para estar com as pessoas e, se possível, também queremos compartilhar os fundamentos da nossa fé com as pessoas, mas não bombardeando ou tentando bombardear, mas dizendo autenticamente: "Olha, consigo ter esperança porque tenho este sentido privilegiado de ser amado por Deus."
Qual é o papel dos leigos nas redes sociais?
Quando olho para o envolvimento dos católicos nas redes sociais, sobretudo no mundo anglófono, corremos o risco de focar nos nossos próprios debates internos.
Entendo as convicções fortes, e sendo irlandês também compreendo perfeitamente a vontade de uma boa briga de vez em quando. Mas ao mesmo tempo digamos que você não fosse crente e tivesse se deparado com isso. É algo que acharia prontamente enriquecedor para a vida? Você diria: "Nossa, eu adoraria participar desse grupo?”
Então, acho que outra coisa em que precisamos pensar mais é como, sem ser leviano ou superficial, encontramos uma forma de oferecer o testemunho da nossa fé de uma maneira vivificante e acolhedora para as outras pessoas?
No nosso mundo, não é cool falar sobre religião de forma explícita. Mas acho que o desafio para nós, mesmo assim, é encontrar uma maneira de responder às coisas que demonstre uma certa tolerância e compreensão que faça as pessoas perguntarem: "De onde vem a sua esperança?"
O que queremos encontrar é um desejo de apoiar as pessoas em vez de necessariamente um desejo de convertê-los para a nossa causa de alguma forma.
Com que práticas espirituais os católicos devem se envolver para manter sua presença nas redes sociais amorosa e esperançosa?
A primeira coisa é envolver-se com as plataformas que funcionam para você. Nem todo mundo tem que ser produtor de conteúdo, mas um trabalho muito útil, para quem é bom em encontrar materiais bons e úteis, compartilhar isso com as pessoas, sem ter que produzi-los. Algumas pessoas podem ser boas no Twitter, outras podem notar que o Twitter traz à tona o seu pior lado.
No lado mais espiritual, acho que passa por refletir sobre si próprio e ter autoconsciência nas redes sociais. De alguma forma, não se permitindo baixar o nível a ponto de uma discussão ruim.
Gostaria de encorajar leigos e católicos em geral para permanecerem envolvidos com as redes sociais. Alguns podem dizer que é um ambiente negativo, que há muitos comentários repulsivos, muitas relações difíceis com as pessoas. Mas assim nós abandonaríamos essa área e deixaríamos o monstro tomar conta.
A chave é como estar lá sem estar totalmente compartilhando da mesma cultura. Às vezes as pessoas culpam a cultura das redes sociais, dizendo que "fiz isso por causa do Twitter. Não sou assim na verdade."
Mas é preciso dizer não. A cultura das redes sociais é gerada pelo que os indivíduos fazem, e temos que trabalhar juntos e encorajar uns aos outros para apoiar uma forma de comunicação melhor.
Se alguém está prestando atenção no que eu estou dizendo, nas coisas em que estou envolvido e na ferramenta através da qual eu me envolvo com as coisas, eles veem alguém que tem mostrado sinais de redenção pelo amor de Cristo ou alguém que parece nervoso e irritado, e não abençoado?
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O Guru das Redes Sociais do Papa Francisco: uma entrevista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU