06 Setembro 2017
Eis uma história cujas partes são tão intrigantes quanto o enredo do livro “Conclave”, best-seller de Robert Harris que cria uma eleição papal fictícia.
É que surgiu a notícia de que o Cardeal Cormac Murphy-O’Connor, arcebispo emérito de Westminster falecido semana passada, interveio no último conclave para garantir que o seu amigo se elegesse Papa Francisco.
A reportagem é de Robert Mendick, publicada por The Telegraph, 03-09-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Nos dias anteriores à votação de 2013, Murphy-O’Connor ajudou a organizar uma recepção na embaixada inglesa em Roma para fazer lobby em apoio ao Cardeal Bergoglio, o então arcebispo progressista de Buenos Aires.
Segundo um livro recém-lançado, Murphy-O’Connor convidou cardeais da comunidade das nações (Commonwealth), mas deliberadamente deixou fora da lista de convidados dois clérigos poderosos e conservadores: o Cardeal Ouellet, canadense, que era um dos concorrentes, e o Cardeal Pell, da Austrália.
O plano, que deu certo, era persuadir os cardeais da necessidade de um papa progressista sem a interferência de grandes conservadores.
O livro de Catherine Pepinster, ex-editora da revista The Tablet, detalha como os funcionários da embaixada deixaram a sala para dar a Murphy-O’Connor tempo para persuadir os cardeais sobre a importância de votar em Bergoglio.
Murphy-O’Connor ficou consternado quando o Papa Bento XVI se elegeu no conclave anterior. Dessa vez, ele esteve determinado a evitar um outro papa conservador.
Pepinster, cujo livro “The Keys and The Kingdom: Britain and the Papacy from John Paul II to Francis” será publicado no próximo mês, disse: “O Cardeal Cormac Murphy-O’Connor foi um homem querido, genial, mas debaixo de seu exterior jovial havia um homem de grande sagacidade, que conhecia exatamente como o Vaticano funcionava”.
“E esta sagacidade fez com que garantisse que seu amigo se elegesse Papa Francisco – um papa que vem tendo um impacto enorme na Igreja Católica e no mundo. Na história, houve criadores de reis; Cormac Murphy-O’Connor acabou sendo o criador de um papa”.
O Papa Francisco elegeu-se em 13-03-2013, segundo dia de conclave, na quinta votação. Ele precisava de dois terços dos 115 votos para vencer. Pensa-se que os votos conseguidos por Murphy-O’Connor foram decisivos. Os dois tornaram-se amigos próximos depois de se encontrar pela primeira no consistório em que foram feitos cardeais pelo Papa João Paulo II.
Em 2013, Murphy-O’Connor já estava velho demais para votar segundo as regras do Vaticano, mesmo assim viajou a Roma, como muitos outros cardeais idosos não eleitores, para participar das conversas, chamadas “congregações gerais”, antes do conclave.
Logo após ser elevado, ouviu-se o Papa Francisco dizer a Murphy-O’Connor: “Tu sei il colpevole”, ou seja, “a culpa é sua”.
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Revelado: como cardeal inglês preparou o Conclave para o seu amigo Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU