Por: João Flores da Cunha | 03 Setembro 2016
Um estudo sobre a interface entre a religião e as novas tecnologias comunicacionais. Esse foi o tema da conferência "E o Verbo se fez rede": religiosidades em reconstrução no ambiente digital, em que Moisés Sbardelotto, mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela Unisinos, apresentou parte dos resultados de sua pesquisa de doutorado. A palestra faz parte do evento IHU Ideias.
Uma questão norteadora da pesquisa de Sbardelotto era: “O que acontece com o catolicismo quando ele se conecta em rede?”. Ele iniciou sua análise a partir do primeiro tuíte de um papa, escrito em dezembro de 2012 por Joseph Ratzinger. O hoje papa emérito Bento XVI não tinha intimidade com as novas tecnologias; de fato, Ratzinger sempre escrevia a lápis, e seus assessores transcreviam – ou seja, ele não usava sequer máquina de escrever.
O Vaticano ingressou no Twitter por meio da conta @Pontifex – pontífice, em latim. Por trás dessa tentativa, havia um contexto de uma “Igreja bimilenar que fazia um lento esforço de aproximação com as novas tecnologias”, segundo Sbardelotto.
Uma das curiosidades sobre a conta do papa no Twitter é que ele não segue outras pessoas – “para evitar problemas políticos e diplomáticos institucionais”, de acordo com Sbardelotto. Após o fim do pontificado de Bento XVI, o primeiro tuíte de Ratzinger foi deletado da conta, assim como todos os postados por ele. Hoje, eles estão disponíveis em um arquivo na página News.va.
O Twitter também foi importante na transição entre Ratzinger e o atual papa: a notícia de sua renúncia foi dada pela primeira vez por meio dessa rede social. O furo jornalístico foi de Giovanna Chirri, da Ansa, agência de notícias italiana. Ela estava acompanhando a reunião em que Ratzinger comunicou sua decisão, e, por entender latim, compreendeu o que se passava e publicou uma mensagem informando que Bento XVI havia renunciado e deixaria o pontificado no dia 28-02-2013.
B16 si e' dimesso. Lascia pontificato dal 28 febbraio
— Giovanna Chirri (@GiovannaChirri) 11 de fevereiro de 2013
Mais recentemente, em março de 2016, o papa Francisco lançou uma conta no Instagram: @Franciscus. Ele já conta com mais de 3 milhões de seguidores.
Em sua apresentação, Sbardelotto mostrou a evolução na construção da imagem do papa Francisco, que passa a mostrá-lo cada vez mais em meio aos fiéis.
Sbardelotto mostra conta do papa Francisco no Instagram (Foto: João Flores da Cunha)
Um dos grandes desafios na aproximação do Vaticano com as novas redes é a “proximidade” e a “quebra de barreiras associadas à institucionalidade da Igreja”, de acordo com Sbardelotto. Se tradicionalmente a fala do papa se dava de forma unidirecional, hoje, a partir do momento em que ele envia sua mensagem, seja pelo Twitter ou pelo Instagram, a Igreja perde o controle sobre essa mensagem.
O pesquisador sugere que “não podemos mais pensar o catolicismo sem considerar as interações que ocorrem nas redes”. Sbardelotto falou no “surgimento de novas formas de percepção, experiência e expressão contemporâneas do religioso católico” – para além das contas oficiais do Vaticano.
Uma dessas formas é o grupo Diversidade Católica, de católicos LGBT, uma “minoria periférica” dentre os membros da religião, de acordo com ele. Esse fenômeno surge no contexto de uma possibilidade de reconstrução dos discursos católicos que é dada a partir do surgimento das mídias sociais, segundo o pesquisador.
Moisés Sbardelotto é graduado em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, e mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, com estágio doutoral na Università di Roma "La Sapienza", na Itália. Autor de E o Verbo se fez bit: A comunicação e a experiência religiosas na internet (São Paulo: Santuário, 2012). Foi membro da Comissão Especial para o Diretório de Comunicação para a Igreja no Brasil, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB. Entre 2008 e 2012, trabalhou no Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
@Franciscus, o papa no Instagram. Uma breve análise comunicacional
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Os novos processos midiáticos e a circulação do “católico” nas redes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU