31 Março 2013
A mídia digital empodera pessoas na escolha religiosa, no desenvolvimento de “crentes” autônomos, disse o professor Stewart Hoover, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos. Autoridades eclesiais perderam o controle sobre os símbolos religiosos e têm dificuldades de encontrar modelos para divulgá-los, ao contrário da mídia.
A reportagem é de Edelberto Behs e publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação - ALC, 27-03-2013.
Tratados como campos separados até os anos 60 do século passado, mídia e religião passaram a convergir, apontou Hoover em palestra para alunos de Jornalismo, proferida ontem na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Hoje, pesquisadores voltam seus olhares para o fenômeno da religião digital.
As tecnologias digitais, explicou o diretor do Centro para a Mídia, Religião e Cultura, são o espaço específico onde a religião está sendo modificada, trazendo autonomia pessoal, provocando o declínio da autoridade religiosa, transformando a lógica estética da própria mídia e gerando culturas digitais.
Nesse novo espaço as igrejas históricas têm pouco a fazer. Elas existem num mercado competitivo e encontrarão novas plateias se abrirem mão de sua essência teológica, perdendo, assim, sua identidade. “O frame da mídia é que determina quem fará sucesso no mercado”, disse.
O espectro religioso passa por tremenda transformação, anotou o professor. A cantora pop norte-americana Madonna usando crucifixos em suas apresentações seria inconcebível e até mesmo intolerável há 50 anos. Hoje, essa apropriação está fora do controle da autoridade religiosa. As pessoas não aceitam mais que padres e pastores lhes digam como e em quem devem acreditar.
A própria mídia passou por mudanças no período. “Ela está mais autônoma, mais comercial, mais competitiva e ganhou mais poder. Ela está em toda a parte e inclusive fornece subsídios para quem busca o religioso”, afirmou Hoover.
Um dos objetos de pesquisa desenvolvida do Centro para a Mídia, Religião e Cultura é o site PostSecret, apontado pelo palestrante como exemplo de mídia digital que favorece a autonomia dos internautas, desenvolvendo uma nova forma de prática simbólica.
O site nasceu da experiência de Frank Warren. Ele pediu às pessoas que escrevessem cartões postais anônimos neles contando algum segredo. A recepção foi tal que Warren decidiu abrir esse espaço na internet. Na atualidade, ele posta 30 desses “cartões” por semana no site que tem 4,1 milhões de visitantes exclusivos. Post Secret, definiu Hoover, é um projeto de arte pública, mas também um fórum para o discurso crítico e de resistência à religião. “Deus, gostaria que você sentisse falta de mim assim como eu sinto falta de você”, é uma dessas mensagens anônimas postadas no PostSecret.
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Mídia digital motiva “crentes” autônomos, diz pesquisador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU